Desde o máximo atingido em janeiro, o mercado de moedas digitais desvalorizou 645 mil milhões de euros. É uma queda de 88%. Já há quem veja neste crash o início do apocalipse do dinheiro virtual. Mas para os mais devotos a procissão desta revolução ainda vai no adro.
“A bolha das criptomoedas rebentou.” Este tem sido um comentário frequente nos media e nas redes sociais. Ao longo dos anos, há quem tenha vaticinado o fim das moedas virtuais. Uma parte do mundo vê as criptomoedas, como a bitcoin, como o dinheiro da dark web, onde traficantes de droga e todo o género de criminosos fazem os seus negócios no anonimato. Em novembro, os inimigos do dinheiro virtual celebraram. O mercado de moedas digitais colapsou.
Desde o máximo registado em janeiro, nos 830 mil milhões de dólares (735 mil milhões de euros), o mercado perdeu 88%. A bitcoin – considerada o ouro digital e da dark web – quebrou o nível dos 6000 dólares e, a partir daí, afundou. Já se estima que terminará o ano abaixo dos 3000 dólares.
3290 dólares. O valor da bitcoin no mercado no dia 14 de dezembro. Faz agora um ano, cada bitcoin valia perto de 20 mil dólares, o máximo de sempre. Desvalorizou mais de 80% desde então.
Para o economista Nouriel Roubini – ou profeta da desgraça -, o valor real da bitcoin nem sequer é zero. “Dado que a bitcoin” é a mãe “de toda a poluição tóxica e desastres ambientais”, o seu valor verdadeiro é altamente negativo com o imposto correto de externalidade”, afirmou num tweet a 14 de novembro.
Segundo Fernando Gutierrez, diretor de marketing da moeda dash, foram vários os motivos que levaram à forte correção no mercado de moedas virtuais. “Entre outros: o fork da bitcoin cash (separação da moeda em duas), a não concretização de alguns novos projetos, ou os investidores que querem contabilizar as perdas do ano por razões fiscais”, afirmou à DN Insider. Receios de novas medidas regulatórias também contribuem para a descida.
Leif Ferreira, presidente executivo da Bit2me, uma plataforma de negociação de moedas virtuais, não se assusta com a queda do mercado de criptomoedas. “A bitcoin foi lançada há menos de uma década e está num estágio inicial. O seu software não é sequer a versão 1.0”, afirmou à DN Insider. Explicou que “normalmente há muita correlação entre a bitcoin e o resto das criptomoedas. Quando a bitcoin valoriza, as outras moedas também sobem – de uma forma mais amplificada – e vice-versa”.
A bitcoin nasceu após a crise de 2008 – a grande recessão – para a qual contribuíram banqueiros, bancos centrais, governos e agências de rating.
Separar o trigo do joio
Fernando Gutierrez adiantou que, “em geral, tem sido um ano difícil para a maioria, com declínios constantes nos preços, após uma alta louca em 2017”. Alguns estão simplesmente a render-se. Isso afeta severamente muitas equipas, mas ainda há muito dinheiro e conhecimento a trabalhar para a indústria em projetos que fazem sentido”, disse.
Leif Ferreira lembrou que, desde o seu lançamento em 2009, a bitcoin passou por altos e baixos. E não duvida de que o valor da moeda vai voltar a aumentar “graças à engrenagem industrial sólida que está a ser criada em torno das criptomoedas e da sua tecnologia”. “A facilidade de aquisição de bitcoins causará outro momento de febre. E, após esse grande aumento, outra queda ocorrerá. Então começará a estabilizar aos poucos”, disse.
Gutierrez espera, a curto prazo, “uma diferenciação entre projetos, com alguns a desaparecer e outros a prosperar”. “Esta indústria passou por outros períodos terríveis e mostrou que nesta parte do ciclo é onde nascem os vencedores.”
O mercado tem evoluído com o aparecimento de moedas estáveis indexadas. Certo é que o número de utilizadores de moedas digitais quase duplicou em 2018. Cerca de 17 milhões de utilizadores confirmados começaram a usar moedas virtuais, segundo um estudo da Universidade de Cambridge. São agora 35 milhões. Para a Bloomberg, este aumento num ano de forte queda do mercado “pode sinalizar que uma eventual recuperação pode estar para vir”.
* Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2018 da revista Insider