Emmanuel é francês, tem 55 anos e acredita que a identidade digital é o grande problema que ainda precisa de resposta no mundo online. E garante-nos: Lisboa vai ter um papel importante no desfecho desta história.
Quando lançou a Dashlane em 2011, estava convencido de que que estava a fazer a aposta certa, mas não sabia como o mundo ia reagir. Atualmente o serviço é responsável por gerir dezenas de milhões de passwords, em diferentes serviços, de mais de 12 milhões de utilizadores em todo mundo.
“Se fores a Apple controlas tudo o que acontece no iPhone, mas a partir do momento em que começas a usar diferentes dispositivos de marcas diferentes, se tiveres um iPhone ou um tablet Android ou um PC, então estes gigantes tecnológicos não conseguem construir uma solução universal [para gerir os teus dados]”, começa por explicar Emmanuel Schalit em entrevista à Insider.
“Eles não conseguem ser universais – o que digo da Apple é verdade para a Google, para o Facebook, para a Amazon e para outros. Tivemos a intuição, quando criámos a Dashlane, que havia uma grande oportunidade, se construíssemos algo que fosse universal, que funcionaria em qualquer dispositivo”.
A Dashlane é mais do que um gestor de palavras-passe: o serviço permite ao utilizador usar uma única plataforma para fazer o preenchimento automático dos seus dados de autenticação e identificação – como email, password, morada ou número e de telefone – em plataformas como redes sociais, sites de comércio eletrónico e fóruns online.
Pela abordagem unificada, a Dashlane acabou por alcançar algo raro: “Conseguimos que tanto a Google e a Apple concordassem em ter a Dashlane integrado ao nível mais basilar do sistema operativo enquanto gestor de identidade. Reconheceram que era um problema que não podiam resolver porque não têm uma solução universal”.
A segurança informática é como a pornografia
“Se perguntares às pessoas se veem pornografia, todos dizem que não, mas quando olhas para os números, esse não é o caso. Com a segurança é o mesmo, mas ao contrário: se perguntares se se preocupam com a segurança e a privacidade, dizemos ‘absolutamente, é importante‘, mas depois quando olhas para as ações, vês que não se importam”.
A explicação que Emmanuel Schalit nos deu acabaria por ser corroborada no dia seguinte à entrevista por um estudo da Google focado em Portugal: um em cada três portugueses não revê, nunca, as suas definições de segurança online; 22% não utilizam os sistemas de autenticação em dois passos; e 15% nunca mudam a sua password.
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“Não é que não se importem, mas eles preocupar-se-iam se não fosse assim tão difícil. A nossa missão é tornar a segurança incrivelmente fácil”. Emmanuel não é bruxo, mas os dados revelados para o mercado português refletem tendências que também se registam a nível internacional.
Para tornar a relação com a segurança e privacidade digital o mais conveniente possível para os utilizadores, a Dashlane tem acesso a uma base de dados, fornecida por uma empresa externa, com 13 mil milhões de registos de emails e passwords que já passaram pela dark web.
Se o utilizador tiver algum dos seus dados nesta amálgama gigante de informação roubada, então a Dashlane vai avisar o utilizador, vai dizer quais os serviços que estão em risco e permite mudar na hora a palavra de segurança. “Vivemos num mundo em que provavelmente todas as pessoas têm alguma da sua informação na dark web”, relembra o especialista.
O diretor executivo da Dashlane diz que o conceito de password “é demasiado grande para ser morto num curto período de tempo”, está muito enraizado na cultura da internet e, garante, ainda não tem um substituto à altura. Nem mesmo as tecnologias biométricas, como reconhecimento da íris ou da impressão digital.
“A biometria é mais conveniente, mas não é mais segura. É mais fácil de roubar. Se conseguirem a tua impressão digital, está comprometida para sempre. Se a tua password tiver problemas podes mudá-la, se a tua informação biométrica for comprometida é game over”.
É aqui que entra Lisboa
A Dashlane anunciou em outubro de 2018 a abertura de um escritório em Lisboa. Atualmente já lá trabalham 12 pessoas e o objetivo é chegar aos 40 funcionários até ao final do ano, número que já tinha sido projetado pela tecnológica para o seu centro português.
“Vai depender de quão rápido conseguirmos contratar, temos planos muito ambiciosos para Lisboa em múltiplas funções, apoio ao cliente, mas também estamos a construir equipas de produto e engenharia aqui, porque há bom talento”, explica o francês, que já vive nos EUA há 14 anos.
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A chegada a Lisboa vai fazer a Dashlane mudar a sua abordagem de desenvolvimento de produto – até aqui acontecia tudo em Paris, França, onde também tem escritórios, mas agora o futuro deste gestor de identidade digital também vai passar pela capital portuguesa e por Nova Iorque, onde também vai ser criada uma equipa de desenvolvimento.
“Estamos a aumentar a nossa equipa nos três escritórios e quantas mais localizações tiveres, de certa forma, mais fácil é crescer, especialmente se colocares a fasquia do talento a um nível alto. (…) Começamos a fazer as nossas primeiras contratações noutras funções como produto e engenharia e vai ser cada vez mais assim à medida que aumentamos a nossa presença em Lisboa”.
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