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INL, o laboratório minhoto de nanotecnologia que nos dá saúde

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Reportagem em Braga no INL, Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, onde já se investiu 100 milhões de euros e cumpre sonho de Mariano Gago em ter análise ao nível dos átomos de topo mundial a partir de Portugal.

(no vídeo pode ver alguns dos destaques da nossa visita ao INL)

Existe toda uma série de mundos de átomos, que não conseguimos ver a olho nu, e que fazem toda a diferença no que diz respeito à engenharia dos materiais, medicina, eletrónica, computação, física, química e biologia. Falamos da nanotecnologia, que tem em Braga um dos grandes centros mundiais, referência para investigadores de todo o mundo.

Chama-se Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia ou INL, fica bem perto do Bom Jesus, em Braga, e é um centro português e espanhol com 10 anos de existência. As instalações de 20 mil m2 têm atraído os melhores investigadores a nível mundial, para isso ajuda que existam condições de topo, como um pequeno hotel, ginásio e creche.

Em destaque no INL está o facto dos investigadores terem dentro do mesmo espaço tecnologia de ponta que é difícil encontrar toda reunida, desde a chamada sala limpa com qualidade de ar perfeita para investigação, até aos microscópicos que permitem ver com pormenor os átomos e encontrar respostas que permitem inovar. Existem vários, mas dois deles são as coqueluches do espaço, valendo cada um cerca de cinco milhões de euros.

Os chamados microscópios eletrónicos de transmissão, estão repletos de lentes e mais não são do que um sistema ótico, como os olhos humanos, que inclui um corretor de aberrações, o que dá uma resolução que permite ver átomos individuais – 100 mil vezes mais pequeno do que o cabelo humano. “Trata-se de escalas ínfimas, mas são elas que nos permitem perceber o comportamento dos materiais, e depois relacionadas mais tarde com as propriedades dos mesmos, cruciais para várias aplicações”, explica-nos Paulo Ferreira, Diretor da Área de Microscopia Avançada.

O equipamento tem de estar numa sala especial, não só com ar condicionado laminar, para não criar correntes e não interferir no microscópio. Também há isolamento de som (daí existirem espumas nas paredes e porta de cobre) e o próprio aparelho está num solo isolado do edifício. “Se tivesse um camião a um quilómetro de distância, as vibrações iriam afetar a observação”, indica o especialista.

No caso da sala limpa, única na Península Ibérica, trata-se de um ambiente controlado futurista, de mil metros quadrados, onde se investiga e desenvolve a nanofabricação de aplicações para opto-electrónica (células solares e sensores de poucos centímetros são produzidos ali). Por lá têm todos de andar com fato, luvas e botas especiais, para não contaminarem o ar – basta alguns grãos de pó para o fazer – e é proibido correr, por exemplo. Foi por ali que se fez um sensor protótipo de poucos centímetros para medir a qualidade do ar da cidade de Braga.

Sala limpa do INL

 

Um sonho de Mariano Gago

Estabelecido como organização de direito internacional, o laboratório — inaugurado em 2009 pelos então Presidente da República, Cavaco Silva, e rei Juan Carlos, de Espanha — foi a primeira organização internacional de investigação na Península Ibérica. O investimento global no edifício foi de 75 milhões de euros – 85% comparticipado por fundos europeus. O gasto mais avultado após o inicial, foi entre 2011 e 2013 foi de 25 a 30 milhões de euros, em equipamento. No total foram gastos cerca de 100 milhões de euros.

“A ideia de um laboratório internacional de nanotecnologia, começou a ser discutida por iniciativa do Mariano Gago em 2005 e 2006, no Técnico, em Lisboa, onde eu era colega dele”, diz-nos Paulo Freitas, Diretor-Geral Adjunto do INL, que indica que a ideia desenvolveu-se depois com as cimeiras ibéricas para uma iniciativa conjunta. O laboratório ibérico, que é uma organização de direito internacional, custou  viria a ser inaugurado em 2009 pelos então Presidente da República, Cavaco Silva, e rei Juan Carlos, de Espanha.

A primeira organização internacional de investigação na Península Ibérica foi pensada para acolher 400 investigadores e tem estatutos semelhantes aos do CERN. Entrar nas suas instalações, onde era a antiga feira Bracalândia, é entrar em território internacional. Atualmente os 400 que lá trabalham são de 33 nacionalidades (45% são mulheres). Como recebem vários investigadores das principais universidades mundiais, têm 20 quartos para receber investigadores que podem ficar até um mês. A existência de creche serve para facilitar a vida aos cientistas que são pais.

Nanosal, menos sal, o mesmo sabor

Um dos produtos criados em Braga que está perto de ir para o mercado é um sal especial para usar na superfície da comida, como em batatas fritas, que permite ter o mesmo sabor com menos quantidade de sal – usa-se a nanotecnologia, aqui, reduzindo o tamanho dos grãos do sal.

Existe já um acordo assinado com uma empresa para que o nanosal possa ver a luz do dia. “Temos um método em que podemos pegar nesses cristais e torná-los mais pequenos. Se usarmos esse sal na comida, precisamos de cerca de 10 vezes menos sal para obter a mesma sensação de sal na boca, porque as peças de sal são muito menores”, explicou-nos Paulo Ferreira, Diretor da Área de Microscopia Avançada.

Sistema para monitorizar uvas

Já este ano, foi anunciado um projeto iGrape liderado pelo INL que conta com financiamento do programa competitivo de Investigação e Inovação da União Europeia, Horizonte 2020. O objetivo? Desenvolver uma solução inovadora que permita a monitorização contínua e em tempo real do nível de maturação da uva e do stresse hídrico da videira, ajudando a determinar o momento certo para a vindima e garantir uma produção de vinho de alta qualidade.

Para isso, será desenvolvido um dispositivo inteligente totalmente integrado e autónomo, pequeno e de baixo custo, capaz de medir o nível de maturação da uva e o stresse hídrico da videira por deteção ótica. O sistema a ser desenvolvido pode trazer várias vantagens sobre os métodos atualmente utilizados.

O projeto teve origem em contactos entre o INL e a empresa vitivinícola portuguesa Sogrape, com quintas em Portugal, Espanha, Argentina, Chile e Nova Zelândia. Posteriormente, incluiu parceiros com os conhecimentos específicos necessários para garantir o nível exigido de entrega: INESC MN (Portugal), Universidade de Freiburg (Alemanha), Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais – Produção, Paisagem, Agroenergia – Universidade de Milão (Itália) e Automation SRL (Itália).

Pretende-se, desta forma, contribuir de forma significativa para a agricultura de precisão, neste projeto que vai agora ser desenvolvido durante 36 meses, levando a Internet das Coisas (IoT) às vinhas e apontando para novas aplicações na agricultura e produção de fruta, um sector com importância significativa na economia global.

Já no que diz respeito ao futuro, o INL quer continuar a crescer e a inovar em áreas como computação quântica, saúde, alimentação, ambiente e energias renováveis. 

Pode ler aqui a segunda parte da reportagem envolvendo a investigação feita no INL para a Samsung e General Motors.