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OrCam. O dispositivo que torna óculos inteligentes e muda vidas

Orcam

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Dispositivo que nasceu em Israel lê em voz alta qualquer texto, faz reconhecimento facial de rostos e promete ser a visão artificial portátil de que muitos precisam. Mas o potencial tecnológico pode ser bem mais amplo.

A tecnologia pode abrir um mundo de possibilidades e é precisamente isso que a startup israelita OrCam tentou criar com um aparelho que acaba por tornar no ser humano numa espécie de ciborgue, ou não ficasse com capacidades acrescidas graças a um aparelho que se usa em qualquer tipo de óculos e que acabou de ser eleito pela revista Time como uma das 100 melhores inovações de 2019.

O dispositivo, que chegou este ano ao país e já inclui o português de Portugal, “pode ser usado não só por cegos, como pessoas com problemas de visão ou até pessoas disléxicas, crianças com dificuldades ou pessoas analfabetas, algo que só percebemos já depois de lançar o produto”. Quem o diz é Fabio Rodriguez, responsável de Desenvolvimento de Negócio da OrCam para a Península Ibérica, que admite que o mercado português tem potencial na área. 

A OrCam é uma espécie empresa startup spin-off da Mobileye, uma empresa criada em Jerusalém há 20 anos por dois investigadores em computação. Ziv Aviram e Amnon Shashua criaram a empresa que desenvolve desde então sistemas de visão pensados para ajudar veículos e que foi adquirida em 2017 pela Intel por 15,3 mil milhões de dólares, mas em 2010 fundaram a OrCam precisamente para usar a tecnologia de visão e machine learning associado à visão humana – uma espécie de rival dos Google Glass. A empresa lançou o primeiro aparelho OrCam para o mercado em 2015 e agora tem a segunda geração, o OrCam MyEye2, que diminui em tamanho e peso e cresce em funcionalidades.

“Um dos fundadores tinha uma familiar com problemas graves de visão e achou que podia adaptar a tecnologia da Mobileye para um wearable [aparelhos que se usam junto ao corpo] que iria melhorar por completo a qualidade de vida de pessoas com este tipo de limitação”, diz-nos Fabio Rodriguez. A empresa que agora já está sob o jugo da Intel e tem uma patente desejada para o sistema de leitura offline é unicórnio desde 2018 e está já em 48 países com 25 idiomas disponíveis.

Os números mostram que há muitas pessoas que podem beneficiar deste tipo de soluções. O espanhol responsável pelo mercado ibérico indica-nos que na Europa 3% da população é cega ou “visualmente impedida”, algo que “está a crescer porque há cada vez mais pessoas idosas na Europa e pessoas com diabetes em casos que se perde boa parte da visão”. Em Portugal estimam que há 300 mil pessoas que podem ter benefícios em usar o produto.

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E o que vale, então, a tecnologia?

Tivemos o OrCam MyEye2 na nossa redação durante umas horas, para ver como funciona e o sistema acaba por impressionar pela forma exata como consegue ler o que está à nossa frente. Em primeiro lugar, trata-se de uma pequena caixa retangular de 5cm e apenas 22 gramas que se acopola facilmente a qualquer tipo de óculos. A câmara de 3 MP é o que capta o que está à nossa frente e, depois, num instante, analisa e nos reproduz ao ouvido… como um sussurro de um assistente pessoal integrado em nós (na verdade é uma pequena coluna junto ao ouvido no próprio aparelho). “Funciona sem ligação à internet, o que traz privacidade total ao utilizador”, explica Fabio Rodriguez, acrescentando que a cada seis meses é atualizado o software que alimenta o aparelho – a última trouxe conexão por Bluetooth que permite ligar o OrCam a auscultadores sem fios, por exemplo.

A versão mais básica é a OrCam MyReader, que permite ler qualquer tipo de texto, desde o que está num jornal impresso, ao que está no telemóvel, passando por aquilo que está num sinal na rua ou no valor de uma nota que temos na mão. Para utilizar basta apontar para o local que queremos que seja lido ou, então, dar um pequeno toque no aparelho. No pequeno teste que fizemos na redação vimo-lo ler com particular fluídez e exatidão o conteúdo do jornal, mas também uma mensagem que recebemos no telemóvel, indicar-nos a cor do que estava à nossa frente (ou até de uma peça de roupa) ou dizer-nos o valor de determinada nota ou das horas no relógio.

Ou seja, abre a porta para que pessoas com limitações possam ler livros, menus de restaurantes, placas, rótulos de produtos e telas de computador e uma forma natural. O mais surpreendente foi verificar a exatidão global do sistema de leitura, isto em português de Portugal e sem necessitar de ligação à internet.

O responsável da marca também nos indicou que é possível guardar 100 códigos de barras na memória do aparelho para ele reconhecer, por exemplo, medicamentos a tomar ou os produtos no supermercado e indicar o preço e, por exemplo, o tamanho de uma garrafa. Para melhorar o reconhecimento de produtos poderá ser útil a ligação à internet, algo que pode ser incorporado em situações especificas no futuro.

O OrCam MyEye2 tem ainda acrescida a funcionalidade de reconhecer rostos, podendo-se gravar até 100 caras que são reconhecidas assim que surgem à nossa frente. A nível de usa, carrega-se como um smartphone (cabo mini-USB), a bateria dura 1h30 de uso contínuo e demora 40 minutos a carregar. Tem ainda microfone incorporado.

“Há muita gente que perde a visão e fica marginal na sociedade e isto faz toda a diferente”, diz Fabio Rodriguez, que indica que “na Alemanha e Escandinávia há muitas ajudas do governo para reintegrar pessoas com este tipo de problemas, chegando a haver comparticipação entre 50 a 100% do OrCam, algo que aumenta se forem pessoas em idade de trabalhar”.

O preço pode afastar muitas pessoas, daí que os apoios estatais sejam importantes. O OrCam MyReader custa 3500 euros, enquanto o mais completo MyEye2 vai para os 4500 euros, “mas podem ser comparticipados até 100% pelo governo”. O responsável admite que em Portugal “há um subsídio a pensar neste tipo de soluções”, mas há regras complexas “já que pode ser acionado através de três ministérios diferentes” e “a atribuição varia de caso para caso”.

Os mercados onde há mais pessoas a comprar aparelhos OrCam são o alemão e o norte-americano, isto por serem países com fortes apoios estatais para certas situações. “Nos EUA as vendas estão mais centradas nos veteranos, porque recebem apoio estatal quando têm limitações”, admite.

A ideia é que a tecnologia possa evoluir para dar apoio a cada vez mais pessoas, inclusive aqueles que não têm necessariamente dificuldades visuais. Para isso contam mais de 200 funcionários, a maioria engenheiros.

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