Em outubro de 2008, os suecos Daniel Ek e Martin Lorentzon fundavam um serviço de streaming de música, chamado Spotify. Em fevereiro de 2013, era tempo de o serviço chegar a Portugal. Milhões de subscritores depois, o que é que o Spotify veio mudar na indústria musical?
Em dez anos, o catálogo do Spotify cresceu, gerou muitas discórdias sobre pagamentos de direitos de autor, bateu recordes de músicas ouvidas e a empresa sueca até passou a ser cotada em bolsa. Mas a principal mudança que o Spotify trouxe reside numa única palavra: pirataria.
Segundo um estudo feito este ano no Reino Unido, pela YouGov, 10% dos britânicos inquiridos faziam downloads ilegais de música. A percentagem pode parecer considerável, mas é uma clara evolução desde os 18% registados em 2013.
Curiosamente, a fundação do Spotify também surge na sequência de pirataria, embora com diferentes contornos. Quando o Napster encerrou, em 2002, e rapidamente foi substituído por outra opção na pirataria, Daniel Ek teve a ideia de criar uma alternativa que conseguisse superar a pirataria: “a única forma de resolver o problema era criar um serviço que fosse melhor do que a pirataria e que, ao mesmo tempo, compensasse a indústria musical – e isso deu-nos o Spotify”, já disse o empreendedor sueco, em várias entrevistas.
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A lógica de ouvir música já não é a mesma: passou-se de posse para uso. À distância de uma ligação à Internet e da aplicação ou versão desktop do Spotify, tornou-se possível ter acesso a milhões de músicas, sem ser preciso fazer downloads. Quem é que não se lembra, no início dos anos 2000, de software para fazer downloads ilegais que normalmente acrescentava uma dose de malware à equação?
O Spotify veio ajudar a abrandar isso, mas também trouxe outras doses de polémica.
A estreia em bolsa e a concorrência
Em abril deste ano, o serviço sueco fazia a estreia em bolsa, com uma entrada direta na bolsa de Nova Iorque e ações a subir quase 30%. Naquela data, a estreia do Spotify foi a terceira maior entrada em bolsa de sempre do setor tecnológico, ultrapassada apenas pela Alibaba e pelo Facebook.
Mas há outra questão a ter em conta no orçamento do Spotify: a maior fatia do bolo de utilizadores do serviço corresponde a quem não paga pelo serviço. Dos números apresentados em julho, 83 milhões dos utilizadores recorriam à versão Premium (que em Portugal custa 6,99 euros por mês); os restantes usam a versão Free, ouvindo anúncios entre as playlists musicais.
A juntar a isto, ainda há a emergência de serviços concorrentes, como o Tidal de Jay-Z ou a Apple Music, lançada em 2015 e bem mais ameaçadora. A Apple não tem escondido os seus planos de rivalizar com a plataforma de streaming sueca, fechando negócios milionários para tornar álbuns de artistas importantes em exclusivos Apple Music. Até aqui, o Spotify tem conseguido bater o streaming da maçã: em maio deste ano, a Apple registava 50 milhões de subscritores do Apple Music, ainda longe dos 83 milhões do Spotify.
A questão dos direitos de autor
O Spotify já esteve várias vezes envolto em polémica justamente com quem fornece a principal matéria-prima do serviço de streaming – os músicos. Ao longo dos anos, foram várias as queixas de artistas internacionais, que se queixaram de que o Spotify não fornecia uma recompensa à altura pelo número de audições a cada faixa.
Nomes como Thom Yorke, vocalista dos Radiohead, ou a norte-americana Taylor Swift deram que falar ao escolher retirar álbuns do catálogo do Spotify. Em 2014, a cantora – um dos maiores filões de reproduções no Spotify, na altura – decidiu retirar todo o seu catálogo musical do serviço. Quatro anos depois, as músicas de Swift já regressaram ao catálogo da empresa sueca, mas de vez em quando, o assunto dos pagamentos de direitos de autor regressa à ribalta.
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Tirar partido dos dados
Com 180 milhões de utilizadores ativos mensais, há outra coisa que também ajudou a cimentar o Spotify – além de planos familiares ou planos específicos para estudantes – a capacidade de analisar os dados dos utilizadores para fazer recomendações.
E isto é apenas para as utilizações diárias, já que o serviço de streaming faz playlists personalizadas e automáticas a partir daquilo que se vai ouvindo – o que faz com que praticamente não existam dois perfis de Spotify iguais.
Todos os anos, habitualmente no final do ano, o serviço de streaming habitou os utilizadores a fazer análises dos últimos 365 dias – desde as músicas mais ouvidas por estação do ano até ao top cinco de faixas mais reproduzidas em cada perfil. No ano passado, até utilizou os hábitos de reprodução musical dos utilizadores para criar uma bem sucedida campanha publicitária.
Mas não é só aí que o serviço de streaming sueco soube tirar partido daquilo que os utilizados ouvem. Com o passar dos anos, o Spotify também ganhou outros contornos, tirando partido da febre dos podcasts. Numa categoria especial, é possível ouvir programas sobre diversos assuntos – e, recentemente, tornou-se ainda mais fácil carregar podcasts para o Spotify, numa lógica de democratização da plataforma, pelo menos neste segmento.
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