Existem vários produtores e pessoas influentes em Hollywood determinadas em tirar os filmes dos serviços de streaming como Netflix e Amazon dos Óscares. Leis de anti-concorrência dos EUA podem salvar as novas plataformas.
O mote foi dado por Steven Spielberg logo após os Óscares que se realizaram no início de março. O realizador de ET, Tubarão e outros tantos filmes e um dos produtores mais influentes e ricos de Hollywood quer evitar que os filmes produzidos para streaming e não para as salas de cinema concorram aos prémios de cinema mais importantes do mundo.
Um dos exemplos em causa é Roma, o filme de Alfonso Cuáron produzido pela Netflix conquistou três dos 10 Óscares para que estava nomeado, incluindo a categoria de Melhor Realizador e só perdeu na mais desejada, a de Melhor Filme. Existem inclusive notícias que dão conta que houve alguma pressão para que Roma não desse à Netflix o primeiro Óscar de Melhor Filme para um conteúdo produzido para streaming.
Spielberg defende que existem diferenças entre filmes produzidos para streaming e para o cinema. Uma das principais reclamações é que os filmes da Netflix não respeitam os 90 dias entre o lançamento nos cinemas e a versão para ver nas televisões caseiras.
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No entanto, se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas responsável pelos Óscares quiser limitar a elegibilidade dos serviços de streaming para o Óscar, pode ter problemas com as leis norte-americanas. O Departamento de Justiça dos EUA advertiu a Academia que incluir mudanças nas regras de candidatura que limitam serviços como os da Netflix e da Amazon pode violar a lei de anti-concorrência do país, se efetivamente eliminarem a concorrência dos serviços de streaming em favor dos filmes que cumprem os tais 90 dias só para estreia em salas de cinema.
O chamado Sherman Act proíbe acordos anti-concorrência entre rivais e isso inclui restrições nos prémios que prejudicam as vendas de uma empresa de streaming. Um porta-voz da Academia confirmou à revista Variety que recebeu essa notificação do Departamento de Justiça e deu uma resposta que não quis divulgar. Pode haver desenvolvimentos quando houver o chamado Conselho de Governadores da Academia para determinar regras, marcado para 23 de abril.
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Muitos estúdios acusam os serviços de streaming de darem a volta ao sistema tradicional dos Óscares, incluindo cartazes de estreia em salas de cinema dos filmes, manterem secretos os dados sobre os espetadores em cada filme e pelo facto de fazerem lançamentos mundiais que prejudicam, dizem, os distribuidores estrangeiros.
As mudanças nas regras podem forçar os filmes de plataforma de streaming a permanecer mais tempo nas salas de cinema em exclusivo – com Roma durou apenas uma semana até ser lançado na plataforma a nível mundial – ou forçar as empresas a divulgar seus números de audiência.
A Netflix e outras plataformas de streaming argumentam que é importante dar um tratamento igual aos vídeos online e indicam que o streaming torna os filmes acessíveis a pessoas que não iriam de outra forma às salas de cinema, permitindo que tanto cineastas independentes a terem uma plataforma sem viver obcecados na pressão pelo sucesso de bilheteira que se verifica no atual sistema.