Tim Berners-Lee, inventor da World Wide Web (WWW), quer que cidadãos, governos e empresas trabalhem juntos para criar uma internet mais mais livre e que promova uma maior inclusão.
“Precisamos de melhorar metade do mundo e melhorar a outra metade”. Foi desta forma, irónica, que Tim Berners-Lee, o criador da World Wide Web, se referiu à sua nova iniciativa: um contrato de nove pontos que tem como objetivo proteger e melhorar a internet como as pessoas a conhecem.
A iniciativa #ForTheWeb foi anunciada esta segunda-feira em Lisboa, durante o evento de abertura da edição de 2018 do Web Summit.
“Peço a vossa ajuda para serem parte disso. Podem juntar-se e a ideia é resolvermos este problema que temos, das pessoas que estão online e das que não estão online. Podemos fazê-lo, juntos”, disse Tim Berners-Lee.
Para o ‘pai’ da internet como a conhecemos, estamos numa fase em que existem dois grandes problemas: as pessoas que já estão online não conseguem fazer tudo o que querem com a Web, devido a algumas restrições e monopólios de empresas que surgiram nos últimos anos; e temos a obrigação de ajudar os 50% da população do planeta que ainda não têm acesso à Web.
“A universalidade da Web foi importante para a sua popularidade. Durante os primeiros 15 anos, houve um tempo em que as pessoas esperavam que a Web fizesse grandes coisas. Se conectasses a humanidade com a tecnologia, grandes coisas iriam acontecer. Tivemos a Wikipédia, a Khan Academy, blogues, tivemos gatos”, disse, também em jeito de brincadeira, o mítico ‘pai’ da Web.
“Se ligares as pessoas e conseguires manter a Web aberta, as pessoas fariam coisas boas. O que poderia correr mal? Todo o tipo de coisas: fake news, problemas de privacidade, temos pessoas que são perfiladas ao ponto de serem manipuladas. (…) A Web tem de ser mais comunicativa, mais pacífica”, acrescentou Berners-Lee no palco do Web Summit.
Tim Berners-Lee acredita que o contrato vai ajudar a uma “mudança positiva”, na qual “todos serão recompensados”. “Todos são responsáveis por tornar a Web melhor de muitas maneiras. Proteger o interesse público, encorajar a inovação. Desenhem as redes sociais para que os utilizadores conheçam pessoas de culturas diferentes”.
No apelo que fez ao mundo, Tim Berners-Lee diz que a ajuda dos utilizadores vai ser preciosa na responsabilização das empresas e dos governos que não estiverem a cumprir o contrato.
“Se trabalhares numa empresa de tecnologia, podes garatir que a tua empresa faz as coisas certas. Se estiveres fora, podes fazer lobby [contra as tecnológicas]“, sublinhou o britânico de 63 anos.
“A privacidade é um dos direitos fundamentais e devemos lutar por ela, não apenas porque estamos preocupados com imagens nossas serem mostradas às pessoas erradas, mas porque é sobre ter poder sobre as nossas coisas, ter o poder de partilhar com quem quiser. Penso que a privacidade é um direito fundamental”.
A proposta da Web Foundation
Divididos em três segmentos, estes são os nove pontos do contrato proposto por Tim Berners-Lee para uma Web mais aberta:
– Os governos devem garantir que todos têm acesso à internet; devem garantir a disponibilidade da internet sem interrupções; e respeitar o direito fundamental dos utilizadores à privacidade;
– As empresas devem garantir que a internet é acessível, em preço e tecnologia, a todos; devem também respeitar a privacidade dos utilizadores, bem como os seus dados pessoais; e devem desenvolver tecnologias que ajudem a criar uma Humanidade melhor;
– Já os utilizadores devem ser criadores e colaboradores de projetos na Web; devem criar comunidades fortes que respeitem a dignidade humana; e devem lutar por uma Web aberta, pública, hoje e no futuro.