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Viajamos até 2028 e contamos-lhe como vai ser o nosso futuro

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Do governo às startups, do ambiente ao cibercrime, do espaço ao emprego. Até 2028, ano da última Web Summit em Lisboa, muito vai mudar. 

Por Ana Marcela, Ana Sanlez, Cátia Rocha, João Tomé, Diogo Ferreira Nunes, Marta Velho, Rui da Rocha Ferreira 

Em 2008 Barack Obama vencia as eleições presidenciais norte-americanas, enquanto o mundo entrava numa crise financeira sem precedentes. Em 2008, Elon Musk lançava o primeiro veículo espacial privado a entrar em órbita, o Falcon 1, da Space X, e a NASA colocava em Marte a Phoenix, a primeira nave não tripulada a chegar ao planeta vermelho. Em 2008, nascia o Spotify, o Facebook ainda não era mobile e faltavam ainda dois anos para conhecermos o Instagram.

Se em dez anos tanto mudou, é certo que daqui a dez voltas ao sol, o mundo não será o mesmo. Ao longo da última semana, desafiámos participantes e oradores da Web Summit a participar num exercício de regresso ao futuro, com o objetivo de saber quais as suas previsões e esperanças para 2028, o último ano em que a cimeira de Paddy Cosgrave terá, garantidamente, lugar em Portugal.

Mais robôs
A robô Sophia até poderá continuar a ser a estrela da Web Summit, só que, seguramente, não estará sozinha. Em 2028, os robôs humanoides farão parte do nosso dia-a-dia, acredita Jamie Paik, professora, fundadora e diretora do Laboratório de Robótica Reconfigurável da École Polytechnique Fédérale de Lausanne. “As máquinas da próxima geração vão ser os robôs. Toda a gente sabe que os robôs são o próximo grande acontecimento, mas vai ser algo em grande, não só no mercado profissional. Vai ser revolucionário porque vão entrar no nosso dia-a-dia. É quase como a transição que se fez, do telefone fixo para os telemóveis – aconteceu de forma muito rápida. Vai acontecer o mesmo com os robôs,” assume.

Quem também esteve em destaque na Web Summit deste ano foi o robô Furhat, da empresa sueca com o mesmo nome. O fundador e CEO da empresa é o sírio Samer Al Moubayed, que vaticinou ao Dinheiro Vivo/Insider que, daqui a 10 anos “vamos ver robôs sociais como o nosso em lojas, aeroportos, supermercados e até a ajudarem a fazer entrevistas de emprego a candidatos”. Samer admite que a inteligência artificial nos robôs neste momento ainda não está no ponto, mas está muito perto e vai haver vantagens enormes em ter um robô numa loja, a indicar de imediato o que está ou não em stock naquela loja e em outras sem necessidade de ver no computador, é só perguntar ao robô.

Leia mais: Furhat, o novo robô-estrela da Web Summit tem um preço

Carros a veículos voadores elétricos e autónomos
A condução autónoma vai mudar todo o setor da mobilidade até 2028. Mas não só. A generalização de veículos elétricos e de serviços de partilha de automóveis também deverá ser uma constante daqui a 10 anos, acredita Christoph Grote, vice-presidente do grupo BMW para a área eletrónica. O responsável alemão avisa, no entanto, que “embora a mobilidade esteja a mudar muito depressa, a transição para novas formas de nos deslocarmos será bastante lenta”.

O fundador da empresa alemã Volocopter, Alex Zosel, tem a certeza que dentro de 10 anos serão dezenas de cidades a aderirem aos táxis voadores autónomos. “É muito mais fácil termos veículos voadores autónomos do que carros, porque no céu não há os imprevistos que temos nas estradas, por isso vai ser mais rápido a haver veículos voadores elétricos ao estilo drones para levar pessoas, como é o caso do nosso Volocopter”, disse Alex Zosel.

