Girl Gamer. Um evento de videojogos só para jogadorAs

Iniciativa está a decorrer, até dia 22, no Casino Estoril.

Por Vanessa Vieira Dias

O Salão Preto e Prata do Casino Estoril está a meia luz para dar destaque aos brilhos néon que enquadram um palco diferente do habitual. Desta vez, não há um cantor, um humorista ou bailarinos, mas sim duas equipas de ESports totalmente femininas.

É assim que é dado o pontapé de saída ao fim de semana de torneios do Girl Gamer, um festival internacional de ESports que pretende “celebrar e promover a competição feminina” nas modalidades competitivas dos videojogos.

Na segunda edição deste evento, que começou em Macau com organização da Grow Up ESports (uma organização nacional, sem fins lucrativos, com mais de 15 anos), Portugal foi a localização escolhida para três dias de celebração do mote ‘Videojogo, disse Ela’. Na passada sexta-feira houve palestras sobre o tema e o fim de semana será recheado de partidas na disputa pela desejada final do torneio. Haverá ainda espaço para momentos de ioga e pilates nos jardins do Casino antes do evento terminar.

“Esperamos mais de mil pessoas, mas não estamos à espera de demasiadas pessoas, já que este é um espetáculo feito principalmente para ser transmitido”, explica Fernando Pereira, um dos responsáveis pela criação e organização do evento. Conta-nos que o Girl Gamer está a ser transmitido além-fronteiras, graças à parceria com o gigante Alibaba Cloud, que ajuda a fazer a redistribuição do sinal. “Neste momento estamos na página principal do Youku, que é o YouTube chinês, na página principal da Twitch, a passar na GINX TV, que também passam na televisão em vários canais, e no Mixer, a plataforma da Microsoft”, revela.

As jogadores

Oito equipas disputam o primeiro lugar em dois dos jogos mais populares do mundo dos videojogos, League of Legends e CS:GO. Todas são compostas por mulheres, todas jogam a um nível profissional, todas são fãs de videojogos.

“Jogo competitivamente há três anos. Costumo jogar cinco a oito horas por dia, todos os dias”, explica Nicole ‘Wolf’ Solvmose, jogadora dinamarquesa de 20 anos e membro da equipa ASUS ROG Army. Equilibra os ESports com os estudos e, neste momento, com um trabalho de verão que tem como empregada de mesa.

“A parte mais difícil é mesmo gerir o tempo e a pressão. Costumo chegar a casa do trabalho e ir logo jogar. Acaba por ser outro trabalho”

Nicole ‘Wolf’ Solvmose, jogadora dinamarquesa de 20 anos

Não resistimos a perguntar qual será, então, o que a motiva a tudo isto. “Conhecer todas estas pessoas maravilhosas e competir”, revela antes de ser chamada para uma sessão de treino com as restantes companheiras, na antecipação da partida que disputará mais tarde.

Também Sara “Paleolite” Jakobsen, membro da equipa profissional exceL ESports, faz das madrugadas as horas de treino. Joga videojogos desde 2015, este é o seu segundo grande evento competitivo e, no futuro, quer ser médica. “Na [área feminina dos ESports], o maior desafio foi conseguir ter a menor quantidade de drama possível e manter o espírito da equipa lá em cima”, conta-nos enquanto partilha que adora as colegas de equipa, com quem já joga há um ano.

Uma questão de género?

As questões de género, desigualdade e discriminação são tema recorrente nos videojogos. “Ser uma mulher nos ESports é diferente. É preciso ter cuidado e desenvolver uma postura forte para poder ignorar comentários e não dar importância a isso”, explica Nicole ‘Wolf’ Solvmose. “Mas já não ligo a nada disso. Acredito em mim e isso chega”.

O evento é aberto a todos os fãs de videojogos, mas conta apenas com equipas femininas. “Queremos criar uma plataforma que incentive a participação feminina”, explica Fernando que pretende que o evento ajude a quebrar barreiras de género na área do ESports. O objetivo final, diz, é que esta plataforma seja um incentivo para que as equipas possam ser mistas e a participação feminina aumente “sem barreiras”.

Atualmente, e apesar de não existirem regras que ditem que as equipas têm que ser totalmente masculinas ou femininas, 90% das mesmas são compostas somente por homens – ainda que, e de acordo com dados da Nielsen, 30% dos jogadores de ESports sejam mulheres.

“Acho que a principal diferença [entre jogadores e jogadoras no ESports] são as condições. A equipa masculina que giro faz disto um trabalho a tempo inteiro. Já a as mulheres têm de balançar mais coisas (jogos, trabalho, casa), ao mesmo tempo que tentam tornar-se revelantes na área competitiva”

Amy “Aphiren” Snowdon, manager das equipas feminina e masculina da exceL ESports


O futuro

Traça-se atualmente o caminho para uma nova era no ESports, na qual, e de acordo com a maioria das principais figuras da área, as equipas passarão a ser mistas. “No futuro, o debate não será acerca de se se é um jogador ou jogadora, mas, sim, se se é um bom jogador ou não”, defende Baraa Abdulla, produtor do programa de videojogos ‘vg55bh’, emitido num dos canais internacionais da televisão do Barém, Golfo Pérsico, e um dos apresentadores do evento.

Até lá, os fãs poderão contar com uma terceira edição do Girl Gamer, já confirmada pela organização ao DN Insider. A localização ainda está no segredo dos deuses, mas o evento arrumará os comandos e teclados para viajar até uma localização fora da Europa.