O Facebook fechou uma página criada pelo co-fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, que tentava chamar a atenção para milhões de euros de evasão fiscal que estarão a verificar-se na Irlanda.
Paddy Cosgrave, o ativista. O CEO da Web Summit revelou na segunda-feira que era ele a pessoa que estava por trás de uma campanha feita sob o nome de Agência Tributária Irlandesa, que foi criada para “educar os cidadãos europeus sobre novas estruturas fiscais irlandesas”.
Esta terça-feira, o Facebook fechou a página por ter violado as suas regras, indica a rede social de Mark Zuckerberg. O gigante tecnológico indica que a página considerada anónima foi usada para criar anúncios direcionados para os utilizadores europeus de sua plataforma: “violando as nossa políticas contra a falsificação de identidade”.
A página e o site tinham inclusive um número de contato que era do próprio Ministério das Relações Exteriores da Irlanda, não revelando nenhuma informação sobre quem estava por trás da campanha. Os anúncios indicavam aos cidadãos europeus de que as empresas poderiam reduzir os seus impostos para apenas 1%, “mudando-se para a Irlanda e fugindo dos países com impostos altos da UE”.
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Cosgrave afirmou que lançou a campanha após a divulgação de um relatório, em março, das Nações Unidas que criticava as leis fiscais preferenciais da Irlanda para fundos abutres (que compram empresas em dificuldades), que compram depois prédios inteiros de apartamentos e zonas habitacionais no país, aumentando os preços de forma generalizada para a população local.
Esses donos de fundos abutres “tornaram-se corporações sem rosto que destroem o direito dos inquilinos à segurança e contribuem para a crise imobiliária global”, disse a ONU.
O co-fundador da Web Summit explicou que está particularmente motivado contra o uso pelos tais fundos abutres de uma estrutura legal livre de impostos conhecida como um fundo de investimento alternativo para investidores qualificados (QIAIF), que pode ser instalado em cerca de 24 horas com poucas restrições, hoje em dia, na Irlanda.
Cosgrave, que fundou a Web Summit em 2009 na Irlanda e saiu em conflito com as autoridades do país para Lisboa em 2016, criou uma campanha semelhante precisamente em 2016. “A minha expectativa é que, como em 2016, se aumente a consciência global sobre estas estruturas fiscais que existem na Irlanda e que eu, pessoalmente, considero que beneficiam de buracos legais. A ideia é provocar uma pressão renovada sobre o governo irlandês para fechá-las”, explicou Cosgrave num post no seu Facebook.
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No Twitter, Cosgrave não recriminou o Facebook por lhe fechar a página e até elogiou o “maior escrutínio e a transparência em relação à publicidade no Facebook”, explicando que isso é bem-vindo. “Eu pude fazer anúncios durante 5 dias e sem impedimentos para pessoas da Comissão Europeia, OCDE e Wall Street Journal sobre impostos na Irlanda. Com o tempo, os algoritmos devem reduzir esta hipótese a zero”, disse ainda o líder da Web Summit. Cosgrave diz ainda que a campanha no Facebook atingiu mais de 1,4 milhões de pessoas.
O co-fundador da Web Summit publicou ainda um vídeo a explicar o tema e admitiu não perceber como os principais meios de comunicação do país não noticiaram o relatório das Nações Unidas:
As leis tributárias irlandesas estão sob escrutínio internacional há algum tempo, com os parceiros europeus a acusarem o país de conceder incentivos fiscais exagerados a empresas multinacionais. Gigantes digitais como o Google, o Facebook e a Apple, que mantêm sua sede europeia no país, costumam registar os seus lucros europeus na Irlanda para evitar o pagamento de impostos mais elevados noutros países europeus.
Seth Rogen no Collision
Noutro tema, Paddy Cosgrave anunciou hoje a presença do ator Seth Rogen no evento Collision, uma espécie de Web Summit no continente americano, que se realiza a 20 de maio em Toronto, no Canadá. Rogen tem uma startup, Houseplant, focada na venda de canábis.