As máquinas não vão substituir os trabalhadores de carne e osso, mas estes terão de adotar uma nova mentalidade relativamente à formação: é preciso renovar conhecimento ao longo de toda a vida profissional.
Como em qualquer revolução, a disrupção implica quebrar hábitos e métodos para os substituir por outros mais avançados e adequados à realidade da sociedade. Foi assim na Revolução Industrial e será assim com a transformação digital aplicada a toda a economia, obrigando a que tanto os sistemas de ensino, como o Estado e as empresas apostem na reformulação das competências incutidas aos futuros trabalhadores. A educação dos próximos anos e décadas está na ordem do dia no Build Brighter Futures, o evento que junta gestores, professores, investigadores e alunos esta quinta-feira, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa.
A iniciativa, promovida pela Microsoft Portugal e iMatch, contou com a visita do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que partilhou com o DN Insider a visão que projeta do futuro na formação e no trabalho. “É necessário abrir cada vez mais os sistemas de ensino, mas também especializar e diversificar”, explica, acrescentando que esta é uma missão que deve envolver as empresas. “A criação de espaços e sistemas colaborativos de inovação e conhecimento é certamente o futuro, quer na reconversão das competências, o reskilling, quer na atualização de conhecimento, o upskilling”, defende.
No entanto, aferir hoje as competências que serão necessárias e valorizadas nos empregos do futuro, que não sabemos quais serão, não é tarefa fácil. Ainda assim, Pedro Faustino arrisca um palpite assente na experiência profissional enquanto managing director da Axians, defendendo que “haverá mais espaço para profissionais na área da psicologia, da sociologia, das neurociências”, uma zona do saber que começa a ser “muito procurada pelas empresas”. Se as ciências sociais e humanas são apontadas como mais relevantes no trabalho do futuro, o responsável da tecnológica não tem dúvidas de que a capacidade de liderança, formal e informal, será a pedra basilar do currículo dos trabalhadores.
“A componente de liderança tem de acontecer nas empresas”, defende, por ser “uma disciplina muito importante na vida profissional e acho que, neste campo, ainda existe alguma lacuna na formação dos profissionais que chegam às organizações”. O desafio de fortalecer a capacidade de liderança, mas também da constante renovação de conhecimento está, segundo Pedro Faustino, a ser abraçado pelo tecido empresarial, que de uma forma geral tem vindo a reconhecer a importância de apostar na formação e requalificação dos colaboradores. “Vejo as universidades também a querer fazer esse caminho”, remata.
Estudar durante mais tempo
No Centro e Norte da Europa, a tendência para investir na formação constante e na renovação de conhecimento faz parte da cultura empresarial e social. Na Dinamarca, por exemplo, a média de idade dos estudantes está fixada nos 41 anos, número que contrasta com a realidade nacional, cuja média é de 25 anos. “Este ano é o primeiro em que temos metade dos jovens a estudar, enquanto há cinco anos eram apenas 40%”, revela o responsável político, que defende a necessidade de “continuar a fazer um esforço para ter cada vez mais jovens no ensino superior, mas também para estudarem mais ao longo da vida. Isso só se faz com as empresas”, diz.