Celso Martinho é CEO e fundador da Bright Pixel.
A Blockchain tem estado no centro das atenções, dividindo a comunidade técnica entre defensores ferozes, para quem a descentralização revolucionará o panorama digital, e os céticos, que sabem existir muitas barreiras antes de uma adoção significativa acontecer. Sou um pouco de ambos.
Apesar da crença popular, a Blockchain não é, a meu ver, uma revolução tecnológica. Ainda não. Pelo contrário: a tecnologia por trás não é nova. A matemática, a criptografia, os protocolos de comunicação peer-to-peer ou as árvores de Merkle foram usados muito antes da bitcoin.
O que era novo e revolucionário quando Satoshi Nakamoto escreveu o documento original da bitcoin, há dez anos, foi o protocolo de consenso, um conjunto de regras inovadoras e incentivos económicos que permitem manter uma rede segura e distribuída, que todos podem usar e beneficiar, mas ninguém possui ou controla. Tem mais que ver com economia, teoria dos jogos e física do que com tecnologia.
Existe também um problema de escalabilidade que ainda não foi resolvido com a maioria das tecnologias Blockchain, e que acho que não está para breve. As soluções virão de coisas que estão a ser desenvolvidas hoje, mas são necessários anos até podermos usá-las na vida real: sharding, algoritmos de consenso baseados em proof of stake (em vez de proof of work), DAGse interoperabilidade entre chains.
Apesar disso, o buzz à volta da Blockchain leva-nos ao final dos anos 1990, com o movimento open source e o aparecimento da web. A comunidade apaixonada, o senso de propriedade partilhada, as lutas religiosas, o lançamento de argumentos fortemente apoiados em cada fação e, claro, a existência de um grande líder. Vitalik Butterin é o novo Linus Torvalds e parece que a nossa geração, os geeks da pré-internet, têm a oportunidade de viver tudo de novo. O que há para não gostar?
Bem, muito. Como o facto de Blockchain também significar moedas não reguladas, mercados facilmente acessíveis e especulação selvagem. Também os meios de comunicação se apressaram a escrever manchetes com drama e descrença, antecipando um futuro sombrio. Juntamos ainda as posições pouco claras dos governos e reguladores e temos um ponto de fusão entre medo e incerteza, conhecido como FUD (fear, uncertainty, doubt).
Na Bright Pixel, acreditamos que as DLT (distributed ledger technologies) e a descentralização serão uma parte essencial da infraestrutura da próxima internet. Como nos anos 1990, é um privilégio poder viver num momento tão disruptivo. Estamos na fase do hype agora, por isso, o ruído, a desinformação e o ceticismo são abundantes. Não se preocupem; há sempre caos antes da disrupção.
Para uma versão mais aprofundada deste artigo, convidamos o leitor a visitar o blogue da Bright Pixel.
* Este artigo de opinião foi originalmente publicado na edição de setembro de 2018 da revista Insider