Guerra dos Tronos EUA-China começa agora. “Ninguém vai ficar a ganhar”

China guerra

Quem perde mais com a guerra política, comercial e tecnológica entre EUA e China? Para já, parece ser a China, em particular a Huawei. Chineses prometem resposta pela via legal. