Coube a Brad Smith, da Microsoft Corporation, a tarefa de encerrar o palco principal da Web Summit nesta quarta-feira.
“A tecnologia está a avançar, a mudar no mundo – e há benefícios que a tecnologia está a criar”, principia o presidente da Microsoft Corporation, numa sessão que quis colocar a audiência a pensar sobre o tema da paz digital.
“Acredito que a inteligência artificial pode ajudar a curar o cancro”, reconhece Smith. “É uma época excitante para se viver. Mas também há outras questões e ameaças, coisas que se tornaram questões para a nossa sociedade”. No topo da lista de questões, Brad Smith coloca a utilização de ferramentas digitais para propósitos que não respeitam necessariamente a respetiva criação inicial.
“Uma das coisas que vemos é que as ferramentas que criámos foram transformadas em armas, por outras pessoas”, alerta. Recordado 2017, Brad Smith menciona duas datas que diz “terem acordado o mundo como nenhum outro dia”: 12 de maio, a data do ataque Wannacry, e 28 de junho, dia do ataque informático NotPetya.
Em conjunto, estes dois ataques de ransomware afetaram milhares de organizações, com empresas, hospitais e várias organizações na lista de afetados. Mas isto não é uma questão puramente empresarial, alerta Smith. “As pessoas estão a ser vítimas destes ataques. Não podemos alertar as pessoas para estas questões se o mundo não consegue ver como é que isto as afeta”, avisa. E, no palco da Web Summit, exemplificou que houve muitas pessoas afetadas por estes ataques de formas indiretas – desde consultas desmarcadas até acesso a informações pessoais bloqueadas.
“Não digo que a próxima guerra mundial esteja iminente, mas há lições que podemos tirar da primeira grande guerra”, avisa o presidente da fundação da Microsoft, que refere que será mais fácil explicar tudo às pessoas “quando as ameaças se tornarem claras para todos”. E, como seria de esperar, Brad Smith não iliba o setor tecnológico de responsabilidades. Aliás, refere incluse que o setor até uma “responsabilidade especial” nesta questão. “Gostem ou não, a realidade é que não há escapatória: tornámo-nos o campo de batalha”, avisa.
“Se queremos que este século seja melhor, precisamos de fazer melhor. Precisamos de pensar no que é que este século precisa, precisamos de governos que trabalhem melhor. Precisamos de governos que se cheguem à frente, que protejam cidadãos, que peçam a proteção da Internet. Queremos governos que façam estes princípios avançar”, alerta Brad Smith, que refere também que não são os governos que terão de resolver todas estas questões sozinhos. “Não podemos ficar em silêncio”, exige o presidente da fundação da Microsoft.
Brad Smith vê o mundo digital como uma comunidade, que é preciso defender. Este ano, a Microsoft lançou a campanha Peace Now, um compromisso para a paz digita. “Isto é a nossa comunidade digital e queremos que os governos a protejam, não que a ataquem”. E, para isso, pede a colaboração de todos, desde governos, empresas, ONG e cidadãos.
“Vivemos com uma nova geração de tecnologia – que é também uma nova geração de oportunidades. Vocês são a geração que vai desafiar, que vai viver a vida no século XXI, a geração cuja voz deve ser ouvida”.
A intervenção de Brad Smith acaba em jeito de conselho: “espero que usem a vossa voz, que trabalhem em conjunto e que façam deste um século melhor”. Para o presidente da Microsoft Corporation, é preciso aprender com as lições de há um século, com a I Guerra Mundial. “As vozes deste século têm de se fazer ouvir, a geração que cresceu no mundo digital, os nativos digitais. Isto importa, protejam o nosso lar”. Não se trata de um lar físico, claro, mas sim da comunidade que vive e partilha o mundo digital.