Christopher Wylie era um dos nomes mais antecipados da edição deste ano da Web Summit. Passados seis meses do eclodir do escândalo, o ex-investigador e principal delator do escândalo Cambridge Analytica faz o rescaldo do escândalo que colocou em causa o que é a privacidade.
Como seria de esperar, Wylie foi igual a si próprio: incisivo e com muito para contar. Wylie recordou como começou o escândalo da Cambridge Analytica e os primeiros passos dados. “As pessoas eram levadas para grupos o Facebook, ligadas à alt-right. E, na altura, os algoritmos do Facebook eram muito sensíveis. Se colocavas as pessoas num desses grupos, metade do trabalho era feito pelo Facebook”, recorda Wylie.
“O Facebook autorizou isto [a utilização de dados], sabiam exatamente aquilo que estava a acontecer”, assegura Wylie. “Eles sabiam disto desde o início e não fizeram nada”.
“A primeira coisa que aconteceu quando me vim embora foi ser processado”, explica Wylie, recordando que tudo isto surgiu ainda antes das eleições de 2016. O investigador decidiu abandonar a empresa SCL quando percebeu as dimensões da questão em causa. “Steve [Bannon] queria criar a sua própria NSA”.
“O Facebook tem tanto poder, está a fazer um clone digital da nossa sociedade. O que é que acontece quando os sistemas de IA começarem a comunicar entre si?”, pergunta o principal rosto que trouxe o escândalo de privacidade a público.
“Como sociedade, não estamos a ver aquilo que se está a fazer. Estamos a deixar estas empresas colonizar a nossa sociedade”, questiona Wylie, assegurando que as empresas de tecnologia estão a fazer o papel de colonizadoras, mas dos tempos modernos.
“Isto é uma história de colonialismo. A questão é que os nossos governos não estão preparados para lidar com isto”, lamenta Wylie.
E não é apenas aqui que tem uma opinião forte: enquanto alguém que trabalha com dados – por várias vezes já se assumiu como um ‘data nerd’ – Wylie explica a necessidade de haver limites neste tipo de operações. “Tenho uma profissão que não tem um código de conduta. Tocamos a vida das pessoas de uma forma tão profunda, que precisamos de ter códigos, regulação”.
“Estamos a brincar com o fogo e quando isso acontece, as pessoas magoam-se”.