Chama-se Matt Walker e é um autor e cientista do sono que dá provas de como dormir mais de sete horas melhora a produtividade e a qualidade de vida.
Numa era em que as empresas lutam pelos funcionários mais talentosos e surgem conceitos como os de employer branding (a forma como as empresas mudam conceitos antigos para atrair talento), nunca como agora foi tão importante ter funcionários satisfeitos. Também nunca houve tanta preocupação e tanta informação científica sobre como devemos comer, dormir e viver para termos melhores índices cognitivos e vivermos melhor e mais tempo.
Matt Walker é precisamente um especialista no sono e na forma como ele influencia as nossas mentes, a nossa produtividade e o nosso corpo. Este cientista do sono autor de alguns livros sobre a matéria subiu em abril ao palco da conferência TED2019 não só para explicar porque é que dormimos, mas para apresentar provas de como há vantagens em dormir sete ou mais horas por dia.
A palestra de Matt começa com um dado preocupante para os homens: “aqueles que dormem cinco horas por dias têm testículos mais pequenos do que quem dorme sete horas ou mais e quem dorme por norma 4 a 5 horas por noite tem um nível de testosterona de alguém 10 anos mais velho”. O especialista resume, assim, com ajuda de estudos, que a falta de sono envelhece em média uma década inteira os homens no seu bem-estar. No caso das mulheres é a sua saúde reprodutiva que é mais afectada pela falta de sono.
Tecnologia não ajuda
O especialista britânico de 43 anos que é investigador nos EUA, na universidade de Berkeley e já serviu de consultor de sono para a NBA, NFL (a liga de hóquei no gelo americana), os estúdios da Pixar e para várias empresas também faz a ligação com a sociedade atual, onde a tecnologia e a luz dos smartphones afectam o acto de irmos dormir e os ciclos e ritmos naturais do corpo.
“A epidemia silenciosa de falta de sono é um dos desafios de saúde pública que enfrentamos no século XXI”, diz Walker, que explica que nesse contexto é fundamental manter os quartos livres da tecnologia com ecrãs, dos tablets aos iPhone porque, “a tecnologia, especialmente à noite, está prejudicar este superpoder que é o sono”.
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Sono, uma solução para a memória
Para sermos mais competentes no trabalho e mais focados no nosso dia a dia precisamos de boas rotinas de sono. Walker admite que nos últimos 10 anos a ciência descobriu que o sono está associado também às funções de aprendizagem e memória do cérebro. “Sabemos que precisamos de dormir depois de aprender algo para conseguirmos gravar aquelas memórias e não as esquecermos, mas recentemente descobrimos que também é preciso dormir antes de aprender para conseguirmos preparar o cérebro, quase como uma esponja seca pronta para absorver novas informações”. Walker garante que, “sem dormir, os circuitos de memória do cérebro ficam essencialmente alagados e não conseguimos absorver novas memórias”.
No estudo feito por uma equipa do próprio neurocientista, foram testados os efeitos de uma noite sem dormir. Um grupo de indivíduos dormia normalmente e outro grupo seria afectado pela privação de sono. O grupo que dormiu teve 8 horas de sono, mas o outro grupo ficou acordado no laboratório, sob supervisão total. No dia seguinte foi feita uma ressonância magnética aos participantes e tentaram que aprendessem uma lista de novos factos enquanto tiravam imagens da atividade cerebral.
Os resultados foram significativos: “o grupo que teve privação de sono teve um défice de 40% na capacidade de formar novas memórias sem sono”. O especialista acredita que os problemas de sono afectam, por isso, inclusive a população escolar. “Descobrimos o que acontece de errado no cérebro para verificarmos estas dificuldades de aprendizagem: há uma estrutura que está em ambos os lados do cérebro, chamado hipocampo”.
Naquilo que define como uma espécie de caixa de entrada da informação no cérebro, o hipocampo ajuda a receber “novos ficheiros de memória e depois a gravá-los”.
No teste feito as pessoas que tinham dormido a noite toda demonstraram “muita atividade saudável relacionada com a aprendizagem no hipocampo”, já aqueles que estavam em privação de sono, “não tinham nenhum sinal significativo”: “É quase como se a privação de sono tivesse desligado a caixa de entrada da memória, e qualquer novo ficheiro que chegasse fosse simplesmente devolvido. Não conseguiam efetivamente alocar novas experiências à memória”.
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