A japonesa Muji é conhecida em Portugal por vender produtos para a casa, mas no Japão também vende casas inteiras simples, low cost, práticas, zen e inspiradas na natureza. Fomos tentar perceber este conceito japonês com ajuda de um dos seus designers, Naoto Fukasawa.
Casas de madeira há muitas. Nos países nórdicos elas proliferam um pouco por todo o lado. A marca japonesa Muji é conhecida pelo design, com o lema “zen comercial”, e pelos acessórios, roupa e produtos para a casa que vende um pouco por todo o mundo. Mas, no Japão, também vende casas de dois tipos, as Muji Huts, pré-fabricados colocados em qualquer tipo de terreno, e as Muji Home, casas mais robustas e complexas que necessitam de espaço dedicado e licenças.
Ambas usam um misto de madeira, cortiça, alumínio e outros materiais e têm como objetivo serem altamente personalizáveis, ao gosto e preferências dos seus futuros habitantes, serem simples, mantendo um espírito zen e perfeitamente integradas com a natureza e serem tecnologicamente modernas, mas com preços acessíveis.
Falámos recentemente com Naoto Fukasawa um dos designers mais influentes do mundo, a propósito do lançamento, na Finlândia, do primeiro autocarro autónomo que circula em todo o tipo de condições climatéricas do mundo, o Gacha. “Somos uma empresa que vive o design e estamos em projetos como estes das casas ou do novo autocarro autónomo para tentar criar novas soluções de habitação e mobilidade e reinventar conceitos tradicionais”. O japonês Fukasawa é o principal designer da Muji e assenta o projeto das casas “na filosofia de paz e simplicidade”.
O designer de 63 anos tem trabalhos expostos no museu MoMA de Nova Iorque precisamente dentro da área do design na tecnologia – está lá a sua parede com leitor de CDs imbutida (de 1999, antes da era do streaming de música) – e admitiu-nos, na Finlândia, no lançamento do Gacha, que a Muji não faz projetos como o das casas ou do autocarro autónomo “a pensar em fazer dinheiro”.
“Ambos são projetos onde tentamos, através do design aliado à nossa filosofia zen e às tecnologias disponíveis, criar soluções moldáveis e personalizáveis para trazer algo novo e útil às pessoas”, diz Fukasawa, indicando que são projetos vão além do principal negócio e fazem parte da política da empresa de servir a comunidade japonesa onde está inserida, com preços baixos para devolver algo à comunidade.
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Muji Huts, desde 24 mil euros
As Muji Huts (veja mais na fotogaleria) são vendidas, para já, apenas no Japão sem previsão de uma expansão para a Europa, embora Fukasawa admita que países onde surja o interesse podem ponderar fazer testes. São vendidas cerca de 100 por ano, por 3.000.000 de ienes, cerca de 23.844€. As cabanas podem ser instaladas em campos ou zonas onde não é necessário uma autorização para construir. Pode-se escolher de alguns modelos disponíveis, mas também personalizar ao gosto de cada um.
A Muji começou a construí-las em 2004, com o conceito de caixa vazia e altamente personalizável. Há um site (japonês) onde os interessados podem editar a sua casa, entre três tipos principais: Casa de Madeira, Casa de Janelas e a Casa Vertical.
O que as distingue é o conceito de serem casas de uma divisão, mas modulares e altamente eficientes, que podem ser inseridas em ambientes urbanos, mas manter uma ligação à natureza e uma simplicidade zen. Nas maiores lojas da Muji no Japão, existem exemplos de casas dentro do espaço, para que possam ser analisas e compradas na hora. Nos últimos anos têm acrescentado funcionalidades às casas, tornando-as numa espécie de organismo vivo.
“Muitos pensam que um espaço pequeno, de uma divisão, seria frágil e minimalista na oferta que tem, mas o que chamamos de cabanas não são minimalistas em funcionalidade, há um investimento na estrutura modular reforçada e traz um estilo de vida eficiente a trazer conforto e a maximizar o ambiente exterior e natural, tudo é aproveitado”. Fukasawa fala com carinho do projeto que usa isolamento duplo e tecnologia japonesa recente para manter a temperatura uniforme na casa, sem desperdiçar energia e o mais sustentável possível, respeitando os valores arquitetónicos tradicionais japoneses. As chamadas Muji Hut são mesmo as casas de madeira ao estilo antigo japonês mais procurado no Japão.
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Muji Homes, editáveis ao pormenor
Depois das Huts, a Muji começou a alargar o espectro e a oferecer também casas maiores, as Home, que já precisam de um terreno com autorizações. O conceito é o mesmo, mas há ainda mais personalização, mais divisões e soluções para integrar as tecnologias atuais num espaço simples e sempre respeitando a filosofia zen da empresa.
Neste caso usa-se também o conceito de “casas passivas”, em que a Muji avalia o ambiente em que a casa vai estar integrada, seja na cidade ou no campo, e faz o design respetivo, escolhendo ângulos de colocação do projeto e a instalação das janelas ou colocação de pequenas árvores, consoante a luminosidade e contexto do local. Nada é deixado ao acaso. Os preços variam consoante as escolhas. Mas todas as casas respeitam o tal estilo zen, que a Muji também chama Compact Life.
O conceito surge numa altura em que a economia japonesa cresceu rapidamente e já se desfrutava de uma grande riqueza material, com as necessidades quotidianas aparentemente já satisfeitas. “Mas as pessoas já estavam saturadas dessa riqueza material e o nosso conceito é uma espécie de regresso às nossas origens, interligação com o ambiente, mas ao mesmo tempo capitalizamos “tudo de bom que a tecnologia traz à sociedade atual, mas simplificando a vida o máximo possível”, explica Fukasawa.
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