F8. O que tem Zuckerberg na manga para a conferência-estrela do Facebook?

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    REUTERS/Stephen Lam/File Photo

    Todos os anos, o Facebook organiza a conferência F8, virada para os programadores que trabalham com a família de produtos da rede social. Depois de um ano marcado pelo escândalo Cambridge Analytica, Zuckerberg tem justamente na privacidade uma das grandes incógnitas para a conferência anual.

    Arranca esta terça-feira a décima edição da conferência F8, dedicada aos programadores e engenheiros que trabalham com  as plataformas da empresa de Mark Zuckerberg. Em 2019, o cocktail de desafios do Facebook tem de tudo um pouco: duas falhas técnicas com pouco tempo de diferença entre si, desafios à privacidade, problemas de desinformação… tudo isto enquanto ainda se quer manter os utilizadores interessados e os resultados financeiros em terreno positivo.

    No mesmo ano em que completa 15 anos de vida, o Facebook enfrentou a maior falha técnica de que há memória. Foram 14 horas sem acesso aos produtos da empresa, onde se incluem Facebook, Messenger, Instagram ou WhatsApp. No mesmo mês, os serviços do Facebook acabariam por falhar, ainda que com bem menos tempo ‘em baixo’: foram cerca de duas horas.

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    Por outro lado, este ano, o ‘fantasma’ Cambridge Analytica pode não estar tão presente na sala, mas a segurança dos dados dos utilizadores ainda coloca sérios desafios ao Facebook. Acusado de várias infrações à privacidade dos utilizadores, é mesmo na palavra privacidade que reside uma das grandes expectativas de apresentação para esta F8. Um dos exemplos mais flagrantes deste ano? A revelação, feita por empregados da empresa, de que existiria uma lista com as passwords de cerca de 600 milhões de utilizadores do Facebook, acessível a milhares de empregados da rede social, sem qualquer tipo de encriptação.

    No início de março, numa publicação feita através do Facebook, Mark Zuckerberg explicava que a privacidade era o novo foco da empresa – até no título, com a nota a chamar-se “Uma visão focada na privacidade para as redes sociais”.

    É esperado que, ao longo dos dois dias de conferência, que tem lugar em San José, na Califórnia, Zuckerberg vá detalhar como é que funciona esta visão – uma espécie de ‘roadmap’ para as mudanças que aí vêm. Mas há muito mais que salta à vista no programa da F8 deste ano.

    A unificação das plataformas de mensagens

    Em março, não era só o foco na privacidade que surgia na publicação. Na mesma altura, o CEO do Facebook falava numa “unificação das plataformas de mensagens” – e isto seria válido para Messenger, Instagram e WhatsApp. Pouco tempo depois de se falar nesta unificação – que muito provavelmente terá agora resposta na F8 – a Comissão Europeia mostrava sérias dúvidas relativamente a este plano.

    Também nos Estados Unidos a ideia de Zuckerberg não foi vista com bons olhos. À semelhança da Google ou da Apple, também o Facebook está a ser escrutinado do outro lado do Atlântico. São muitas as vozes que acusam a empresa de Zuckerberg de estar a criar “um monopólio do poder” no mundo da comunicação.

    O problema dos conteúdos violentos

    Além da partilha de conteúdos falsos e da escalada da desinformação em produtos como o Facebook ou o WhatsApp, há ainda outro desafio que se põe no percurso do Facebook – a partilha de conteúdos violentos. Em março, o vídeo explícito do ataque terrorista numa mesquita na Nova Zelândia, que matou 50 pessoas, foi transmitido em direto no Facebook.

    A situação mostrou a fragilidade das plataformas digitais em conseguir eliminar este tipo de conteúdos violentos das redes sociais, que se multiplicam devido às partilhas. A rede social foi pressionada para responder à questão e encontrar soluções para eliminar o mais rápido possíveis conteúdos explícitos dos seus produtos.

    Apesar de ter lançado uma publicação onde explicava que o discurso de ódio e conteúdos separatistas não iam ter lugar no Facebook, ainda há muito por fazer neste campo. Uma das sessões da conferência F8 é dedicada a isso, explicando como a inteligência artificial pode ajudar a remover estes conteúdos das plataformas.

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    Rentabilizar o Messenger

    “Deep dive on Messenger Updates” promete ser a sessão onde o Facebook poderá mostrar as novidades para o seu serviço de troca de mensagens. Nos últimos meses, a base de utilizadores mensais nos Estados Unidos tem vindo a reduzir-se, apontam as estatísticas, e a rede social precisa de arranjar maneiras de manter os utilizadores interessados. Em mercados como o Japão, com uma considerável massa de possíveis utilizadores, o Messenger está longe de ser a app favorita.

    As últimas novidades a chegar ao Messenger foram a possibilidade de apagar mensagens, mesmo que já enviadas, e a chegada do tão ansiado modo escuro – mas tudo indica que isto não seja a única novidade. “Emprestada” do WhatsApp, chegava a funcionalidade de deslizar para responder a uma mensagem em específico.

    Mas não basta só ter funcionalidades – também é preciso que gerem dinheiro para a empresa. Tanto que a agenda da F8 mostra também várias sessões viradas para o Messenger, especialmente para a parte da rentabilização deste produto. Nos últimos anos, a aposta tem passado pela disponibilização de bots para fins comerciais – e tudo indica que o assunto não fique por aqui.

    Foco na plataforma Spark

    Já usou um filtro no Messenger ou no Instagram? Se a resposta for sim, é quase certo que o conceito foi desenvolvido na plataforma Spark, desenvolvida pelo Facebook para a realidade aumentada.

    Estes filtros não têm sido só usados para manter os utilizadores divertidos ou interessados – também tem sido usada para fins comerciais. Dentro do Messenger, já é possível interagir com marcas e até “experimentar” alguns produtos, em forma de filtro – maquilhagem ou óculos são alguns dos exemplos.

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    A agenda mostra várias sessões dedicadas à plataforma Spark, desde a forma de rentabilizar a plataforma até novos usos. E, com a integração da funcionalidade de checkout no Instagram, que permite alavancar as compras dentro da aplicação, comprando sem sequer sair do Instagram, a Spark pode bem vir a ganhar outra dimensão dentro da família Facebook.

    O que foi anunciado no ano passado?

    No ano passado, a conferência F8 deu a conhecer novidades a nível de funcionalidades e também hardware. O Facebook é dono da Oculus, uma empresa de headsets para realidade virtual. Na altura, foi anunciado um novo headset Oculus Go.

    Noutro campeonato, em 2018, o Facebook queria concorrer com o Tinder, a atual galinha dos ovos de ouro do mundo das aplicações de encontros. Com o nome de Facebook Dating, era a aposta da rede social para o mundo dos encontros. Um ano depois, continua sem disponibilidade global, estando em teste em mercados como a Colômbia.

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    Na altura, também foi anunciada uma ferramenta que permitiria eliminar todo o histórico de um utilizador no Facebook. Essa funcionalidade ainda continua a não existir, um ano depois do F8.

    Como posso acompanhar?

    Quem quiser acompanhar a décima edição da conferência F8 pode fazê-lo através da Internet. Através do site, é possível acompanhar a keynote e algumas das sessões. Ainda assim, é preciso fazer um registo para aceder ao stream do evento.

    Facebook. Dar a palavra a quem sabe para mostrar 15 anos de engenharia