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Talento do Facebook em protestos contra Zuckerberg por deixar Trump à solta

Crédito: Casa Branca

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Podem os trabalhadores mudar a atitude do Facebook? Muitos acham que sim, fazem protestos e criticam publicamente Mark Zuckerberg por deixar posts de Donald Trump sem controlo.

As grandes tecnológicas (e startups baseadas em inovação) lutam há muito pelo melhor talento para ficar à frente dos outros, para ter os algoritmos ou a estratégia que faz a diferença e torna vencidos em vencedores. Foi daí que proliferaram os termos employer branding – onde as empresas tentam mostrar-se atrativas e cativantes para os melhores funcionários – e foi daí que Google e companhia tornaram os espaços de escritórios confortáveis como nunca, com espaços de entretenimento, lazer e comida gratuita.

Daí que os comportamentos de uma empresa ou a sua missão, no fim do dia, tanto podem apaixonar e trazer funcionários de empresas rivais como afastá-los. Nesse contexto, Mark Zuckerberg está a enfrentar uma reação gigantesca e, provavelmente, pior do que aquela que enfrentou por alturas do caso Cambridge Analytica de alguns dos responsáveis de várias áreas do Facebook.

Alguns funcionários seniores com responsabilidades criticaram publicamente o seu CEO por ele se recusar a tomar medidas face aos posts da semana passada de Donald Trump, onde este é acusado de “glorificar a violência”. Isso e porque Zuckerberg preferiu, em vez disso, criticar na quarta-feira o Twitter precisamente por deixar avisos nos posts de Trump – “somos comprometidos com a liberdade de expressão” e “não queremos ser árbitros da verdade”, chegou a dizer Zuckerberg.

Numa altura em que os protestos e os tumultos pela morte do afro-americano George Floyd às mãos de um polícia se espalharam por várias cidades americanas, Zuckerberg foi forçado a defender-se este fim de semana perante várias críticas dentro da própria empresa.

Protesto virtual contra passividade do Facebook

De acordo com o New York Times, dezenas de funcionários do Facebook realizaram já esta segunda-feira o que chamaram de paralisação ou protesto virtual contra a decisão da empresa de não tomar medidas em torno das mensagens consideradas “incendiárias” de Donald Trump.

A paralisação virtual vem na sequência de uma decisão do Facebook de não tomar nenhuma ação contra uma série de posts controversos de Trump, incluindo um que parecia ameaçar tiroteio contra os manifestantes e que foi “censurado” pelo Twitter por violar as suas regras em torno da glorificação à violência.

De acordo com o Times, os funcionários tiraram folga para apoiar os protestos em todo o país e estão a deixar mensagens de e-mail automáticas informando que estão fora do escritório “em protesto com a inação da empresa”.

 

Trump tem sido acusado de incendiar ainda mais os ânimos e o facto de Zuckerberg – que disse ter tido “uma conversa telefónica produtiva” com Trump na sexta-feira – querer permitir quase tudo aos políticos na plataforma, contrasta com a posição de alguns funcionários que usaram o Twitter para expressar as suas posições, como veremos de seguida.

Lauren Tan foi manager de uma equipa de programação na Netflix, deixou a empresa em janeiro para dirigir uma equipa no Facebook e foi clara num tweet: “A inação do Facebook em derrubar o post de Trump a incitar à violência deixa-me com vergonha de trabalhar aqui”.

Mas nomes com maior relevância no Facebook, tal como o líder de design do feed de notícias da rede social, Ryan Freitas, repetiram a mensagem. “O Mark está errado, e vou-me esforçar da maneira mais sonora possível para que ele mude de ideias”, disse na sua página de Twitter.

Jason Toff, que entrou há um ano no Facebook como diretor da área de gestão de produtos, admitiu mesmo que há um mais amplo do ativismo entre os funcionários da empresa. “Trabalho no Facebook e não tenho orgulho da forma como estamos a ser vistos”, disse ele Twitter. “A maioria dos nossos colegas de trabalho com quem falei sente-se da mesma forma e estamos a fazer a nossa voz ser ouvida”.

As vozes de protesto públicas e internas no Facebook forçaram Zuckerberg a fazer dois posts em três dias – uma para explicar a sua decisão face a Trump, a outra para doar 10 milhões de dólares a grupos que trabalham na área da justiça racial.

Andrew Crow, chefe de design do Facebook Portal colocou no Twitter: “Dar uma plataforma a alguém para incitar à violência e espalhar desinformação é inaceitável”. Já Jason Stirman, que faz investigação no Facebook também disse que discorda “completamente da decisão de Mark de não fazer nada sobre os ports recentes de Trump”, acrescentando: “Não estou sozinho no FB“.

O poder dos funcionários

Os trabalhadores dos gigantes tecnológicos têm mostrado que podem ser uma força relevante para mudar a postura das empresas em Silicon Valley, com Google, Microsoft e Amazon a serem várias vezes alvo de críticas públicas ou protestos dos seus funcionários em temas como o local de trabalho (e sexismo), alterações climáticas ou contratos militares. Umas vezes conseguem mudanças, outras não.

Os líderes de empresas tecnológicas como a Apple, Microsoft, Google, Amazon e Netflix, bem como SalesforceSlack, Uber e Twitter vieram este fim de semana a público expressar o seu apoio a campanhas antiracismo e de justiça criminal, com mensagens nas contas oficiais das respetivas empresas. A Netflix escreveu mesmo: “Calar é ser cúmplice. [Black lives] As vidas dos negros são importantes”. “O tratamento desigual e brutal face aos negros no nosso país deve parar”, disse a Amazon.

Zuckerberg admite: estou a debater-me

Na sexta-feira de madrugada (já sábado em Portugal), Zuckerberg admitiu na sua página de Facebook que passou o dia todo a debater-se “sobre qual a melhor de responder aos tweets posts do presidente”, acrescentando que tem “uma reação visceral negativa a esse tipo de retórica divisória e inflamatória” num “momento que exige unidade e tranquilidade”.

E admitiu ainda a insatisfação dos seus funcionários e de muitas pessoas nos EUA. “Sei que muitos estão chateados por termos deixado os posts do presidente inalterados, mas a nossa posição é que devemos permitir ao máximo possível liberdade de expressão”.

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