Depois de Christopher Wylie o ano passado, Web Summit anuncia outra das delatoras do escândalo Cambridge Analytica e protagonista do documentário The Great Hack: Brittany Kaiser. Evento aposta forte no tema da privacidade na era digital.
De estrela em ascensão na venda de serviços com base em dados analíticos para influenciar eleições da Cambridge Analytica, a delatora quando começaram a surgir as primeiras acusações de uso indevido de dados de utilizadores do Facebook. A norte-americana Brittany Kaiser diretora de negócio na empresa britânica e depressa se tornou em persona non grata, acabando mesmo por ajudar a levar ao fim da empresa e a denunciar um dos casos mais graves de manipulação de eleições (através de dados vindos das redes sociais).
Kaiser é mesmo a protagonista do mediático documentário da Netflix, The Great Hack. Os realizadores Karim Amer e Jehane Noujaim acompanham a jovem americana na altura em que decidiu contar o que sabia e em que se debatia com várias dúvidas sobre o que fazer. Brittany Kaiser acaba por relatar a influência que a estratégia do seu chefe, Alexander Nix (ele que esteve na Web Summit em 2017, no ano antes ao escândalo ‘rebentar’), terá tido em eleições como a dos EUA e a campanha do Leave, pelo Brexit, no Reino Unido. Kaiser mostra práticas manipuladoras, explica com pormenor como se reuniu com a campanha de Donald Trump e como a empresa Cambridge Analytica deu ‘o empurrão’ através das redes sociais, com uso de vídeos (alguns só para provocar confusão) para ajudar a eleger com votos cruciais em algumas zonas o atual presidente dos EUA. Outro dos relatos surpreendentes foi quando se reuniu com Julian Assange, o líder da WikiLeaks.
Tudo o que revelou, que mostra bem as formas de manipular pessoas com ajuda do uso abusivo de dados vindos do Facebook, levou a que Kaiser fosse já várias vezes chamada para falar às autoridades dos dois países. No início do ano foi inclusivamente ouvida por Robert Mueller, para o seu relatório sobre o ataque da Rússia às eleições presidenciais dos EUA de 2016.
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Desde que decidiu revelar o que sabia, Kaiser tem tentado ser uma voz contra o uso indevido dos dados pessoais e a manipulação de pessoas online e aproveitou o mediatismo para lançar um livro: Targeted: My Inside Story of Cambridge Analytica.
(trailer do documentário da Netflix, The Great Hack, que estreou no início do ano)
A Web Summit anunciou, assim, em comunicado, a presença de Brittany Kaiser de 4 a 7 de novembro, em Lisboa, mas não avançou quais os dias em que estará presente. A gestora de 33 anos nascida em Houston, no Texas irá falar na conferência Deep Track, sobre o que pode ser feito para combater os perigos na democracia. Também estará no painel de Sociedades do Futuro com David Chaum, líder do Elixxir – é apelidado do inventor do dinheiro digital (blockchain) -, para discutir o impacto da tecnologia na privacidade e as possíveis soluções para esse problema.
Snowden, Vestager, Blair, Jaden Smith e companhia
A Web Summit está particularmente focada este ano em reflectir sobre a privacidade e cibersegurança, já que também terá o famoso delator das práticas do NSA, Edward Snowden (através de vídeo), e a presidente da Fundação de Liberdade de Imprensa e Comissária Europeia da Concorrência, Margrethe Vestager – que volta ao evento.
Em destaque este ano, noutras personalidades mais mediáticas, está o ex-primeiro ministro britânico, Tony Blair, o filho de Will Smith, Jaden, o chairman da Huawei, Guo Ping e ainda a ex-estrela de futebol que agora é uma espécie de apresentador-filósofo, Eric Cantona.
Não faltam outras personalidades importantes em diferentes áreas, da CEO da Wikipedia (Katherine Maher), ao presidente da Microsoft (Brad Smith – um regresso), até à diretora de sustentabilidade da Google (Kate Brandt), ou ao fundador e CEO da Boston Dynamics (Marc Raibert).
Também estará o diretor de inovação da Samsung (David Sun), o vice-presidente de videojogos da Microsoft (Phil Spencer) ou o CTO da Amazon (Werner Vogels) – da empresa de Jeff Bezos também estará o vice presidente para o projeto Alexa e de inteligência artificial, Rohit Prasat.
O Facebook está representado em áreas fora do domínio de rede social: estará o vice presidente do projeto Calibra, que será a base para a moeda digital Libra (que tem estado a ter problemas para ver a luz do dia) e o responsável pelo serviço Workplace, Julien Codorniou.
Na mobilidade, destaque para a Uber, que traz a sua líder de privacidade, Ruby Zero, bem como o seu CPO (diretor de produto), Manik Gupta. Também destacamos nesta área o CEO e fundador da Lime (líder nas trotinetes elétricas), Brad Bao; a diretora de marketing da Lamborghini, Katia Bassi; o cofundador da rival da Uber, Bolt, Markus Vilig e o CEO da Fórmula E, Alejandro Agag.
E já que estamos no domínio das sugestões, há ainda a cofundadora da Cloudflare, Michele Zatlyn – gigante do negócio da cloud que deverá abrir um escritório em Lisboa – e a Comissária Europeia para Justiça, Consumo e Igualdade de Género, Vera Jourová.
A IKEA terá a sua CDO, diretora da área digital, Barbara Martin Coppola, presente. Também estará no evento um membro da Câmara dos Representantes dos EUA, Ro Khanna, que representa a zona de Silicon Valley; o CEO e fundador do Revolut, Nikolay Storonsky ou um dos managing partners do SoftBank Vision Fund, Munish Varma – um dos fundos que mais gasta em investimento em empresas a nível mundial.
Simon Segars, o CEO da ARM Inc, uma empresa de semicondutores que tem inovado e fornece componentes para todos os gigantes do mundo, incluindo nos smartphones.
Pode ver a lista completa de oradores aqui e pode ler a nossa entrevista completa ao líder da Web Summit, onde explica o processo de escolher os oradores e como foi processo de construir a conferência sem financiamento aqui:Paddy Cosgrave abre Web Summit aos livros e fecha a Zuckerberg.
The Great Hack, o documentário que vai mostrar-lhe o poder dos dados que oferece às empresas