Investigador, professor e pensador sobre a inovação nas empresas, Howard Yu explica-nos nesta segunda parte da entrevista que lhe fizemos como os gigantes tecnológicos já não inovam como no passado (pode ler a primeira parte aqui).
Nesta era de gigantes tecnológicos, Howard Yu, um natural de Hong Kong que estudou em Harvard e investiga e dá aulas na Suíça (foi lá que se tornou um autor premiado), explica que há cada vez menos espaço para tornar startups em gigantes, como se viu com Google ou Facebook. Ainda para mais quando “quanto maior empresa, pior a inovação”.
“Há muitos estudos que demonstram isto: quando mais uma empresa cresce pior é a criatividade por funcionário, já que a estrutura torna-se mais complexa”. Daí que defenda que os governos ajudem a proteger as pequenas e médias empresas, para que as economias locais se mantenham vibrantes: “temos de defender a posição das pequenas startups, para que a sua única estratégia não seja apenas venderem o negócio à gigante tecnológica”. Yu dá mesmo o exemplo de como Facebook (com o Instagram e WhatsApp) e Google (com YouTube e Android) compraram as suas inovações mais recentes.
O investigador lamenta ainda as políticas atuais nos EUA. “O tempo de separar empresas como a AT&T à força já não existem, os gigantes tecnológicos são intocáveis nesta altura até pela forma como interpretam as leis de anti-concorrência”. Já da Europa vê bons sinais. “A Europa pode mesmo ter um papel ativo para salvar a humanidade. Embora não possam dividir estes gigantes americanos, podem limitar os seus hábitos monopolistas para que o estrago não seja tão grande e têm mecanismos como o RGPD que protegem o uso dos dados pessoais dos utilizadores.
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EUA contra a China
Nesse domínio, critica ainda a retórica americana atual, que tenta colocar o Ocidente contra a China, “que pode provocar uma separação económica catastrófica”. “Como aprendemos na Guerra Fria, a última coisa que queremos é que os dois lados deixem de comunicar, se isso acontecer, deixamos de aprender uns com os outros e não resolvemos problemas gravas como as alterações climáticas ou a próxima geração de doenças”.
Já sobre a luta dos EUA contra a Huawei especialmente no 5G, o especialista lembra que até ao momento só há provas de vigilância e espionagem do lado dos EUA e não da Huawei: “não se deve excluir os avanços tecnológicos extraordinários vindos da China que, no 5G, está claramente à frente”.
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Publicidade online nas mãos da Google e Facebook
Howard Yu falou-nos também numa tendência crescente: a forma como empresas tecnológicas, “que vivem acima de tudo dos dados analíticos que recolhem e da forma como os processam”, dominam já a publicidade online no planeta – falámos no tema nesta reportagem ampla. “Aconteceu em poucos anos e é assustador ver que o mercado publicitário seja controlado por apenas duas empresas”. Mas o professor acredita que os reguladores “devem olhar para o lado externo, para as consequências negativas”. “Isto porque a inteligência artificial que Google e Facebook usam tem influência na sociedade como a conhecemos e até em eleições e permite usos que muitos nunca pensaram possíveis. E para se tornarem tão grandes no espaço publicitário, estão a quebrar várias questões de privacidade”.
O autor do livro Salto, que chegou em abril a Portugal, admite que, neste momento, “tudo o que permite aumentar o tráfego para os anunciantes e para Google e Facebook parece ainda ser permitido online, desde fake news e desinformação até à influência estrangeira maliciosa em eleições ou referendos”. Daí lamentar que prosperem “os conteúdos sensacionalistas”.
Howard Yu admite que o facto de Facebook e Google terem receitas e lucros incríveis, que crescem entre 20 a 50% todos os anos, só vindos da publicidade online “demonstra como as leis e regulamentos ficaram bem para trás da realidade dos negócios”. O que ajuda mais as duas empresas a nível de legislação “é que ambas não começaram como plataformas de publicidade”.
“Acordámos de repente e percebemos que não são só gigantes dos dados pessoais e da publicidade, mas são empresas de serviços utilitários e de informações que todos acabamos por ter de usar. Há muitos que me dizem que não gostam do Facebook, mas têm de usar para serem relevantes em alguma área”. Yu defende, assim, que estes gigantes tecnológicos sejam abrangidos por vários regulamentos diferentes por prestarem serviços muito diferentes.
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