Ferramentas das grandes tecnológicas podem ajudar a acelerar a adoção dos pagamentos com leitura por aproximação e sem PIN (contactless). Empresa ‘pisca’ ainda o olho às startups portuguesas.
A Visa está a travar uma luta há 60 anos com um velho conhecido e continua longe de conseguir a vitória: o dinheiro físico ainda é o método de pagamento mais popular entre os utilizadores. Como grandes problemas exigem grandes medidas, a empresa quer trazer para o tabuleiro de jogo novos argumentos.
No caso específico de Portugal, a Visa está interessada em trazer as ferramentas de pagamento da Apple e da Google.
“Estamos muito ansiosos por trazer toda a inovação que pudermos para o mercado. E isso inclui acelerar os pagamentos contactless, com cartões, mas também trazer os pagamentos móveis, como o Apple Pay, Samsung e Google Pay. São coisas que estamos mesmo muito interessados em trazer para o mercado”, disse ao Dinheiro Vivo/Insider a diretora-geral da empresa para Portugal, Paula Antunes da Costa.
A ideia foi reforçada por Bertrand Sava, diretor-geral da Visa para o sul da Europa, numa entrevista exclusiva com o Dinheiro Vivo/Insider. “Há muitos países no qual já o fazemos [disponibilizar Apple Pay], não há razão para que não o queiramos fazer em Portugal. Nós queremos”, sublinhou.
Questionados sobre porque razão estas ferramentas ainda não chegaram a Portugal – aqui ao lado, em Espanha, por exemplo, já estão disponíveis -, o executivo da Visa lembra que nos últimos anos o ecossistema dos pagamentos no país não esteve alinhado nesta vontade e que “houve outras prioridades na agenda”. Mas também frisou que espera que “apareçam em breve”.
Apesar de os portugueses ainda não terem adotado em massa os pagamentos contactless e com dispositivos móveis, há outros dados que animam os responsáveis da Visa. Segundo a empresa, 75% dos portugueses “já usam um dispositivo móvel para olhar para a conta bancária, para pagar ou para comprar algo online”, referiu Paula Antunes da Costa.
“O contactless é uma oportunidade que vemos para migrar do dinheiro para os pagamentos eletrónicos, que são um meio mais eficiente”, acrescentou. “Temos uma boa aceitação e uma rede de pagamentos contactless, mas precisamos de fazer mais em termos de educação do consumidor e treino dos comerciantes, para expandir a utilização destes pagamentos”.
Em Londres, no Reino Unido, o simples facto de a rede de transportes local ter passado a aceitar cartões contactless catapultou a utilização deste método de pagamento no retalho. Em Portugal, segundo dados do Banco de Portugal para 2017, o contactless só representa 1,6% das transações e representa 0,6% do valor total das transações eletrónicas.
Além das ferramentas de pagamento da Apple e Google, e do crescimento do contactless, a Visa definiu ainda como grande prioridade para o mercado português a aposta no comércio eletrónico.
“Os vendedores queixam-se e têm razão. Temos uma das maiores taxas de abandono no final da compra online e isto é algo que estamos a tentar melhorar com os bancos. Na Europa a média de abandonos é de 5% e nós provavelmente estamos nos 30%, é muito alto”, disse a responsável para Portugal.
Mais novidades a caminho
Em junho, a Visa lançou um programa de investimento, focado na Europa, no valor de 86 milhões de euros, para investir em jovens empresas tecnológicas da área financeira (fintech). Na prática a empresa está a acelerar processos de investimento e parceria – as negociações que agora demoram quatro semanas, no máximo, antigamente podiam durar até nove meses.
Paula Antunes da Costa confirmou que a empresa de pagamentos está em conversações com startups portuguesas, mas não quis revelar nomes. “Estamos a olhar para a comunidade fintech, existem algumas iniciativas que ainda não podemos revelar de momento”, adiantou relativamente ao ecossistema nacional, que apelida de “interessante”.
Nas empresas em que investe, a Visa garante uma participação no seu capital, mas não só – garante também a inovação que estas startups estão a desenvolver, algo que é essencial para um mundo em constante mudança, como sublinhou Bertrand Sava.
“Pensamos que a Internet das Coisas também vai influenciar os pagamentos. Podes pagar com um anel, uma pulseira ou um relógio. Isto vai impactar o mundo dos pagamentos”.