Trotinete-scooter-avião-carsharing
O co-fundador da Lime, empresa californiana mais conhecida por ser um serviço de partilha de trotinetes elétricas e que entrou em outubro em Lisboa, acredita que dentro de 10 anos vai ter uma panóplia de serviços enorme para vários tipos de uso. “Vamos ter além de carros, eventualmente até veículo voadores elétricos e, esperamos, autónomos daqui a alguns anos e oferecer serviços para todo o tipo de necessidades de mobilidade”, explicou ao Dinheiro Vivo / DN Insider Caen Contee.

Espaço a valer o triplo
No espaço vão vaguear turistas, mas não só. Também poderemos ter centenas, ou mesmo de milhares, de satélites que poderão ser lançados por startups como a Vector. Tendo em conta a diversidade de negócios espaciais, Jim Cantrell, cofundador da empresa, acredita que este mercado, nos próximos dez anos, “vai valer o dobro, se não mesmo o triplo”. O norte-americano acrescenta que “como esta indústria está a crescer muito rapidamente, com muito financiamento, irá começar a proporcionar retorno para os investidores”. Certo é que Elon Musk acredita que em 2024 vai ter missões a Marte pela sua SpaceX e em 2025 conta mesmo levar pessoas ao planeta Vermelho.

Leia mais: Jovens, estudantes e com licença para esmiuçar o cérebro de Paddy Cosgrave (com vídeo)

Portugal com turismo sustentável
Os milhares de participantes que seguirão rumo a Lisboa, para a Web Summit de 2028, poderão também ter uma experiência turística diferente das que vivenciaram nestes anos. Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo, revela que a aposta nacional da próxima década passa pela eficiência e a sustentabilidade. “Para 2028, o turismo enfrenta o desafio da sustentabilidade ambiental. Temos que acelerar a adaptação da nossa oferta às questões da sustentabilidade ambiental e essa é uma das nossas metas na estratégia que definimos até 2027. Até essa data, assumimos que, pelo menos, 90% da nossa oferta tem de ser eficiente e sustentável.”

Elevadores horizontais
Em 2028, poderemos ter elevadores horizontais a mover pessoas de um ponto ao outro, por exemplo, pegando nelas no metro e entregando-as diretamente em casa. Talvez até a levar os participantes da Web Summit de pavilhão em pavilhão. “Daqui a dez anos vamos ver edifícios mais conectados, com elevadores não só verticais mas também horizontais que liguem as estruturas umas às outras. Pode ser uma realidade, pode ser bastante diferente, mas tudo será possível no campo da mobilidade”, assume Andreas Schierenbeck, CEO da Thyssenkrupp Elevator.

Nações Unidas da Tecnologia
“O cruzamento entre internet e política vai ser ainda mais notório. Hoje já vemos questões ligadas a mensagens nacionalistas, desinformação… Isto é um problema que não vai desaparecer, precisa de haver uma espécie de Nações Unidas da Internet das empresas. Possivelmente, nos próximos dez anos vamos ver a criação desta espécie de tratado da política da Internet. E isto vai ser a questão mais crítica da Humanidade, sem qualquer dúvida.” Quem o diz é Adam Hadley, diretor da Tech Against Terrorism, organização foi criada pelas Nações Unidas há dois anos. É também CEO da QuantSpark, empresa que opera no campo dos dados, como consultora.

Web Summit virtual
Já foi possível, nestes anos, assistir de casa ao que se passava no palco principal da Web Summit. Mas daqui a dez anos, essa realidade será aplicada a muitas outras esferas de participação da cimeira. Yves Bernaert, líder europeu da Accenture acredita que o evento de Paddy Cosgrave, em 2028, será ainda mais virtual e ainda mais focado em questões sociais. “A Web Summit será uma cimeira virtual e eu vou participar nela e interagir com as pessoas a partir de casa. Se não, será um evento que debaterá a tecnologia de forma mais humana do que de uma forma empresarial, apresentando soluções tecnológicas que resolverão os problemas do planeta.”

