Google oficializa “supremacia quântica” que entusiasma cientistas. IBM duvida

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Fonte: Pixabay

A Google divulgou agora oficialmente mais dados sobre a experiência feita que levou a uma “supremacia quântica”, que voltou a ser contestada pela IBM.

A notícia já tinha surgido há algumas semanas (falámos inclusive com um especialista português sobre esse marco na computação quântica que pode ler aqui), mas só agora se tornou oficial. A experiência com o processador quântico Sycamore, cuja informação foi publicada esta quarta-feira na revista científica Nature, a Google reivindicou ter conseguido realizar em três minutos e 20 um cálculo matemático de elevada complexidade que um supercomputador convencional demoraria 10.000 anos a fazer.

“A aceleração quântica é possível num sistema do mundo real e não é impedida por leis físicas ocultas”, refere o artigo sobre a experiência da Google.

O gigante da informática IBM contestou de seguida, como já tinha acontecido há umas semanas, a supremacia quântica reivindicada pela Google, considerando que subestimou o seu supercomputador convencional Summit, que poderia fazer o cálculo em dois dias e meio. O Summit foi desenvolvido pela IBM e está localizado no Laboratório Nacional de Oak Ridge, no estado norte-americano do Tennessee.

(O vídeo-explicativo da Google)

Mas especialistas como John Preskill, professor da Universidade de Tecnologia da Califórnia (CalTech) que cunhou o termo supremacia quântica reconhecem o avanço que representa a experiência da Google.

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“O marco da supremacia quântica, supostamente alcançado pela Google, é um passo fundamental na procura por computadores quânticos práticos”, disse Preskill, citado por agências internacionais, considerando, no entanto, que os efeitos da computação quântica na sociedade “ainda estejam a décadas de distância” e que o cálculo desenvolvido pela Google tem pouco uso prático.

No tal artigo publicado na revista Nature, William D. Oliver, membro do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação e Física do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), compara o anúncio da Google com o voo do primeiro avião dos irmãos Wright na primeira década do século XX. “O avião deles não foi o primeiro veículo aéreo que voou (…) o que eles conseguiram é lembrado, isso sim, por ter demonstrado um novo regime operacional: o voo autopropulsionado por um avião mais pesado que o ar. É isso este acontecimento agora representa, é o primeiro relato de supremacia quântica.”

A computação quântica assenta no conceito de qubit (quantum bit), por oposição ao bit que é a unidade básica do sistema binário em que assentam os computadores atuais.

Segundo a física quântica, ao contrário de um bit clássico, que está no estado zero ou no estado um, um qubit pode estar no estado zero e um ao mesmo tempo, o que representa um aumento exponencial da capacidade processamento de dados.

A comunidade quântica agora precisará de algum tempo para analisar o que a Google já apresenta oficialmente e que a IBM refutou, como nos explicava Yasser Omar, um investigador português de origem indiana do Instituto de Telecomunicações e do Instituto Superior Técnico e que é membro do grupo internacional Physics of Information and Quantum Technologies.

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