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Semente plantada na Lua “vai ajudar as missões tripuladas a Marte”

Planta que germinou num recipiente na superfície lunar.
A sonda que aterrou com sucesso no lado oculto da Lua.
(Xinhua/Xinhua via Getty Images)

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A astrobióloga portuguesa Zita Martins explica-nos o que significa para a exploração espacial a primeira semente que germinou na Lua (com ajuda terrestre), na missão chinesa Chang’e 4.

A primeira planta a ser germinada na Lua por humanos foi uma semente de algodão e, entretanto, até já morreu. Só o pequeno recipiente em que tudo aconteceu no satélite terrestre custou mais de um milhão de euros mas, dizem os cientistas chineses da Universidade de Chongqing que acompanharam a missão da sonda Chang’e 4, foi a primeira experiência do género realizada com sucesso.

A sonda chinesa chegou ao lado oculto da Lua a 3 de janeiro e levou consigo sementes de algodão, colza, batata, ovos de mosca da fruta e algumas leveduras. Aparentemente, só uma germinou, a de algodão.

A planta que germinou na Lua, dentro de um recipiente.

Zita Martins, astrobióloga portuguesa que já brilhou em Londres, no Imperial College (e voltou recentemente ao Instituto Superior Técnico), explica-nos que até “já tinham sido plantadas sementes antes, na Estação Espacial Internacional (ISS), mas era necessário ver se, de facto, se conseguia germinar plantas num planeta/satélite”. Agora, já vimos que “é mesmo possível”, mas a especialista explica que a planta não foi plantada no solo lunar, “foi plantada com solo, água e ar preparado antes e levado para a Lua”. Na verdade, as primeiras plantas a germinar no espaço foram zínias (flores), o que aconteceu em 2016, na ISS.

Neste contexto, o que está a ser testado são “os efeitos da radiação e a microgravidade no crescimento da semente na Lua”. Os motivos? Tudo isto “tem implicações para futuras missões tripuladas a Marte”, até porque “levar humanos a Marte (para viver), implica que haja um sistema de agricultura, e portanto é necessário testar se sementes germinam em condições de radiação elevada e microgravidade”.

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O objetivo da missão é de perceber se é possível criar condições para a agricultura, criando uma biosfera artificial, já que as temperaturas na superfície lunar podem exceder os 100 graus celsius durante o dia e os 100 negativos durante a noite e num ambiente com mais radiação solar e uma gravidade menor do que na terra.

O recipiente usado é um cilindro de alumínio com três quilos, 18 cm de altura e 16 cm de diâmetro. O custo superou o 1,2 milhões de euros e é  capaz de manter a temperatura entre 1 e 30 graus, permitindo a entrada de luz natural, água e nutrientes.

E há riscos de contaminação na Lua? Zita Martins indica que não, porque “a semente não foi plantada diretamente na Lua mas num ‘habitat artificial’ levado pela equipa chinesa”. Sobre esse tipo de temas, de legitimidade e legalidade relativamente aquilo que se pode ou não fazer na Lua, “há um comité de investigação espacial (Committee on Space Research, COSPAR) que tem um acordo sobre proteção planetária (Outer Space Treaty)”. É aí que se classifica “as missões espaciais em várias categorias, consoante o planeta ou satélite que vão visitar”.

Nesta temática, a astrobióloga, que também estuda a origem da vida na Terra, revela: “a Lua tem um estatuto diferente de outros satélites e até de planetas (como Marte), uma vez que não tem quase restrições quanto a contaminação (isto não é 100% verdade porque o gelo polar lunar tem potencial interesse para a Química Prebiótica e para o estudo da origem da vida na Terra)”. É esta questão que permite à sonda chinesa Chang’e 4 fazer experiências na Lua.

A China vai enviar uma nova sonda, a Chang’e 5, desta vez para o lado visível da Lua, no final de 2019. O objetivo é o de recolher amostras de solo lunar, e trazê-las de volta à Terra para serem analisadas. A China ambiciona ainda construir uma base na superfície lunar a longo prazo, que possa ser partilhada por vários países.

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