AppCoins e Utrust: Como estão os projetos portugueses de criptomoedas?

Criptomoedas

Ainda a viverem os primeiros meses enquanto ativos digitais, os projetos portugueses de criptomoedas e tokens já sofreram uma grande variação nos seus valores.

Os projetos AppCoins e Utrust são, entre os de origem portuguesa, os mais conhecidos no mundo do blockchain, das criptomoedas e dos tokens. O primeiro, criado pela Aptoide, propõe um sistema de monetização para aplicações móveis que é descentralizado e tem por base o conceito de economia circular. Já a Utrust tem como objetivo criar o equivalente ao PayPal para o mundo das criptomoedas, permitindo aos utilizadores pagarem em qualquer loja com as divisas digitais.

Mas 2018 não tem sido um ano meigo para o mercado das criptomoedas e tokens. Como vimos na altura, nos primeiros seis meses do ano o mercado das criptomoedas encolheu quase 60% em valor.

O ‘tombo’ deve-se àquilo que os especialistas acreditam ser uma correção de mercado: nas últimas semanas de 2017 e nas primeiras de 2018, as criptomoedas e os tokens bateram quase todos recordes de valor.

“Como seria previsível, e tendo em conta a vertiginosa subida verificada em 2017, desde o início do ano a cripto-economia no seu todo tem verificado uma correcção significativa”, começa por explicar Fred Antunes, presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas (APBC), em resposta enviada por email.

“Logicamente que os projectos menos solidificados e mais recentes foram os mais expostos a esta situação e as moedas digitais portuguesas não foram excepção”.

Como pode ver na infografia abaixo, as quedas, tanto da AppCoins como da Utrust, foram significativas. Em maio houve uma ligeira inversão de tendência, com ambas as divisas a recuperarem um pouco do valor, mas a trajetória descendente prosseguiu nos meses seguintes.

Filipe Castro, cofundador e diretor de informação da Utrust, desvaloriza a quebra de valor registada ao longo de 2018. “A nossa avaliação tem sido focada em desenvolver o produto ao invés de foco exclusivo em métricas de preço de mercado, que neste momento podem não ser refletivas do estado e crescimento futuro do projeto”, começou por dizer, também em resposta por email.

O porta-voz da tecnológica recusa ainda a ideia de que a queda verificada no valor geral das criptomoedas coloque em causa os planos que tinham sido definidos para a Utrust.

“Muito pelo contrário, a queda ajudou a que muitos projetos com menos boa reputação ou base tecnológica tenham saído do mercado ou atingido valorização zero, libertando espaço para projeção de projetos com valor sólido a longo prazo”.

O diretor de informação diz ainda que, no caso da Utrust, o valor de mercado do token não está diretamente ligado ao projeto – pois basta lembrar que o token já é transacionado desde 2017 e que o serviço de pagamentos por criptomoedas da Utrust ainda não está disponível.

“Nesse sentido, o valor nosso token está intimamente relacionado com o valor de mercado geral, sofrendo com as valorizações/desvalorizações de outros projetos, notícias, rumores e outra informação que influencia o sentimento de mercado”.

O presidente da APBC salientou depois uma questão pertinente: “O problema poderá surgir por parte de investidores mais impacientes e que possam colocar pressão sobre as equipas de trabalho”. Relativamente a este tópico, Filipe Castro diz que não tem existido qualquer pressão dos investidores do projeto.

A Insider também contactou a AppCoins, que não respondeu.

Maior estabilidade no horizonte

Apesar dos tempos mais conturbados para a criptoeconomia, existe um sentimento positivo relativamente à evolução para os próximos meses.

“Tal como noutros mercados, após uma fase negativa o mercado encarregar-se-á de recompensar projetos que realmente demonstram resultados”, sublinhou Filipe Castro, da Utrust.

Já Fred Antunes é da opinião que “os tokens da Utrust ou da Aptoide estão cotados abaixo do valor que efectivamente os projetos valem”. “Penso que no curto prazo o mercado genericamente irá corrigir a cotação de múltiplos projetos”.

Por fim, o porta-voz da APBC disse que o mercado das criptomoedas e dos tokens precisa de três elementos nos próximos tempos: maior educação sobre o tema, mais pessoas com criptomoedas para que a oscilação de valor seja menor, e também maior regulação, pois caso contrário “não será possível obter escalabilidade”.

“A regulamentação terá a nosso ver uma influência positiva, aumentando a confiança e os prospetos futuros do mercado e de muitos projetos/protocolos, inspirando a próxima fase de crescimento”, defendeu Filipe Castro.