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A próxima CES 
Paddy Cosgrave gosta de classificar a Web Summit como Davos para geeks. Só que Deepak Krishna Murthy, vice-presidente e diretor de estratégia da SAP, acredita antes que a cimeira vai ser a próxima CES, a feira de tecnologia de Las Vegas, em termos de relevância no mundo da tecnologia. “A Web Summit não vai ser só um showcase de startups mas passará a ser também um showcase de inovação. Veja a conferência a transformar-se na próxima CES e a abordar temas como biotecnologia, nanocomputação, computação quântica. Muitas coisas interessantes vão acontecer. Até a experiência em si poderá ser diferente, pode ser mais virtual. A Web Summit vai ser fundamentalmente diferente, até na forma como é feita a curadoria,” aposta.

Das 9 às 5 nunca mais
Polina Montano não gosta de futurologia. “Previsões a mais de cinco anos são inúteis”, começa por dizer ao Dinheiro Vivo a fundadora da plataforma Job Today, que promete ligar empresas e candidatos em 24 horas. Ainda assim, fez um esforço para ver mais além no tempo. “Mas não é uma previsão, é um desejo”, alerta. “Idealmente o mercado de trabalho em 2028 vai ser muito flexível, ninguém vai querer trabalhar das nove às cinco. Gosto de acreditar que vai ser mais inclusivo e que as pessoas já não vão ser remuneradas de forma diferente com base no género ou na sua origem”. E as máquinas, vão mesmo substituir os humanos? A especialista mantém o tom positivo. “É claro que alguns empregos vão desaparecer para dar lugar a robôs. E quem vai sofrer mais são as pessoas menos qualificadas. Mas acredito que mesmo para essas haverá oportunidades num mundo mais tecnológico, porque vão surgir novas necessidades no mercado. O que é essencial é dar a formação adequada a essas pessoas, o que não tem de levar anos”. Polina não tem dúvidas de que em 2028 “a nossa vida vai ser mais fácil”.

Mobiliário para a vida
Líder mundial no setor do mobiliário caseiro, o Ikea também tem uma palavra a dizer sobre a forma como vamos decorar as nossas casas em 2028. “Vamos ver mais mudanças nos próximos dez anos do que vimos nos últimos 40. Em 2028, o mobiliário em casa será completamente diferente. As peças vão adaptar-se a nós: o mesmo sofá fará sentido enquanto formos novos e à medida que envelhecemos”, indica Pia Heidenmark Cook, diretora de sustentabilidade do grupo Ikea. Mas a responsável acredita que as mudanças serão transversais a todo o retalho. “O setor, no geral, está a passar por um período disruptivo. O comportamento dos consumidores está a mudar de forma muito rápida. No futuro existirão novas formas de adquirir produtos, com a economia a tornar-se mais circular, com um acesso diferente às coisas e com toda a logística do setor a transformar-se. O serviço ao cliente será cada vez mais importante.”

Desafios à escala global
Quando falamos de desafios globais, nem sempre as perspetivas são otimistas. Kenny Ewan, CEO da WeFarm – uma plataforma de partilha de conhecimento para pequeno agricultores – recorda duas ameaças que pairam sobre o nosso futuro: o acelerado crescimento populacional e as alterações climáticas. “A população deverá duplicar novamente e isso é muita gente para alimentar. As alterações climáticas serão também um fator a considerar e teremos mesmo que mudar a forma como vemos a agricultura e as competências agrícolas.” O responsável admite que atualmente o setor tem diversos problemas e assume que gostava que a WeFarm tivesse um papel decisivo na mudança. “Gostaríamos de pôr o agricultor novamente no centro da agricultura global. Neste momento são simultaneamente a parte mais importante e a que sofre mais abusos na cadeia de abastecimento,” indica.

Crimes pelas máquinas
A tecnologia vai também afetar o mundo do crime. Em 2028, os maus da fita serão piores, mas os bons também serão melhores. É a opinião de James Trainor. O vice-presidente da área de soluções de cibersegurança do grupo AON acredita que, com o passar dos anos, o cibercrime e a cibersegurança passarão da mão dos humanos para o domínio das máquinas. “No campo do cibercrime e da cibersegurança, tudo andará à volta do machine learning e da inteligência artificial. Atualmente a maioria dos crimes informáticos, diria cerca de 80%, é feita por pessoas ou tem algum tipo de envolvimento humano. Isso vai mudar. Será cada vez mais autónomo.”