Alguns representantes do Facebook estiveram esta manhã no Parlamento para explicar qual o papel da empresa na luta contra a desinformação em Portugal.
Andy O’Connell, diretor do Facebook para a área de políticas de conteúdo e algoritmo, foi ouvido na Assembleia da República, numa comissão requerida pelo grupo parlamentar do PS sobre informação e desinformação nas redes sociais.
O contexto é oportuno – há menos de dois meses Portugal passou pelas eleições europeias. Em outubro, é tempo das eleições legislativas, e ainda antes disso, estão marcadas eleições legislativas regionais para a Madeira, em setembro. O responsável do Facebook, que está na estrutura da empresa há cerca de cinco anos, é o primeiro a reconhecer que é tempo de trabalhar nessa discussão e vem a Portugal referir que a empresa está disposta a colaborar com “a Comissão nacional de Eleições e com os partidos políticos”.
“Garanto que estamos comprometidos a atuar perante qualquer ator que possa interferir com esse momento”, referindo-se aos momentos eleitorais em Portugal. Além de indicar que a empresa está empenhada na luta contra a desinformação”, O’Connell faz questão de frisar que a rede social mudou. “Não somos a mesma empresa que éramos em 2016 ou há um ano”, garante. “Ainda estamos a aprender, esta jornada não chegou ao fim”, reconhece o representante do Facebook.
O discurso de O’Connell já é conhecido: o Facebook e os seus produtos servem para estar em contacto com familiares e amigos – e não tanto para ter acesso a informação: “Só 4% são notícias de jornalistas ou órgãos de imprensa”, esclarece, acrescentando que o Facebook é usado por “6,3 milhões de pessoas em Portugal, todos os meses”.
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O’Connell, que esteve na Assembleia da República também em representação do WhatsApp e Instagram, produtos que pertencem à empresa de Mark Zuckerberg, salienta que a dona da rede social tem vindo a alocar um investimento maior à área da moderação de conteúdos e segurança na plataforma. “Há dois anos só tínhamos 10 mil pessoas em moderação e segurança, hoje temos 30 mil. Estamos a gastar mais dinheiro nesta área, da moderação e da segurança, do que aquilo que o Facebook conseguiu quando entrou em bolsa”.
“Queremos frisar que achamos que já chegámos muito longe nos últimos anos”, reforça o norte-americano, que esteve nesta comissão acompanhado também por responsáveis ibéricas do Facebook, como Lola Baños, responsável de comunicação do Facebook para Portugal e Espanha.
Mas os números e medidas apontados por O’Connell não são suficientes para satisfazer os deputados portugueses. Uma das críticas, referida por José Magalhães, do PS, está ligada à falta de conhecimento sobre a atividade da rede social em Portugal. “O Facebook não tem face em Portugal”, afirma o deputado socialista, questionando o responsável norte-americano sobre a quem é que se deve dirigir um português que queira entrar em contacto com a empresa. “Um cidadão português que queira apresentar uma reclamação deve ir bater a uma porta a Madrid, Lisboa ou Dublin?” A questão ficou sem resposta, assim como a indicação do número concreto de portugueses que trabalham na moderação de conteúdos das plataformas do Facebook.
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Sobre outro dos temas sensíveis, Andy O’Connell indica que o Facebook “remove cerca de um milhão de contas falsas por dia”, na estratégia de redução e remoção de conteúdos que promovam a desinformação nas redes sociais. Segundo o responsável da rede social, a remoção de contas falsas da plataforma, recorrendo à inteligência artificial, “tem sido a forma mais eficaz” de lutar contra a desinformação.
O responsável do Facebook reconhece que depois de 2016, ano de eleições norte-americanas e da votação sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, foi necessário um momento de reflexão sobre o papel dos anúncios políticos neste cenário. “Depois de 2016 olhámos profundamente e não há nenhuma razão para os anúncios no Facebook serem um segredo. Todos os anúncios do Facebook são atualmente públicos”.
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Em resposta à deputada Diana Ferreira, do PCP, Andy O’Connell partilha algumas das conclusões sobre as motivações de quem partilha conteúdos de desinformação ou anúncios à luz da antiga política de anúncios políticos. “Em muitos casos, eram spammers com motivações económicas, sendo que a desinformação é uma forma de spam. Também há mais atores, com motivações políticas ou geopolíticas – e as estratégias para lutar contra estas ideias são bastante diferentes”, explica. “Os anúncios que os russos tinham em 2016 eram esforços mais subtis para criar a divisão, através de questões sociais”.
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