Ouvimos especialistas do sector das telecomunicações sobre a polémica em torno da empresa chinesa. Há mesmo quem acredite que a estratégia da tecnológica no mercado vai tornar-se mais agressiva para compensar as perdas provocadas pela guerra comercial.
Ninguém quis dar o nome quando o assunto da entrevista envolvia a pressão que os EUA estão a exercer sobre a Huawei – um sinal claro de que este é um tópico sensível no sector das telecomunicações. Todos têm uma opinião, mas como ainda não se sabe qual o desfecho desta história, todos jogam pelo seguro.
A Insider esteve no evento 5G World, em Londres, na semana passada, e que reuniu algumas das principais empresas do sector a nível mundial – Verizon, O2, Telus, Deutsche Telekom, Telstra, NTT Docomo, SK Telecom, Orange, entre muitas outras, incluindo a portuguesa NOS.
Ouvimos vários especialistas, todos sob a condição de anonimato, e o sentimento geral é claro: a Huawei é demasiado grande para ficar fora do campeonato do 5G, mas os golpes sofridos pela empresa chinesa estão a beneficiar a concorrência.
“As motivações são políticas”, disse um dos executivos ouvidos pela Insider, a propósito da pressão que os EUA têm feito, um pouco por todo o mundo, para que a Huawei seja banida do desenvolvimento de redes 5G – pressão essa que também já foi feita em Portugal.
“O que a Huawei está a construir é muito bom. (…) Vais ver Huawei em todo o lado, eles têm sido uma parte importante no crescimento da indústria”, salientou ainda a mesma fonte, mas que acrescentou logo de seguida: “Também podemos ter mais oportunidades. (…) Estamos a fazer negócio extra”.
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Outro participante do 5G World e que trabalha numa empresa do sector das telecomunicações salientou um facto que já tem sido apontado por vários vezes: até ao momento os EUA ainda não apresentaram provas cabais que mostrem, sem sombra de dúvidas, que a Huawei representa uma ameaça de segurança nacional para diferentes países e que executa atos de espionagem em nome do governo chinês.
“Eles vão ser ainda mais agressivos na perspetiva dos negócios”, sublinhou um terceiro especialista ouvido pela Insider, considerando que esta situação mediática desfavorável que a Huawei tem vivido vai levar a uma resposta mais firme por parte da empresa nascida em Shenzhen.
“Enquanto não houver uma proibição, os acordos [para redes 5G] vão continuar e por causa desta pressão, eles vão tornar-se ainda mais agressivos com o objetivo de conseguirem acordos”.
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Neste aspeto, os números estão do lado da Huawei: apesar das alegações graves que têm sido feitas contra a gigante chinesa, a Huawei tem continuado a aumentar o número de contratos 5G em todo o mundo – já são 46 – e também o número de antenas instaladas – já são mais de 100 mil em todo o mundo. Em Portugal ainda não há redes 5G disponíveis, mas a Huawei está a trabalhar com o MEO, NOS e Vodafone nesta nova tecnologia.
A Nokia também já revelou números e não está muito distante: no início do mês de junho a tecnológica finlandesa somava 42 contratos em redes 5G.
A terceira das fontes ouvidas considera, no entanto, que existem danos imediatos na guerra que os EUA estão a travar contra a Huawei – que começou no 5G, mas que já se estendeu ao segmento dos smartphones.
“Penso que alguns players estão a beneficiar, no sentido em que se não houver Huawei, a concorrência diminui e eles conseguem arranjar melhores acordos”, explicou, para depois acrescentar: “já da perspetiva dos operadores, eles lamentam esta situação, porque a Huawei tem um poder financeiro massivo e pode competir muito no preço”.
“Mais ninguém pode fazer o mesmo nível de descontos que a Huawei faz”, acrescentou.
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