Na Coreia do Sul, DJ Koh, um dos nomes fortes da Samsung, traça uma linha que separa as décadas do negócio mobile. Até 2019, “a era do smartphone”; daqui para a frente, abre-se espaço para uma nova era, alavancada por conceitos como 5G ou IA.
O mercado europeu está habituado a ver DJ Koh, em palco, a apresentar os produtos da tecnológica, pelo menos duas vezes por ano. Mas, desta vez, o momento foi ligeiramente diferente, com o presidente da Samsung e um dos três CEO da empresa, responsável pela área de mobile aberto às questões dos media europeus. DJ Koh diz ter “uma visão, uma missão e um ‘roadmap’ a longo prazo” para a sua área de negócio, mas numa época de guerra comercial, não se limita a olhar apenas para a própria casa. “Estou sempre a ver aquilo que os meus vizinhos estão a fazer. Se há algo que é necessário aprender com eles, vou aprendê-lo”, sublinha.
Não é a primeira vez que DJ Koh levanta o véu sobre a visão a longo prazo que tem para a sua liderança. Na verdade, o primeiro momento foi em fevereiro, quando apresentou os primeiros produtos, no evento Unpacked. Foi nesse momento que dividiu as águas: os últimos dez anos, coincidentes com a linha de smartphone Galaxy, definida pelo conceito do smartphone. “A partir deste ano, talvez seja o início de uma nova era, com a emergência da Internet das Coisas, do 5G, da inteligência artificial, onde todas estas tecnologias podem trabalhar juntas… É uma nova era à nossa frente”.
E quando chegará esta nova era? Num momento em que se dê a quase tempestade perfeita entre tecnologias em desenvolvimento nos últimos anos. “Toda a gente está a falar da quarta revolução. A infraestrutura 5G vai ser o motor e o poder da quarta revolução”, também referida por muitos como Indústria 4.0 – mas só se se conseguir compreender conceitos como a inteligência artificial, indica o CEO da empresa sul-coreana.
Mas a caminhada para a próxima era recorre também a mais inovações dos últimos anos: o desenvolvimento do processador, dos algoritmos de aprendizagem automática ou ainda do considerável aumento dos dados e, consequentemente, da necessidade de processamento, para conseguir retirar valor da informação.
“Assim que a IA esteja ligada ao 5G, temos de pensar na Internet das Coisas [IoT]. Antes, toda a gente falava sobre IoT, mas ainda nada aconteceu nas nossas vidas”, relembra DJ Koh, perante um quadro branco, onde esquematiza conceitos sobre as aplicações da próxima geração de redes móveis. “Assim que a infraestrutura do 5G esteja misturada com tecnologia apurada de IA, haverá muitas experiências que o consumidor pode ter – é por isso que o antes e o depois de 2019 vão ser diferentes”.
Alguns exemplos concretos? O mundo dos carros conectados ou até o mundo da realidade virtual ou realidade aumentada. “Na era do 4G, a qualidade no ecrã era menos nítida devido à latência. Com o 5G, a imagem no ecrã ou o streaming de vídeo vão ser muito diferentes”.
Europa no radar de investimentos 5G
O homem forte da área mobile da Samsung diz sentir-se “bastante certo de que o próximo ano será promissor para o 5G”. Esta próxima geração de redes móveis, que tem como pontos fortes o aumento da velocidade de ligação e a diminuição da latência (o tempo de resposta entre determinada ordem e ação), já está disponível na Coreia do Sul, nomeadamente na capital, Seul. Para isso, foi necessária a implementação de uma infraestrutura específica. Além da Coreia do Sul, a Samsung também está a trabalhar nos Estados Unidos – mas não só.
“Temos uma grande operação na Europa, portanto não há razão para dizer que não estamos dispostos a investir na Europa”, explica, acrescentando que já passou pelo velho continente para “avaliar a possibilidade de diversificação e expansão da infraestrutura de rede 5G”.
Para tirar partido da velocidades do 5G, é necessário ter um equipamento apropriado, como um smartphone com um modem compatível com este tipo de redes móveis. Em fevereiro, a Samsung apresentava um smartphone criado para o efeito, que está disponível em alguns territórios, inclusive europeus, como é o caso do Reino Unido, Espanha ou Itália.
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Na Coreia, a empresa já tem números sobre as vendas deste tipo de smartphone. “Em 80 dias, foram vendidos um milhão de equipamentos. Estes números de vendas são um bom sinal em termos de implementação do 5G”, salienta DJ Koh.
Quando se fala em redes 5G, não surge só a palavra velocidade na equação – também há quem rebata com a palavra segurança. DJ Koh reconhece que, quando o ambiente de 5G surja e haja um aumento dos dispositivos conectados, “quando o software seja atacado, isso poderá causar muitos problemas”.
“A segurança é um processo contínuo. Para a era do 5G, estamos a dar ênfase a um nível muito mais elevado de segurança, que também é necessário por regulação”, explica. Em 2013, a empresa criou uma plataforma de segurança chamada Knox, que, segundo DJ Koh, “vai além dos dispositivos, chegando também às redes”.
Inovar além do formato smartphone
Consultoras como a IDC apontam um ano desafiante para o mercado global de smartphones – a estimativa para este ano traça uma quebra de 1,9% em relação aos números de 2018. Ainda assim, a mesma consultora deixa margem para esperança, nomeadamente devido aos novos equipamentos com 5G.
Descrevendo o mercado atual de smartphones como “saturado”, a IDC refere que a mudança pode estar não só no 5G, mas também na aposta em novos formatos para revigorar o mercado. A visão de DJ Koh parece apontar na mesma direção. “Os smartphones podem entrar em declínio, mas novos dispositivos vão emergir”.
“[A tendência] dobrável vai durar mais alguns anos. Mas é possível outro formato”, reconhece. “Assim que a era do 5G e da Internet das Coisas esteja disponível e se expanda, em vez de pensar em smartphones, temos de pensar em dispositivos inteligentes”, reforçando que é preciso “não se estar limitado ao formato do smartphone” como até aqui o conhecemos.
*A jornalista viajou para a Coreia do Sul a convite da Samsung