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Mini Europa na China. Viagem ao campus científico renascentista da Huawei

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Campus ‘renascentista’ inspira-se em 12 cidades europeias, tem 1,4 milhões de m2 de área no meio de palácios e lagos. É aqui que a ciência da Huawei se desenvolve, mesmo em tempos de “batalha” devido ao bloqueio dos EUA.

Chama-se Dongguan e fica a cerca 11 mil km de Portugal (um quarto da circunferência terrestre, que são 40 mil km), a 73 km de Shenzhen (considerada a Silicon Valley chinesa) e 96 km de Hong Kong. É nesta cidade chinesa, outrora conhecida como uma cidade do sexo e de prostituição e onde se produz um em cada seis telemóveis no mundo, que fica a nova sede de Investigação e Desenvolvimento (R&D, na sigla inglesa) da Huawei, uma pequena cidade junto ao lago Songshan. O nome do campus é bem chinês, Xi Liu Bei Po Cun – que se traduz em encosta com riachos -, mas o aspeto é europeu, inclusive renascentista e é uma verdadeira surpresa encontrar esta espécie de cidade europeia idílica e clássica em plena China comunista.

À chegada ao campus, entramos no que parece uma gigante universidade clássica e não é por acaso. Todas as 12 cidades representadas e homenageadas em 12 áreas neste projeto que começou a ser construído em 2014 e só ficou concluído há alguns meses têm universidades. Além de Oxford, Inglaterra também está representada com Windermere (zona de lagos). Mas há ainda Granada (Espanha), Paris e Borgonha (França), Bruges (Bélgica), Luxemburgo, Friburgo e Heidelberg (Alemanha), Verona e Bolonha (Itália) e Cesky Krumlov (Rep. Checa).

O resultado é uma espécie cenário de filme clássico ou Disneyland para amantes do estilo europeu renascentista e um deles é precisamente o fundador da Huawei, Ren Zhengfei, daí a homenagem. O campus – que contrasta com o ar futurista do reduto da Apple que custou 5 mil milhões de dólares, chamado de Nave Espacial – permite não só agradar aos funcionários que tentam avanços tecnológicos nas várias áreas onde a empresa opera – do hardware e serviços para redes de telecomunicações aos aparelhos como smartphones, portáteis, modems ou routers -, mas também cativar talento vindo de fora.

Para já, ainda “são poucos europeus” e “não há portugueses, o mais próximo a nível geográfico é um italiano”, mas “o objetivo é que possam aumentar” disse-nos uma responsável de comunicação da Huawei.

 

A empresa investe forte no chamado R&D há vários anos e só em 2018 gastou 15,3 mil milhões de dólares em investigação – 88 mil dos seus 188 mil funcionários fazem investigação e desenvolvimento -, um valor só superado pela Alphabet e Amazon nas principais empresas mundiais e que é ligeiramente superior aos gastos da Apple e Microsoft.

Dongguan, cidade transformada

À primeira vista, Dongguan é uma cidade em mudança. A construção é uma constante e as estradas estão repletas de jardins cuidados e em crescimento – não faltam jardineiros. Os novos edifícios modernos e bem altos contrastam com a cidade antiga, de aspeto desgastado. É na cidade que fica a principal fábrica da Huawei de smartphones, com 21 mil funcionários e, agora, a sede científica que irá albergar 25 mil profissionais mais qualificados – há ainda muito lugares por ocupar.

Para circularmos nesta vila pitoresca, há um elétrico peculiar ao estilo anos 1920 que percorre 7,8 km (uma viagem de 20 minutos) para levar os funcionários à zona de cada um. Como o clima tropical é de calor e humidade intensa, o elétrico entra várias vezes dentro de edifícios para aproveitar o ar condicionado e satisfazer os funcionários. Há dezenas de cafés ao estilo europeu pelo recinto, bem como restaurantes e até lojas de conveniência – entrámos dentro de uma 7 Eleven, curiosamente uma cadeia norte-americana -, embora os produtos sejam maioritariamente chineses, como seria de esperar.

No périplo breve que fizemos, a primeira paragem foi na zona de Verona, onde está uma réplica exata da torre da cidade. Depois passámos por meio de ruas, pontes e dezenas de edifícios existem 108 ao longo de 1,4 milhões de m2 de área -, uns pequenos, outros verdadeiros palácios enormes.

Na zona de Oxford não falta uma torre com relógio. Tivemos oportunidade de circular por alguns instantes sem guia, conviver com alguns dos engenheiros chineses que andavam de um edifício para outro, mas também ver uma comitiva de jovens estudantes que visitavam entusiasmados o local – todos de chapéu de chuva em punho para se protegerem do sol (uma tendência na zona).

A beleza dos jardins e dos edifícios é impressionante, bem como a atenção ao detalhe e não faltam centenas de estátuas renascentistas por todo o lado. Mas, apesar de haver interiores luxuosos de edifícios com mármores e mobiliário clássico, notámos que há zonas onde a beleza exterior do edifício contrasta com escritórios simples e repletos de cimento e existem edifícios inteiros ainda por ocupar.

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Huawei num ‘limbo’

No meio de recordes de vendas em smartphones (vendeu 200 milhões em 2018, só atrás da Samsung, com 293) e influencia mundial considerável nos equipamentos de redes, incluindo no 5G, a Huawei vive uma época de incerteza devido ao bloqueio dos EUA à empresa, para já suspenso até novembro.

A medida tomada por Donald Trump – a Huawei nega todas as acusações de espionagem – está complicar a política de colaboração da Huawei, que depende atualmente do sistema Android (tem já alternativa, chamada HarmonyOS, se for necessário colocar nos telemóveis) e de várias componentes vindas de empresas americanas.

Esta semana, o fundador da empresa, Ren Zhengfei, indicou aos funcionários num memorando interno reportado pela Reuters que a Huawei vive uma época de “vida ou morte” devido às restrições dos EUA e irá entrar em “modo batalha” para fazer face aos desafios e pediu aos trabalhadores “determinação”. Nesse contexto, o gigante chinês criado em 1987 vira-se ainda mais para a Europa, onde vão surgir novos centros nos próximos tempos e contratação de mais talento europeu, mas não se adivinham tempos fáceis para a empresa se o ambiente de desconfiança alimentado pela política norte-americana continuar.

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Alguns factos do campus

– Nome oficial da sede Huawei R&D: Xi Liu Bei Po Cun, conhecido também como Vila Europa ou Ox Horn

– Local: Lago Songshan, Dongguan, China

– Construção começou em 2014 e só ficou concluída há alguns meses. Custou 1,3 mil milhões de euros

– O campus é dividido em quatro áreas, 12 blocos e inspirado em 12 cidades europeias, com 1,4 milhões de m2 de área de escritórios e laboratórios

– Existem 108 edifícios que acomodam 25 mil funcionários

– O metro que transporta os funcionários tem 7,8 km

– Um em cada seis telemóveis a nível mundial é feito na cidade de Dongguan
– Dongguan já foi uma cidade do pecado

– Huawei é 3ª empresa que mais investiu em 2018 em R&D, com 15,3 mil milhões de dólares

– Dos 188 mil trabalhadores, 88 mil são de investigação e desenvolvimento

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