Vision-Box. Tecnologia feita em Portugal responde aos desafios de uma aviação contactless

Vision-Box
Uma das soluções implementadas pela portuguesa Vision-Box. Foto: DR

A multinacional portuguesa Vision-Box está a fornecer soluções tecnológicas de biometria a companhias aéreas como a Emirates ou a AirAsia. A pandemia está a fazer acelerar a necessidade de soluções de autenticação sem contacto, como aquelas que a empresa desenvolve. “Numa fase em que a indústria abrandou tivemos de acelerar.”

A tecnologia made in Portugal está a “dar resposta e a aproveitar a oportunidade” trazida pela pandemia, diz Márcio Spínola, chief product officer da Vision-Box. A multinacional portuguesa já disponibilizava soluções de biometria para autenticação nos aeroportos e fronteiras, mas com a parceria com companhias como a AirAsia ou a Emirates está a trabalhar numa jornada fluida do passageiro, com o mínimo de interações com outras pessoas ou quiosques.

“Usamos a biometria, o reconhecimento da face, como uma forma de trazer conveniência para processos do dia-a-dia das pessoas – neste caso, fazemos isto nos aeroportos, que é o nosso maior e mais proeminente mercado”, explica Márcio Spínola. As soluções da empresa já eram utilizadas em vários aeroportos, como no Humberto Delgado, em Lisboa, por exemplo, mas no caso da parceria com a Emirates e com a AirAsia há algumas diferenças: a ideia de tornar a viagem seamless [com uma ideia de continuidade e fluidez] e contactless, sem contacto com equipamentos.

“Aquela jornada típica do aeroporto em que se tem de fazer um check-in, a pessoa regista-se, depois passa pela segurança, nas viagens internacionais passa-se pela fronteira e depois eventualmente entramos no avião… Em todos esses pontos, tanto no caso da Emirates como da AirAsia, fazemos a seamless journey. Na entrada fazemos um registo da pessoa, da cara e documento, e a partir deste momento, todos os pontos em que é preciso mostrar o documento ou de fazer validação deixam de ser necessários. As soluções reconhecem a cara do passageiro e é como se se estivesse a passear pelo bairro, em que as pessoas já se reconhecem”, exemplifica o responsável da Vision-Box. Com o uso das máscaras, que por vezes podem dificultar o processo, a empresa detalha que investiu no software para continuar a reconhecer o passageiro apesar dos equipamentos de proteção.

Na Emirates, esta solução seamless e contactless já está em produção, disponível para todo o tipo de passageiros (numa face inicial esteve apenas disponível para passageiros premium). Já no caso da AirAsia está a ser finalizada a primeira fase, com os sistemas a funcionar a partir de janeiro. A companhia asiática tem um plano faseado, em que até 2025 espera que possam ser processados cem milhões de passageiros por ano em 152 aeroportos.

Numa altura em que a indústria da aviação enfrenta sérias dificuldades – a IATA estima que as companhias precisem de 70 a 80 mil milhões de dólares de ajudas suplementares para sobreviver à crise – a multinacional portuguesa diz “estar no sítio certo, no momento certo”. “Enquanto todos os outros projetos estão postos um bocadinho on hold, este investimento continuou”, afirma Márcio Spínola.

O responsável da Vision-Box aponta que a necessidade deste tipo de soluções tecnológicas, que evitam tanto o contacto do passageiro com outras pessoas como a interação com superfícies, por exemplo, “é um imperativo por questões de segurança”. “A pandemia, pelas questões erradas, quebrou a inércia que existia na indústria”, diz Márcio Spínola. O contactless podia já ser uma tendência na aviação no cenário pré-coronavírus, mas a covid-19 veio acelerar o apetite da indústria por este tipo de opções de autenticação.

“A indústria da aviação sofreu perdas gigantescas. O que acabou por acontecer na Vision-Box foi alguma hesitação”, recorda Márcio Spínola, que adianta, no entanto, que rapidamente a multinacional passou a estar em contraciclo em tempos de crise. “A pressão dos nossos clientes, ao contrário de muitas indústrias, passou a ser a de começar a entregar as soluções mais rápido. Sentimo-nos um bocadinho como se tivéssemos a vacina para a indústria”.

“Mas não é um mar de rosas”, clarifica o responsável. As restrições impostas às viagens nos últimos meses dificultaram o envio e a instalação de equipamento. “Não podíamos enviar o hardware para esses países… Tivemos um período em que tínhamos todas as contenções, mas felizmente neste momento temos a nossa fábrica a produzir a mais de 100%. Estamos a produzir para os nossos clientes, há um grande esforço da equipa de projetos para dar o nosso contributo e ajudar na recuperação da indústria”.

Mas a escala é um desafio. “Temos as soluções certas, mas há um grande esforço que temos de fazer para tornar estas soluções o mais produzíveis possível. Temos uma grande procura mas é preciso conseguirmos fazer isto em escala e é isso que nos está a manter muito ocupados neste momento”, explica Spínola. “Numa fase em que a indústria abrandou tivemos de acelerar: acelerar para termos um produto mais robusto e que possa ser vendido em maior escala”.

Num ano marcado pela incerteza, a Vision-Box teve de “fazer crescer a empresa e ir buscar o melhor talento” para aproveitar uma oportunidade que Márcio Spínola classifica como “de ouro” para o negócio da multinacional portuguesa.

Tecnologia a fazer mexer a organização dos aeroportos

Além de uma opção com menos contacto com dispositivos utilizados por milhares de pessoas diariamente, a Vision-Box aponta ainda que uma jornada mais seamless numa viagem de avião pode trazer uma grande redução de custos.

“Já existe imenso investimento em quiosques e hardware. No momento em que apostamos em mobile devices muitos destes equipamentos que são caros desaparecem, aposta-se em algo que é mais económico”, exemplifica a Vision-Box. A empresa defende que, a partir do momento em que se torna o processamento de passageiros num aeroporto mais eficiente, liberta-se espaço para outras áreas dentro de um aeroporto, nomeadamente a comercial – uma componente importante para o negócio.

“Há uma parte de processamento de passageiros, muito operacional, mas também há um lado muito comercial nos aeroportos”, destaca o responsável. “Uma solução como a nossa permite tornar as áreas operacionais, a parte de processamento de passageiros mais eficaz. Isso poupa custos na parte operacional do aeroporto e liberta espaço físico para ser usado de forma comercial. Em muitos aeroportos que são privados isso representa ganhos significativos”.