Funcionários acusam Google de ser “cúmplice na opressão e no abuso dos direitos humanos”

Google China
Foto: REUTERS/Aly Song

Dezenas de funcionários da Google assinaram uma carta aberta onde pedem o fim do projeto Dragonfly. Tecnológica insiste que não vai lançar a curto prazo um produto de pesquisa no mercado chinês.

“Somos funcionários da Google. A Google deve desistir do Dragonfly”. É assim que começa a carta aberta assinada por dezenas de funcionários da gigante norte-americana em que pedem que a empresa não avance com os planos de lançar uma versão censurada do seu motor de busca na China.

“A nossa oposição ao Dragonfly não está relacionada com a China: somos contra tecnologias que ajudem os poderosos a oprimir os vulneráveis, estejam onde estiverem”, lê-se na carta, publicada na plataforma Medium.

Os googlers dizem que a resposta dos executivos da empresa aos protestos dos funcionários “tem sido insatisfatória”.

“O Dragonfly na China estabeleceria um precedente grave num momento político volátil, um que tornaria difícil para a Google negar concessões semelhantes a outros países”, salientam ainda os funcionários em protesto. Caso a versão censurada do motor de busca avance, “isso tornaria a Google cúmplice na opressão e no abuso dos direitos humanos”.

“Merecemos saber o que estamos a construir e merecemos ter uma palavra nestas decisões significativas”, lê-se ainda.

Dragonfly é o nome de código dado ao motor de busca que a Google está a desenvolver para a China e que vai censurar conteúdos de temas relacionados com os direitos humanos, democracia e religião. A notícia foi avançada pela publicação The Intercept, no início de agosto.

Num comentário oficial, citado pelo The Verge, a Google insiste que não vai lançar a curto prazo um produto de pesquisa no mercado chinês, mas o projeto existe, como confirmou o diretor executivo Sundar Pichai, em outubro.

“Acontece que vamos conseguir entregar mais de 99% das pesquisas”, disse Sundar Pichai. “Existem muitas, muitas áreas nas quais conseguiriamos providenciar melhor informação do que aquela que está disponível”, acrescentou. “Mas também seguimos as leis de cada país”.

“Queríamos aprender como seria se estivéssemos [Google] na China e foi isso que construímos a nível interno”, sublinhou o CEO, na altura, a propósito do projeto Dragonfly.