Empresas como a Vivo e a Xiaomi têm usado imagens de paisagens naturais de Portugal nas suas apresentações de novos smartphones. Huawei foi a mais recente empresa a dar destaque mundial ao património português e ao trabalho de José Ramos.
“Esta foto foi captada com o Honor 20 Pro em Portugal”, disse de forma entusiasta George Zhao, presidente da Honor, uma submarca da Huawei, na apresentação global do novo smartphone da marca que decorreu na terça-feira passada. Atrás de si via-se uma fotografia das Azenhas do Mar, uma aldeia que pertence ao concelho de Sintra.
Esta não foi a única vez que Portugal esteve em destaque durante a apresentação da Honor. Foram várias as imagens, de localizações diferentes do país, que foram vistas por dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo. E a ‘culpa’ é de José Ramos, um médico psiquiatra português que também é fotógrafo.
Tudo começou em 2018, quando José foi convidado por um fotógrafo chinês para ser o coordenador local de um grupo de turistas chineses que estava a fazer um tour fotográfico em Portugal. “Este fotógrafo tem algum reconhecimento na China e ele próprio terá divulgado as nossas paisagens nas redes sociais chinesas”, começou por explicar o fotógrafo natural de Beja em entrevista à Insider.
“O outro fenómeno que eu acho que também contribuiu muito para isto é o facto de Portugal ainda estar pouco explorado em termos paisagísticos e de já haver uma certa saturação de outros locais, ou seja, eles querem algo de novo”, acrescentou.
Foi a partir daí que passou a ser contactado por uma agência chinesa que trabalha com algumas das maiores marcas de smartphones a nível global. Primeiro surgiu uma proposta da Vivo, depois da Xiaomi e mais tarde foi a vez da Huawei.
“Eles dizem aquilo que precisam, aquilo que estão à procura, explicam um bocadinho quais são as funcionalidades do novo smartphone, nunca me dizem qual é o nome do novo modelo, e entregam um protótipo já muito próximo do final com algumas indicações com aquilo que querem que eu capte”, acrescentou José Ramos.
O trabalho específico para a submarca da Huawei começou já há dois meses, quando recebeu dois smartphones “com uma capa rígida para ninguém identificar de que aparelho é que se trata”. Depois vai captando fotografias, enviando para a marca e vão discutindo a evolução do trabalho.
“Neste caso, pelas características do Honor, eles queriam não só que eu captasse a paisagem global, mas também que usasse a lente de grande angular e também os vários níveis de zoom do telemóvel, o que representou um desafio extra que me tirou da zona de conforto, mas que foi um desafio muito interessante”, conta.
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José Ramos, de 37 anos, diz que capta, pelo menos, 100 fotografias de cada local, enviando depois cerca de 20 para a marca, que faz uma triagem final e escolhe os melhores disparos.
“O que acabei por escolher, aproveitando que estava num roteiro por várias paisagens portuguesas, foram as nossas paisagens algarvias, nomeadamente a Praia de Albandeira, a Praia da Marinha e a Ponta da Piedade em Lagos. Depois também fotografei na Praia do Castelejo, uma das praias mais a sul da Costa Vicentina”, detalhou. José Ramos fotografou ainda em Vila Nova de Mil Fontes e em Sintra.
“Acima de tudo são locais mais remotos e pouco explorados. Acho, sem dúvida, que este tipo de demonstração da nossa beleza pode ajudar a potenciar a procura dos locais”, diz-nos, acerca do impacto da exposição destas paisagens em grande apresentações de tecnologia.
Por esta altura deve estar a perguntar-se se as belas fotografias que são vistas nas apresentações dos smartphones são ou não editadas. José Ramos diz que por norma sim, mas que no caso específico do Honor 20 a edição de imagem era expressamente proibida.
“A Huawei esteve envolvida em polémicas no passado ao ter utilizado imagens que não tinham sido feitas com telemóveis, isto levou a uma grande polémica nos blogues de fotografia e de tecnologia. Talvez por isso a Huawei fez um pedido, que foi zero edição nas imagens. Todas as imagens apresentadas tiveram zero edição. Eu tive que tentar tirar o máximo partido do telefone, o que mais uma vez fez com que ainda mais importante fosse o processo de composição, seleção de luz e de múltiplas tentativas até as fotografias ficarem boas o suficiente para eles”.
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Havia ainda outra dúvida para responder: como é que um médico psiquiatra acaba por tornar-se num fotógrafo desejado por algumas das maiores tecnológicas chinesas da atualidade?
“Eu sempre tive uma grande paixão por natureza. Tenho 37 anos, fotografo mais ou menos há 14 anos, e é uma paixão que acaba por surgir quando venho estudar medicina para Lisboa, em que senti um bocadinho a necessidade daquela fuga para a natureza. Sou natural do Alentejo, estou habituado a ambientes menos caóticos, e na altura acabei por ver na fotografia uma forma de escape”, conta.
“Foi avançando muito devagarinho ao longo do curso, entretanto entrei para a especialidade de psiquiatria e a fotografia foi sempre acompanhando paralelamente o curso de medicina. O que foi curioso é que nos últimos quatro, cinco anos, também um pouco com a exposição online e com o que as redes sociais nos permitem, a parte fotográfica foi crescendo também exponencialmente”.
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