Banir TikTok dos EUA pode significar proibição de compra de publicidade na app

TikTok
(Lionel BONAVENTURE / AFP)

A agência Reuters avança algumas das medidas que poderá ter a ordem executiva decretada por Donald Trump, que proíbe empresas de fazer transações com o TikTok.

Quando Donald Trump assinou na semana passada uma ordem executiva que visa a aplicação de vídeos curtos TikTokrapidamente surgiram as dúvidas sobre que tipo de efeitos práticos é que esta ordem poderia ter.

No documento publicado pela Casa Branca, era indicado que as empresas estariam impedidas de realizar transações com o TikTok, detido pela chinesa ByteDance, após o fim do prazo de 45 dias. Depois disso, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos poderia barrar as transações.

Esta quarta-feira, a Reuters avança que tipo de efeitos é que esta decisão do governo de Trump pode ter, após ter acesso a um documento elaborado pelo executivo americano. Assim, poderão mesmo ser proibidas a disponibilização da aplicação nas lojas de apps da Google e Apple ou a compra de espaço publicitário no TikTok.

“As transações proibidas podem incluir, por exemplo, acordos para fazer a aplicação TikTok disponível nas lojas de aplicações (…) compra de publicidade no TikTok ou aceitação dos termos de serviço para descarregar a aplicação para o dispositivo de um utilizador”, cita a Reuters.

Apesar de ter assinado duas ordens executivas – uma para o TikTok e outra para o serviço de mensagens WeChat, que domina o mercado chinês – não será claro se o documento interno visto pela agência poderá ser sinónimo de um tratamento semelhante para a aplicação criada pela gigante Tencent.

Como é que tudo começou?

Donald Trump anunciou a intenção de banir o TikTok dos Estados Unidos, alegando que a aplicação representa um risco de segurança nacional, tendo em conta que se trata de uma aplicação chinesa. Depois disso, a Microsoft revelou que estaria a negociar com a dona do TikTok, indicando que pretendia adquirir as operações da aplicação nos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Austrália.

Mais tarde, o jornal britânico Financial Times avançou, na semana passada, que afinal o interesse da Microsoft na tecnológica seria mais alargado, abarcando toda a operação do TikTok. Nem a Microsoft nem ByteDance comentaram a notícia. Recorde-se de que, embora sejam versões muito semelhantes, existe uma versão da aplicação para o mercado chinês, chamada Douyin, e outra versão para os restantes mercados, com o nome TikTok. A confirmar-se, a Microsoft estaria a ponderar adquirir somente o TikTok – a Douyin continuaria a operar de forma independente.

Pouco tempo depois de a Microsoft ter sinalizado que estava em conversações com a app, Donald Trump estabeleceu um prazo de 45 dias, até dia 15 de setembro, para as negociações estarem concluídas. Caso tal não aconteça, o TikTok poderá mesmo ser banido dos EUA.

Mas, afinal, a Microsoft poderá não ser a única em conversações com o TikTok. No fim-de-semana o Wall Street Journal revelou que também o Twitter já reuniu com a app de vídeos curtos. Vale a pena recordar que o Twitter já foi dono de uma aplicação de vídeos curtos, o Vine, um serviço relativamente parecido ao TikTok. Lançado em 2013, o serviço foi encerrado em outubro de 2016.

Ao mesmo tempo em que tudo isto decorre, Donald Trump continua a lançar achas para a fogueira. Além de já ter indicado que acha justo que o Tesouro americano arrecade uma parte do negócio, alegando que “criou a oportunidade” para tal, a ordem executiva assinada levanta suspeitas sobre a segurança da aplicação.

Leia também | TikTok escolhe Irlanda para primeiro data center na Europa

Como seria de esperar, o TikTok já anunciou que pretende avançar para os tribunais, contestando que muitas das acusações feitas na ordem executiva são pouco fundamentadas.

Com Trump a alegar que os dados dos utilizadores do TikTok poderão estar a chegar às mãos do governo chinês, adensa-se o clima de tensão e guerra tecnológica entre Washington e Pequim. Afinal, a ‘lista negra’ de empresas chinesas com as quais as empresas americanas não devem fazer negócios sem o aval do Departamento de Comércio americano já existe desde 2019.

Como seria de esperar, o governo chinês já criticou a decisão, acusando os Estados Unidos de “intimidação”

Compra do TikTok é um “cálice envenenado”, alerta Bill Gates

Apesar de ter abandonado a liderança da Microsoft há vários anos, Bill Gates continua a ser conselheiro tecnológico da empresa que fundou. Em entrevista à revista Wiredabordou vários temas, inclusive o polémico negócio.

Com o TikTok no centro de uma guerra política, Bill Gates refere não saber bem o que se está a passar com o negócio entre a ByteDance e Microsoft, mas classifica a situação como “um cálice envenenado”. “Ser grande na área das redes sociais não é um jogo simples, é como o tema da encriptação”, revelou.

“(…) Acho que tornar o jogo [das redes sociais] mais competitivo é provavelmente uma coisa boa. Mas ter Trump a dizer que quer matar o único concorrente é bastante bizarro”, disse Gates à versão americana da Wired.

O criador da Microsoft abordou ainda o tema da comissão exigida por Donald Trump. “Concordo que o princípio deste procedimento já é estranho. A questão da comissão é duplamente estranha. De qualquer forma, a Microsoft terá de lidar com isso”.

Tiktok já não é só para jovens – também é onde marcas querem estar