A prioridade digital dos CTT, uma antiga «startup» com 498 anos

REUTERS/Rafael Marchante

Na semana em que os CTT cumprem 498 anos de ‘vida’, falámos com o diretor de marca e comunicação da empresa sobre as inovações do passado e os projetos digitais para o futuro desta “startup” de outros tempos.

A entrega de correio em Portugal começou, de forma organizada, em 1520. A empresa que hoje conhecemos como CTT – Correios de Portugal cumpriu esta semana os seus primeiros 498 anos (faz em 2020 os 500). Foi nessa altura que o rei D. Manuel I criou o primeiro serviço de correio público no país. Dotada de autonomia administrativa e financeira desde 1911, a empresa foi transformada em sociedade anónima em 1992. Foi há três anos que começou o processo de privatização da empresa que tem como principal acionista o grupo Champalimaud.

Atualmente os CTT são o operador postal universal em Portugal e também têm presença em Espanha e Moçambique. Além da atividade de correio, de expresso e encomendas fornecem ainda serviços financeiros (com o Banco CTT).

Miguel Salema Garção, Diretor de Marca e Comunicação dos CTT, explicou à Insider / Dinheiro Vivo, a forma como a empresa que foi, na sua época, uma inovação possível graças às novas formas de transporte, e quais os planos futuros nesta nova era digital.

De que forma os CTT foram fruto de uma inovação tecnológica quando nasceram há quase 500 anos?
Os CTT, que celebram este ano o 498.º aniversário, foram eles próprios uma startup, fruto de uma nova necessidade do mercado: a de comunicar de forma mais rápida e estruturada. Em 1520 a inovação do correio chega a Portugal, quando D. Manuel I confiou a carta régia no Palácio das Damas, em Évora, ao primeiro correio-mor. Nos últimos 500 anos acompanhámos todas as revoluções industriais: do automóvel, pela revolução das comunicações e várias outras revoluções tecnológicas.

Em cada um destes momentos houve saltos significativos de inovação e mudanças profundas na forma de trabalhar dos CTT, desde o transporte do correio por via ferroviária no final do século XIX (e mais tarde rodoviária), que veio encurtar distâncias e permitir processos mais eficientes, passando pelo desenvolvimento das telecomunicações em Portugal, que alterou radicalmente o papel do correio na sociedade entre o final do século XIX e início do século XX, e chegando à automatização do tratamento do correio e informatização da sua atividade no final do século XX. No final da década de 1970, a implementação do código postal e a informatização das lojas dos CTT são marcos fundamentais e que alteraram profundamente a distribuição de correio em Portugal.

Neste momento vivemos mais uma revolução, a quarta revolução industrial (indústria 4.0), assente na ponte entre o mundo digital e o mundo físico e em fenómenos como a robotização, a internet das coisas e o big data. A diferença entre esta revolução e as anteriores é a muito maior velocidade a que ocorrem as mudanças mas, tal como nas revoluções anteriores, os CTT estão a acompanhar esta mudança. A inovação faz parte do ADN dos CTT.

O que está a ser estudado para o futuro da empresa nesta nova era digital?
Encaramos os desafios da transformação digital como oportunidades de negócio. Temos vindo, por isso, a transformar a nossa operação, adaptando-a à nova realidade dos correios e ao crescimento do comércio eletrónico, com a aposta em serviços digitais e na automatização e robotização a nível logístico, apoiados na maior frota elétrica do País e tendo em atenção a redução da nossa pegada carbónica. Vamos continuar a inovar, mantendo sempre a qualidade de serviço ao cliente.

De que forma os CTT estão a lidar com o mundo cada vez mais digital em que os correios tradicionais perdem terreno?
A digitalização é uma tendência a nível global. Apesar da atividade tradicional de correio ainda ter um peso expressivo nas receitas temos vindo a implementar uma estratégia de diversificação do negócio, apostando em dois pilares de crescimento fundamentais: o Expresso & Encomendas e Banco CTT.

No Expresso & Encomendas somos líderes de mercado, temos lançado serviços inovadores (e-Segue, Express2Me ou Parcel Lockers, no e-commerce) e anunciámos uma importante parceria para a criação de um marketplace, o Dott. O Banco CTT tem vindo a consolidar a sua posição nos últimos dois anos, com ofertas competitivas no crédito à habitação e automóvel e ferramentas digitais criadas para o benefício dos clientes, 40% dos quais são millennials.

Continuamos também a implementar o Plano de Transformação, que inclui significativos investimentos e visa a melhoria da eficiência e qualidade de serviço do negócio postal, assegurando o Serviço Postal Universal numa altura em que se regista uma quebra continuada nos volumes de correspondência.

Que tipo de serviços vê com maior importância na empresa daqui a 10 anos?
O setor postal está em constante evolução pelo que é impossível prever com rigor para onde caminharão os novos serviços. O que é certo é que os CTT continuarão a apostar na digitalização, na inovação, na robotização e automatização, incorporando nos processos e serviços as novas ferramentas tecnológicas (como, atualmente, a internet das coisas ou o big data), acompanhando as novas revoluções tecnológicas que possam surgir, para oferecer um serviço de excelência aos nossos clientes.