Ana Teresa Lehmann é professora associada da Faculdade de Economia do Porto e ex-secretária de Estado da indústria.
Uma estratégia mobilizadora para Portugal, originando mudança e ação. Não era fácil. O desafio era grande. Mas o resultado está a ser enorme. Passado um terço do período de execução do Indústria 4.0, o programa mais ambicioso de modernização da indústria portuguesa das últimas duas décadas, 92% das suas 64 medidas estão executadas ou em execução.
Foi para apoiar a transformação digital da indústria que este programa a quatro anos, liderado pelo Ministério da Economia, através da Secretaria de Estado da Indústria, foi lançado. Os resultados são expressivos ao nível da implementação.
O governo pretende que a transformação digital seja transversal e abrangente. Por isso dedicamos especial atenção às pequenas e médias empresas, 99,7% do universo empresarial em Portugal. São a força que move a nossa economia.
O Indústria 4.0 tem sido um compromisso de todos. Do governo, de associações (incluindo a COTEC, parceiro na implementação), centros tecnológicos, academia, mas sobretudo das empresas, que têm compreendido a importância de investir na digitalização, na indústria do futuro. Sem perder o valor da nossa riquíssima tradição industrial, um ativo diferenciador no exigente xadrez competitivo global.
Vivemos numa era de tecnologias disruptivas, sim, mas temos em Portugal muitas empresas que apostam de forma consistente na inovação dentro da tradição. São muitos os exemplos que nos enchem de orgulho. Bem como nos orgulhamos das startups que vitaminam o ecossistema empresarial, que o energizam e que o desafiam.
É para mim um privilégio sentir o pulso a todo este momento extraordinário que Portugal vive. O governo está determinado a apoiar uma indústria inovadora, qualificada e de vocação exportadora.
Não podemos ignorar o potencial das tecnologias emergentes – há que aproveitar esta vaga de oportunidades.
O Blockchain é uma das ondas tecnológicas que vamos apanhar. Lançámos um grupo de trabalho para promover a inovação e a adoção do Blockchain na indústria, explorando o seu potencial de redução de custos, a otimização de processos, a transparência. No setor privado, apoiamos vários desafios lançados por alguns dos maiores grupos em Portugal, através da Aliança Portuguesa de Blockchain.
Falar de indústria de futuro é falar de inteligência artificial, uma das áreas mais disruptivas e promissoras, alvo de enormes investimentos de países e empresas. Porque é horizontal, aplicável a todos os setores, desde a agricultura de precisão a todos os ramos da indústria transformadora.
A União Europeia ainda não fechou uma estratégia comum, prevendo tê-la até ao final do ano. Com o nosso contributo. Estamos nos grandes foros de discussão e decisão. É o momento para Portugal avançar assertivamente neste domínio, unindo esforços dos atores relevantes.
Os desafios são enormes. Há muito trabalho pela frente, muitas mudanças, muita necessidade de adaptação. Este é o único caminho possível. Apanharmos esta incrível onda tecnológica, aproveitando o seu potencial, criando mais e melhores oportunidades de crescimento para as empresas portuguesas. Recuso-me a boiar passivamente na ótima execução ou a deixar a onda passar. Precisamos de nos manter na crista da onda.
* Este artigo de opinião foi originalmente publicado na edição de setembro de 2018 da revista Insider