Foi a 24 de dezembro de 1968 que, durante a missão Apollo 8, o astronauta Bill Anders tirou aquela que é considerada uma das mais influentes fotografias alguma vez tirada. Esta é a história que levou à famosa fotografia que acabou por ser acidental.
O ano de 1968 foi tão problemático quanto especial para alguns habitantes do Planeta Terra. Desde o início desse ano foi um período negro na guerra do Vietnam, numa só ofensiva militar morrerem 35 mil americanos e vietnamitas. Esse também foi o ano do assassinato de Martin Luther King e, de seguida, de Bobby Kennedy, irmão do também já falecido John F. Kennedy. Já após o verão, os tanques do exército soviético invadiram a Checoslováquia e uma convenção dos Democratas nos EUA acabou em violência.
Daí que a poucos dias do fim do ano, a missão Apollo 8 viria a tornar-se poesia num conjunto de 365 dias complicados na Terra. A 21 de dezembro Frank Borman, Jim Lovell e Bill Anders partiram num foguetão para longe da confusão e conflitos que se viviam na Terra. O destino? A Lua.
Só chegaram à órbita lunar precisamente na véspera de Natal e tornaram-se, assim, os primeiros humanos a chegar a fazerem a órbita do nosso vizinho celestial, isto antes alguns meses antes da Apollo 11 e de Neil Armstrong terem postos os pés na Lua (a 20 de julho de 1969).
Foi durante a oitava de 10 órbitas que fizeram à Lua, que apontaram uma câmara de televisão por uma das suas cinco janelas e mostraram a uma audiência de mil milhões de seres humanos (quase uma em cada três pessoas vivas), todos lá em baixo, na Terra, a superfície rugosa lunar. Foram lidas passagens do livro de Génesis, da Bíblia, com o início de “No início, Deus criou o céu e a Terra”.
Mas o que ficou para a história na missão, além de ter permitido que a Apollo 11 tenha posto, uns meses depois, um homem na Lua, foi uma fotografia. Ficou conhecida como Nascer da Terra e mostra o planeta Terra sob a perspectiva lunar, onde se vê um pouco da superfície lunar – como se fosse tirada de um quarto na Lua.
Pela tarde, já depois de uma manhã de emissão televisiva histórica, os astronautas continuavam as suas observações. Já depois de tirar uma foto semelhante e a preto e branco, Bill Anders viu o momento perfeito através da janela. Usando uma câmara Hasselblad 500 EL altamente modificada e uma película de 70mm a cor, fez a famosa fotografia, repleta de significado. Tudo aconteceu pelas 16h (hora portuguesa) de dia 24 de dezembro de 1968 e há um registo peculiar da conversa entre os tripulantes durante esse momento:
Anders: Oh meu Deus! Olhem esta imagem incrível (que se via pela janela)! A Terra estão a nasceu ali. Wow, é bem bonito.
Borman: Hey, não faças essa fotografia, não está prevista (em tom de brincadeira).
Anders: (rindo-se) Tens a película a cor, Jim? Dá-me o rolo a cor, por favor…
Lovell: Oh pá, que imagem incrível!
A imagem chegou a ser selo de correios a partir de 1969 e tem sido reproduzida por meios de comunicação ao longo das décadas e, já na era da internet, continua tão popular quanto foi. Foi eleita uma das 100 fotografias que mudaram o mundo pela revista Life e um dos fotógrafos de natureza mais importante, Galen Rowell, considerou-a “a fotografia ambiental mais influente alguma vez tirada”. Há muitos que a consideram o início do movimento ambiental. Já em outubro de 2018 um grupo de trabalho que dá nomes aos sistemas planetários deu o nome de ‘O Nascer da Terra de Anders’ a uma das maiores crateras da Lua.
Em 2013 a NASA lançou um vídeo sobre o dia em que a fotografia foi tirada e melhorou digitalmente vários dos registos recolhidos e criou, assim, um vídeo onde inclui o registo audio da conversa daqueles que foram os primeiros humanos a ver um nascer da Terra a partir da Lua.
Pode ler aqui o relatório oficial da missão Apollo 8.