No início deste ano, divulguei a minha posição em relação à “perseguição” dos profissionais na área de Information and Technology (IT). Indiquei que, o desequilíbrio no nosso mercado e o assédio constante a profissionais com perfis tecnológicos leva-os, em vários casos, à exaustão e aborrecimento no que toca a abordagens de recrutamento.
Opinião de Sofia Santos, Consultora da Michael Page Information Technology.
Desta vez, exponho o outro lado da moeda, a minha perspetiva enquanto recrutadora especializada em perfis tecnológicos, particularmente Software Development. Imagino a posição de alguém que, possivelmente, recebe mais de 20 mensagens por dia com novos projetos – como quem recebe spam no email daquela subscrição que fez por impulso há 5 anos – mas que, por uma questão de cortesia, envia uma resposta curta de rejeição ou uma sugestão de manter contacto para o futuro.
Estas são as pessoas que de facto devemos manter próximas na nossa rede de contactos, não apenas pelo interesse em colaborar no futuro, mas pela cordialidade e decência básica que transmitem. Estas pessoas são, pelo menos por mim, muito apreciadas porque compreendo a maçada de estar constantemente a responder a este tipo de contactos.
No entanto, o mundo profissional não é restringido ao nosso gosto, nem somos todos iguais pelo que, este texto debruça-se especificamente sobre o outro tipo de respostas que tenho recebido nos últimos tempos.
Refiro-me a uma situação em que apresento um projeto que se adequa ao perfil de um profissional e este, embora tenha interessa na oportunidade, me indica que não tem tempo para falar (nem presencialmente nem por telefone) e discutir o projeto em maior detalhe. Infelizmente, nestes casos, o processo fica sem efeito, sendo uma oportunidade perdida para o cliente e para o candidato.
Sou totalmente a favor do não-desperdício de tempo, mas desde quando o processo de recrutamento de algum profissional não passa por uma entrevista? No risco de aludir um processo considerado antiquado, reformulo então a questão para algo muito mais simples. Desde quando, num processo de recrutamento, um profissional é recrutado sem discutir a sua experiência, nem pelo telefone? Permitam-me o desassossego, mas não compreendo os profissionais que respondem ter interesse em projetos que partilho, mas não terem interesse em falar sobre eles.
Ora, se não tem interesse em falar, é totalmente legítimo e louvável tomar o tempo para responder com o “não” mas não considero justo para nenhuma das partes adiar a decisão que, presumivelmente, foi tomada no momento em que leu a descrição do projeto. Este posicionamento por parte de alguns candidatos, leva-me a olhar para o nosso mercado atual com outros olhos. Esta abundância de ofertas, de novas empresas e de novos projetos leva a que alguns candidatos sintam que os processos ditos normais de recrutamento já não fazem sentido, mas será adequado este comportamento?
Vejamos, um bom candidato em termos mais genéricos, é alguém que cumpre com os requisitos técnicos e comportamentais de uma determinada função. Quererão as empresas de hoje, profissionais com comportamentos de ontem? Quais serão os impactos destes comportamentos no mercado?
Considero importante refletir nestas questões e ainda, refletir se devemos tratar potenciais colegas e/ou empregadores praticamente como os exploradores do mercado que por vezes nos pintam, poderá ser um cliché, mas relembro que nunca sabemos de onde surgirá a oportunidade que mudará a nossa vida.