O ano de dissabores para o Facebook parece estar longe do fim. Depois de o New York Times ter revelado as movimentações internas da rede social para enfrentar o escândalo de privacidade, é agora revelada ainda mais informação sobre a forma como os dados dos utilizadores são usados.
Segundo o NYT, que teve acesso a documentos internos da empresa de Zuckeberg, não eram partilhados apenas dados ligados às informações públicas dos utilizadores. Empresas como a Apple, Netflix ou Spotify ou até a gigante russa Yandex tinham acesso a muito mais informação, fornecida pelo Facebook.
A reportagem revela que o Facebook terá permitido ao motor de busca da Microsoft, o Bing, ver os “nomes de todos os amigos de utilizadores no Facebook, sem consentimento”. No caso da Netflix e Spotify, o caso chegaria até à “capacidade de ler as mensagens privadas dos utilizadores”.
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Segundo o artigo, este acesso tão alargado à informação dos utilizadores terá até “surpreendido” as empresas parceiras – muitas delas organizações ligadas ao mundo da tecnologia. Serão mais de 150 as empresas que beneficiavam deste acesso privilegiado, em setores ligado ao retalho online, sites de entretenimento, organizações de media, além do mundo tecnológico.
Além do acesso às mensagens, esta grande investigação vai ainda mais longe: afirma que Spotify, Netflix e o Royal Bank of Canada conseguiam ler, escrever e até apagar mensagens privadas, além de poder ver quem é que estava envolvido na troca de mensagens.
O NYT afirma que a Apple teria até acesso a números de telefone e a marcações feita nas agendas – que a marca da maçã até desconhecia, é referenciado. Ao NYT, a Netflix reage também, referindo que “em momento algum acederam a mensagens privadas no Facebook ou sequer pediu esta funcionalidade ao Facebook”. Também o Spotify e o Royal Bank of Canada afirmaram desconhecer este acesso tão alargado.
A Netflix já emitiu a sua posição oficial sobre o assunto, referindo que a funcionalidade social da Netflix, ligada ao Facebook, já não existe. “Ao longo dos anos, procuramos diversas formas de tornar a Netflix mais social. Um exemplo disto foi uma funcionalidade que lançámos em 2014, que permitia aos subscritores recomendar séries e filmes para seus amigos do Facebook através do Messenger ou da Netflix. Nunca foi muito popular pelo que descontinuámos essa funcionalidade em 2015. Em nenhum momento acedemos as mensagens privadas das pessoas no Facebook, nem pedimos permissão para tal”.
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Foram entrevistadas mais de 60 pessoas, incluindo ex-trabalhadores do Facebook e empresas parceiras, ex-oficiais de agências governamentais e ativistas pela privacidade. Como informação complementar, o New York Times analisou mais de 270 documentos internos do Facebook, que demonstram a relação entre a rede social e empresas envolvidas na parceria.
Depois da publicação da reportagem, o Facebook partilhou um post de resposta, assinado por Konstatinos Papamiltiadis, responsável pela área de plataforma para programador e outros programas.
“Para colocar as coisas de forma simples, este trabalho foi feito com o intuito de ajudar as pessoas a fazer duas coisas. Primeiro, podiam aceder à sua conta do Facebook ou a funcionalidades específicas do Facebook em dispositivos e plataformas feitas por outras empresas, como a Apple, Amazon, Blackberry ou Yahoo”, referindo-se aos parceiros de integração. “Em segundo lugar, as pessoas podiam ter experiências mais sociais – como ver as recomendações de amigos do Facebook”, é referido.
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Com várias perguntas e respostas, o Facebook confirma que os parceiros tinham acesso às mensagens – mas para isso era preciso que as pessoas tivessem dado autorização explícita ao Facebook para ter acesso às funcionalidades de mensagem na funcionalidade.
Já Steve Satterfield, responsável pela área de privacidade do Facebook, vai mais longe nas resposta e afirma que os “parceiros do Facebook não podem ignorar as definições de privacidade das pessoas – e é errado que sugiram que o façam”.
E o Facebook reconhece também que sabem que a confiança dos utilizadores na rede social já passou por melhores fases. “Sabemos que temos trabalho a fazer para recuperar a confiança das pessoas. Proteger a informação das pessoas requer equipas mais fortes, melhor tecnologia e políticas mais claras – e é nisso que nos temos focado numa grande parte de 2018″.
Notícia atualizada às 18h29 do dia 19 de dezembro, para incluir declaração oficial da Netflix.