Numa altura em que a tecnologia tem ajudado a otimizar os processos de trabalho, treinar o lado mais humano dos funcionários está a revelar-se uma alternativa igualmente produtiva.
Reconhecer, perceber e gerir as nossas próprias emoções e as das pessoas que estão à nossa volta. É desta forma que Paulo Moreira, um dos maiores especialistas da área, define o conceito de inteligência emocional.
“É um conceito que está cada vez mais disseminado e que as próprias empresas já notam que é super importante desenvolver juntos dos seus colaboradores e dos líderes”, explica em entrevista ao Dinheiro Vivo, a propósito do lançamento recente do seu novo livro Inteligência Emocional: Uma abordagem prática.
O motivo é simples: funcionários com uma inteligência emocional mais desenvolvida são funcionários que tendem a ser mais produtivos, eficazes nas suas tarefas e também mais satisfeitos com os seus trabalhos.
“Temos um programa aberto ao público que se chama Resiliência com Inteligência Emocional – fazemos uma intervenção de três horas em pós-laboral e depois os participantes são acompanhados diariamente de forma não presencial. Medimos, antes e depois, os níveis de stress, felicidade, ansiedade e resiliência através de autorrelato e temos tido grandes números – entre 20% a 30% de diminuição de ansiedade e stress. Este tipo de competências com treino realmente tende a obter resultados”, explica.
Paulo Moreira considera que uma força de trabalho mais otimista é uma força de trabalho mais produtiva e que “grande parte das empresas do Fortune 500 já trabalham, não só inteligência emocional logicamente, mas para aumentar a satisfação de colaboradores ou o desempenho”.
O perito diz que em Portugal há um interesse crescente por esta área – já trabalhou com organizações como Vodafone, grupo Tivoli, Cruz Vermelha, Accor Hotels, Ageas Seguros, Remax, Randstad, entre outros -, mas também admite que muitas empresas ainda “preferem aplicar o dinheiro em melhorias na parte de marketing ou pensam que só os comerciais devem ter esta formação”.
Leia também | Os humanos contra-atacam. Inteligência artificial da IBM perde na arte do debate
“Em quase todas as empresas o orçamento de formação é curto e eles apostam na parte técnica, para os trabalhadores saberem desempenhar a sua função corretamente e depois pouco sobra para explorar estas áreas [inteligência emocional]. Só mesmo aquelas empresas que estão mais conscientes da importância é que realmente depois fazem um investimento que poderá trazer resultados, mesmo que não seja a nível de produtividade, pelo menos de satisfação, o que já é muito bom”.
Paulo Moreira, que no seu livro dá 57 dicas práticas sobre como cada um pode desenvolver a sua inteligência emocional, dá ao Dinheiro Vivo um conselho mais orientado para as empresas: a iniciativa para o treino da inteligência emocional deve vir dos líderes e não dos funcionários.
“Se o colaborador começa a desenvolver competências, a ficar mais consciente dos processos de pensamento, dos estados emocionais, mas depois vê que a pessoa que está acima de si não liga a este tipo de temáticas, não se interessam e têm um comportamento que não é adequado, então mais facilmente desistem e não aplicam e até torna-se mais prejudicial”.
Desenvolver a inteligência emocional e outras características inerentemente humanas – as chamadas soft skills – podem até vir a funcionar como um elemento diferenciador numa sociedade cada vez mais influenciada pela tecnologia.
“Todos nós temos a nossa inteligência emocional, mais desenvolvida nuns pontos do que noutros. O João pode ser excelente a gerir as emoções, mas não é assim tão bom a lidar com as pessoas ou pode ser excelente a lidar com as pessoas, mas não ter uma autoconsciência desenvolvida. Acho que neste mundo mais competitivo e rápido que nós temos, estas competências permitem-nos adaptar melhor às situações, permitem que lidemos melhor com as adversidades e ganhemos mais flexibilidade cognitiva”, explica o autor.
“[O Fórum Económico Mundial] Indica que as máquinas vão substituir tarefas que são mais mecanizadas, neste tipo de outras competências, pelo menos por enquanto, as máquinas ainda não conseguem substituir. Então também nós quando as desenvolvemos, tornamos isto numa mais valia para o mercado de trabalho”.
Os portugueses que estão a liderar a revolução da inteligência artificial