No evento Histórias de Natal na Praça do Município em Lisboa, o tema estava lançado: onde estamos no mundo da robótica e inteligência artificial e como é que estas tecnologias vão mudar a nossa vida? Robôs, aprendizagem automática e ainda uma conversa sobre o talento nacional.
Portugal pode ser um país pequeno, mas José Santos-Victor, presidente do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR), do Instituto Superior Técnico (IST), acredita que “temos imensos Ronaldos na engenharia, física e na investigação”. Faz o paralelismo com o mundo do futebol, onde a formação portuguesa tem conseguido dar cartas além-fronteiras. Arlindo Oliveira, presidente do IST, afina pelo mesmo diapasão, ao destacar o talento nacional que tem conseguido sair pelas portas do Técnico.
“Aquilo que se tem conseguido fazer em Portugal, na área da robótica, mesmo com as condicionantes de mercado, é notável”, diz o professor Santos-Victor. Refere ainda que há cada vez mais alunos estrangeiros a querer embarcar neste mundo do desenvolvimento de robôs em território luso. Arlindo Oliveira exemplifica as conquistas portuguesas da IA com empresas portuguesas como a Unbabel ou a Talkdesk, o mais recente unicórnio português (startup com uma valorização acima dos mil milhões de dólares).
Apesar da capacidade de atração do mundo da tecnologia em Portugal, Arlindo Oliveira não deixa esquecer que existe um défice considerável de profissionais de tecnologia para fazer frente às necessidades crescentes do mercado. Para o presidente do IST, os recursos humanos são justamente a maior limitação do mercado nacional. “Não há pessoas suficientes com competência gerais de computação”, aponta, destacando que existe uma pressão ainda mais notória nos campos dos profissionais dedicados à IA e nas áreas de segurança”.
Não há receitas mágicas para conseguir fazer frente a esta guerra aberta pelo talento, conforme descrevem os dois investigadores. Há quem fale em apostar no código desde tenra idade ou quem refira a reconversão profissionais de outras áreas como outra via para conseguir atenuar a falta de recursos. Arlindo Oliveira tem outra visão.
“Não temos alternativa a não ser começar por todos os lados, o que é um pouco estranho. Temos de expor os jovens à computação no ensino básico, secundário e também no mundo universitário. Termos de dar competências às pessoas”, explica, sem esquecer que estas competências digitais, no futuro, terão de ser transversais aos vários setores de atividade.
“Alexa ou a Google Assistant são muito mais inteligentes do que a Sophia”
Se se fala em robótica, é impossível passar ao lado de casos tão conhecidos do público como a robô Sophia, criada pela Hanson Robotics. Tornou-se conhecida do público português pela presença regular na Web Summit e, mais tarde, ao ser contratada para contracenar junto a Cristiano Ronaldo nos anúncios de um operador de telecomunicações.
Para Arlindo Oliveira, a inteligência artificial da Sophia “está a ser vendida como gato por lebre”, referindo que se trata de um exemplo de uma “operação de marketing”. “Por exemplo, a Alexa ou a Google Assistant é muito mais inteligente do que a Sophia. Se o software equivalente ao da Alexa estivesse na robô Sophia a coisa seria diferente”, explica. Já o professor Santos-Victor reconhece “alguma sofisticação ao nível de mecanismos” da conhecida robô.
Reconhecem que o caminho para a IA estar mais presente nas casas passa pelo desenvolvimento de interfaces mais naturais. Arlindo Oliveira aponta que, para ser mais inclusiva, ainda é preciso ultrapassar a “barreira da língua”. “Se tivermos interfaces naturais, a barreira da língua vai ser ultrapassada e as gerações mais velhas vão a interação mais natural”, explica.
Mas e os robôs e a versão romantizada que existe, de que podem vir a ultrapassar os humanos, como vemos nos filmes? “As pessoas afeiçoam-se, já temos robôs que estão nos hospitais a interagir com crianças”, aponta.
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