A atividade solar está cada vez mais violenta e tem o poder de desligar redes elétricas e derrubar satélites. Missão europeia Lagrange vai ser o sistema de alerta antecipado.
Poucos sabem ou falam dela hoje em dia, mas a tempestade solar de 1859, também conhecida como Evento Carrington, foi uma poderosa tempestade solar geomagnética que, se acontecesse hoje, teria impactos inimagináveis na civilização humana. Um “feixe de luz branca” na fotosfera solar foi observado e registado pelos astrónomos ingleses Richard C. Carrington e Richard Hodgson e, houve tanta atividade geomagnética na Terra que as chamadas Luzes do Norte ou Auroras Boreais foram vistas até o sul de Cuba.
Vários estudos têm demonstrado que, se uma tempestade solar desta magnitude acontecesse hoje, iria trazer vários problemas para a civilização humana moderna, que é muito dependente de energia elétrica. Além de tirar eletricidade aos centros urbanos, iria baralhar os sistemas GPS e colocar as comunicações via satélite totalmente em risco. Os cientistas indicam que há uma probabilidade de 12% de um evento semelhante ao de 1859 ocorrer entre os anos de 2012 e 2022.
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A análise do clima espacial procura avisos deste tipo de eventos catastróficos (incluindo explosões solares mais pequenas, mais frequentes). É observado o vento solar do sol, as ejeções de massa coronal (o que cria campos magnéticos violentos) e outros fenómenos. As previsões podem prever, por exemplo, quando as auroras boreais vão iluminar o céu, mas, mais importante, podem alertar para um evento catastrófico iminente.
O sistema científico que existe neste momento dá-nos apenas algumas horas de aviso, por não haver uma boa visão completa do sol, o que invalida que se observe se algo perigoso se está a formar de um dos lados não visíveis. Uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA) vai poder mudar esta situação, dando-nos uma visão completa do sol, um recurso fulcral para os meteorologistas solares. Os cientistas estão numa corrida contra o tempo para que a missão Lagrange seja lançada antes que os métodos tradicionais para detectar fenómenos perigosos no sol fiquem ainda mais inoperacionais.
Até agora, a maioria das missões meteorológicas espaciais tem estado na órbita da Terra ou localizadas no chamado ponto L1 de Lagrange, que fica entre a Terra e o Sol. Os pontos Lagrange são locais no espaço onde um objeto mantém a mesma posição em relação a dois corpos que estão em órbita ao redor um do outro. Ou seja, um objeto no ponto L1, aparenta ficar na frente da Terra, mas proporciona uma visão ininterrupta do sol em todos os momentos. Daí este ser o lugar ideal para missões científicas desta natureza: gasta-se menos energia para manter a nave no local e recebesse mais dados dos satélites observadores do sol. O problema é que só nos dá a visão de um lado da estrela.
A missão Lagrange da ESA vai agora aproveitar o ponto 5 de Lagrange para nos dar uma nova perspectiva. A L5 está numa posição diferente, mais lateral face à Terra, que nos dá a visão lateral do planeta. “Esta é a primeira nave que vai mesmo ficar no ponto L5 e fornecer dados de forma contínua”, explica o diretor do planeamento de missões da ESA, Stefan Kraft ao MIT Technology.
Essa visão deverá permitir que os cientistas da ESA tenham uma visão constante da superfície do sol, antes deste girar na direção da Terra (o sol gira aproximadamente uma vez a cada 27 dias), fornecendo assim alertas mais precisos e com bem maior antecedência sobre se o clima espacial perigoso está a caminho. Com mais tempo, pode-se tomar mais precauções na Terra e evitar consequências irreversíveis.
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