NOS quer ser líder no 5G e promete “entregar o máximo de velocidade que o standard permitir”

NOS | 5G
Foto: REUTERS/Rafael Marchante

Operadora prepara-se para fazer aposta forte no 5G ligado às cidades inteligentes e às empresas. NOS ainda não decidiu qual será a primeira cidade portuguesa onde vai disponibilizar a rede de nova geração.

Oeiras, Vila Nova de Famalicão, Moita e Lagoa são algumas das cidades onde a NOS já tem projetos dedicados de cidade inteligente (smart city), mas com a chegada do 5G a operadora de telecomunicações vê uma oportunidade muito maior neste segmento.

Atualmente a NOS usa dados estatísticos agregados dos telemóveis das pessoas para perceber fluxos de mobilidade – dos cidadãos portugueses e turistas – e ajudar as cidades na mobilização de recursos, planeamento de intervenções e otimização de rotas. Os próximos anos vão trazer todo um novo conjunto de informações.

“Os carros autónomos ou os carros de condução assistida vão precisar de um volume de informação trocada absolutamente inimaginável. Os semáforos, sinais de trânsito e as passadeiras viveram décadas offline, não tinham de comunicar de forma interativa nem com as pessoas, nem com os carros. Vê-se aí uma oportunidade, gerir a pressão sobre as infraestruturas, perceber quais são os fluxos de mobilidade das pessoas e tirar partido dessa comunicação constante entre as coisas para que depois resulte num maior bem-estar”, disse João Ricardo Moreira, administrador da NOS comunicações, em entrevista ao Dinheiro Vivo e à agência Lusa à margem do evento 5G World, que decorre esta semana em Londres, Reino Unido.

O executivo admite que, pela primeira vez, o grande impacto de uma nova geração de comunicações móveis vão ser mais sentido, numa primeira fase, pelo sector empresarial do que do lado dos consumidores.

“Confirmo, no 5G o protagonismo que as aplicações empresariais vão ter ou já estão a ter é de facto enorme e do nosso ponto de vista, que trabalhamos a transformação digital das empresas portuguesas, vemos nisto uma oportunidade de ouro”, explica. “Não porque não vá ter impacto do lado residencial, porque vai, muito provavelmente o 5G vai permitir entregar ao consumo de vídeo velocidades de download absolutamente inimagináveis há pouco tempo, mas porque efetivamente a utilidade maior vai ser vista nos exemplos [referidos]”.

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Jorge Graça, diretor de tecnologia e informação da NOS, exemplificou melhor esta ideia numa outra entrevista por telefone. “Eu hoje tenho Netflix ou tenho YouTube no meu telemóvel. É por ter mais qualidade de vídeo que materialmente vou ter uma melhor experiência? Não, não vai acontecer. É por eu jogar um bocadinho mais depressa ou poder jogar Fortnite de maneira diferente? Não. Os benefícios que depois vão ser disponibilizados às pessoas que têm terminais 5G têm que vir de aplicações e conceitos novos que vão ser desenvolvidos por empresas e que depois vão chegar às pessoas. É nesse sentido que o desbloqueio do valor vem mais pelo lado empresarial do que pelo consumo. Não tenho grandes dúvidas sobre essa afirmação”.

Não é à toa que as primeiras demonstrações da NOS estejam mais focadas em exemplos concretos – como uso do 5G no controlo de viaturas ou em vigilância através de drones em praias – e não tanto nas grandes velocidades de débito que a tecnologia permite. O 5G vai multiplicar por dez a velocidade da internet móvel disponível – acima de um gigabit por segundo (Gbps) – e também diminuir o tempo que os dados demoram a percorrer entre os dispositivos e os centros de dados – daí que muitos chamem o 5G de internet instantânea.

A NOS não decidiu ainda qual será a primeira cidade portuguesa na qual vai fazer a estreia da sua rede 5G comercial – a empresa tem feito testes-piloto, testes estes que são pagos pelas autarquias – e admite que existem “algumas hipóteses em cima da mesa”. “Atempadamente diremos qual é”, refere João Ricardo Moreira.

O que a NOS diz é que quer aproveitar esta aposta no lado mais empresarial do 5G para ganhar dianteira no mercado. “Queremos estar na linha da frente, queremos liderar a adoção do 5G, seja do ponto de vista tecnológico, seja do ponto de vista do aproveitamento dessa mesma tecnologia para os diferentes fins”, disse ainda o administrador.

Questionado sobre que velocidades a empresa já consegue atingir e teria capacidade de disponibilizar no imediato caso Portugal estivesse preparado para o lançamento comercial do 5G, João Ricardo Moreira salienta apenas que “a NOS entregará o máximo das velocidades que o standard permitir” e que no caso do 5G pode chegar a 26 Gbps, mas que os resultados estarão sempre condicionados pelos dispositivos que estão nas mãos dos consumidores.

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O responsável admitiu ainda que a NOS está “confortável com o tempo em que está a decorrer [o lançamento do 5G em Portugal]”, cuja venda do espectro ainda não foi feita e que deverá atirar a estreia da nova geração de comunicações para 2020, quando alguns países europeus, como a Suíça e Reino Unido, já têm redes 5G ativas e em Espanha, por exemplo, o ‘arranque’ vai ser feito neste sábado.

“Acreditamos que um pouco mais à frente estarão reunidas todas as condições do ecossistema para que as pessoas sintam o benefício da tecnologia 5G”.

João Ricardo Moreira endereçou ainda a preocupação de esta nova fase tecnológica pode criar um fosso maior entre as grandes cidades do litoral e o interior de Portugal. Algo que para o executivo não deverá acontecer, pela maior modularidade que as redes 5G permitem. “Diria que apesar de reconhecer que é assimétrica a evolução no sentido das cidades inteligentes – é um facto -, a verdade é que não há propriamente barreiras que impeçam os municípios do interior ou os municípios mais pequenos de fazer um caminho até mais rápido do que as grandes cidades”.

E deixou um aviso aos líderes dos municípios. “Do meu ponto de vista, estão reunidas as condições para que cada dia que passa, já seja tarde para que as cidades efetivamente entrem nisso. Desse ponto de vista, há pressão dos parceiros tecnológicos para poder dizer isto mais alto, estaremos a perder tempo se não entrarmos nessa jornada mais cedo”.

* Uma versão anterior do artigo dizia que a velocidade máxima do standard 5G era de 26 Mbps, quando na realidade é de 26 Gbps

* A Insider/Dinheiro Vivo viajou para Londres a convite da NOS

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