O sistema de ensino tradicional já não é suficiente. E a tecnologia prova-o

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Em todo o mundo, 24 milhões de pessoas usam a plataforma Udemy para aprender algo novo e quase metade destas pessoas já o fazem no smartphone. Aprender como e quando quiser não é uma utopia, é cada vez mais uma realidade.

Sempre que entra num Uber ou num carro que presta um serviço semelhante, Kevin Johnson pergunta ao condutor ‘Qual é o seu plano B?’. “É incrível o número deles que respondem com um ‘como assim?‘. E eu digo ‘sabe que o seu empregador está a tentar fazer isto sem a sua ajuda e o quanto antes?‘. Normalmente há uma surpresa, nunca pensaram nisso”.

Kevin Johnson refere-se à chegada dos carros autónomos e como em breve milhões de postos de trabalho, um pouco por todo o mundo, vão desaparecer por causa da automação e da inteligência artificial. Em Portugal, nos próximos 11 anos, estima-se que mais de um milhão de postos de trabalho na indústria sejam eliminados às custas da evolução tecnológica.

Mas o exemplo dos condutores de serviços como a Uber encerra em si uma ironia quase mordaz. “Estes trabalhos foram criados por sistemas de inteligência artificial, são os algoritmos que estão por trás dos padrões de tráfego, o envio de carros que permite à Uber e a outros sobreviverem. Eles criaram muitos postos de trabalho que não existiam antes, mas a diferença é que estão fora do sistema tradicional de empregabilidade”.

Para o fundador e diretor executivo da Udemy, uma das maiores plataformas de ensino online do mundo, o plano B deve passar por aprender algo novo – seja programação, seja inteligência artificial para conhecer melhor o ‘patrão do futuro’ ou apostar nas chamadas soft skills, competências mais humanas e que serão as últimas a serem ‘roubadas’ pelas máquinas.

“É uma aprendizagem revolucionária. Há 20 ou 30 anos isto não era possível, se querias ter um bom curso ias para uma universidade, tinhas de tirar tempo do teu dia de trabalho para lá estar, fisicamente, e pagar muito dinheiro à universidade. Agora fizemos para que possas tirar um curso quando quiseres, aprendes o que queres, quando queres. Isso reduziu os custos diretos e indiretos, por ter tornado tão conveniente o facto de poderes aprender a qualquer altura”.

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O modelo é atrativo o suficiente para a Udemy já ter 24 milhões de estudantes, 36 mil instrutores, mais de 9.000 cursos disponíveis em 50 idiomas. “Temos mais variedade do que aquela com a qual alguma vez sonhámos na fundação da empresa”, disse o responsável em entrevista à Insider.

Kevin Johson reconhece que ainda há um grande obstáculo: a questão da certificação. Tirar um curso online não é, para muitas empresas, o mesmo que tirar um curso numa universidade ou num instituto de renome. Uma mentalidade que sobretudo nos EUA tem vindo a mudar.

“Nos EUA empresas que pediam graus académicos ou até de universidades específicas agora importam-se cada vez menos que tenhas andado naquela universidade e ainda menos que tenhas uma licenciatura. O que eles querem é que tenhas conhecimento. Mas como é que provas que tens o conhecimento? Vemos outra tendência: não quero saber se aquela pessoa tem um certificado, vou fazer-lhe uma avaliação e ver se tem o que conhecimento que preciso”, explica.

A falta de mão-de-obra sobretudo na área tecnológica – um fenómeno global e que tem sido sentido muito pelas empresas em Portugal – tem obrigado as organizações a abrirem mão daquele que foi um requisito quase obrigatório durante longas décadas. “As empresas estão a criar as suas avaliações e a integrar aqueles que têm capacidade”.

A grande dificuldade que plataformas como a Udemy têm sentido está no facto de ser cada vez mais difícil lutar e manter a atenção das pessoas – redes sociais, serviços como o Netflix, fenómenos como o Fortnite, todos lutam ‘pelos olhos’ dos utilizadores.

“Descobrimos o tempo ideal para uma aula do curso. Temos cursos que são de 20 ou 30 horas, mas estão partidos em aulas de três, cinco ou sete minutos. Foi isso que descobrimos até agora – claro que depende do tópico, mas o ideal é algo entre os três e os sete minutos”.

Esta abordagem do ensino quase como se fosse um snack tem sortido os seus resultados: 40% dos utilizadores da Udemy já aprendem através da versão para smartphones da plataforma. Em contraponto, o sistema de ensino tradicional continua a ter por base um modelo com “milhares de anos”, lembra o CEO da plataforma de ensino online. “Cresci quando o modelo ainda era ir para a escola durante 25 anos e depois trabalhar durante 40 anos e é isso. Claramente esse modelo acabou e eu tenho de continuar a aprender e esse é o novo modelo”.

O governo de Singapura parece já ter reconhecido esta realidade. Foi por isso que em 2015 anunciou a criação do SkillsFuture, um programa que dá a cada adulto 500 dólares para que possa investir na sua formação em plataformas online.

Mas a influência da tecnologia vai muito mais além da questão da conveniência. E, como não podia deixar de ser, também no ensino a inteligência artificial promete mudar de forma radical a experiência do utilizador.

“Vai tornar a experiência de aprendizagem mais adaptada e personalizada ao indivíduo. (…) Agora, com a inteligência artificial, aquilo que vai acontecer é que serás capaz de fazer avaliações da tua aprendizagem à medida que avanças e o curso vai ajustar-se a ti, à tua velocidade de aprendizagem e ajuda-te a focar naquilo em que precisas mais de ajuda e depois acelerar nas coisas nas quais não precisas tanto”.

Aprender a programar a linguagem do futuro mudou-lhes a vida