A Apple anunciou em dezembro que o seu novo Apple Watch já tem a funcionalidade de eletrocardiogramas ativa. O cardiologista Mário Martins explica-nos os prós e contras da nova tecnologia que coloca melhor saúde no nosso pulso.
O relógio mais vendido no mundo já faz, há pouco mais de um mês, eletrocardiogramas. A função promete mudar (e salvar) vidas, mas o novo software ainda está limitado apenas aos Estados Unidos – onde a Apple já obteve a autorização legal para utilizar oficialmente a função.
E o que permite? O utilizador pode saber qual o seu batimento cardíaco e recebe notificações automáticas quando são identificados batimentos irregulares. O smartwatch já traz sensores na parte traseira e na sua coroa e estava apenas à espera da atualização de software para poder funcionar. Para fazer o tal eletrocardiograma, basta colocar o dedo de forma suave na coroa giratória do aparelho durante 30 segundos, o tempo necessário para registar os batimentos cardíacos. A informação é depois guardada na app Saúde do iPhone e é facilmente partilhada com um médico.
O professor Mário Martins Oliveira, Cardiologista no Hospital CUF Infante Santo, explicou-nos a sua visão sobre a nova funcionalidade da Apple, num mundo que, cada vez mais, tem conceitos de vigilância e monitorização de parâmetros de saúde para tentar viver mais e melhor. “Há mais de uma década que procuramos obter à distância dados relacionados com aspetos importantes da atividade cardíaca para melhor vigiar os nossos doentes e poder antecipar qualquer descompensação cardíaca, evitando assim as hospitalizações repetidas e, até, redução da mortalidade cardiovascular”, admitiu o especialista.
Já sobre o lançamento do smarwatch Apple Watch, Mário Martins Oliveira admite que também é um instrumento de marketing, valorizado com a presença de representantes legais norte-americanos – da FDA (Food and Drugs Administration) e ACC (American College of Cardiology). Isso “permitiu lançar à população mais atenta a ideia verosímil de que é possível, por umas centenas de dólares, ter acesso a uma ferramenta (relógio) que nos dá informação real da nossa frequência cardíaca e do eletrocardiograma”.
Para o cardiologista, o objetivo do ponto de vista do cidadão é sentirmos-nos protegidos: “embora, na realidade, este relógio permita o registo da atividade elétrica do coração (como se tratasse dum eletrocardiograma) na perspectiva da identificação atempada duma arritmia muito comum, com implicações clínicas importantes, designada por fibrilhação auricular”. O que se pretende com a novidade é ter “uma ferramenta de utilização prática e contínua que identifique episódios desta arritmia”, que mesmo silenciosa pode “associar-se a ocorrência de AVC ou insuficiência cardíaca”.
Inovação com um lado negativo
A promessa é assim tão válida? “Há pelo menos um estudo em curso (patrocinado pela Universidade Stanford, nos EUA) que pretende perceber qual a acuidade deste método para detectar fibrilhação auricular sem erros e os resultados parecem prometedores, apesar de não nos referirmos a um eletrocadiograma convencional e de todos esperarmos que hajam falsos positivos ou mesmo falhas de deteção”.
Seja como for, Mário Martins Oliveira diz que se trata de “um grande avanço tecnológico de miniaturizar um dispositivo com imenso potencial para rastreio desta arritmia na população”. Mas há um reverso da medalha, como acontece com a maioria das tecnologias novas que dão mais informação aos cidadãos. “É claro que aparecerão muitíssimos cidadãos que aplicarão este utensílio para, sendo saudáveis, vigiar continuamente a atividade cardíaca, criando situações de ansiedade e mesmo angustia, sobretudo se o equipamento alertar para arritmia”. O cardiologista admite que, nesses casos, haverá maior procura de especialistas, com custos inerentes, muitas vezes sem benefícios para a saúde.
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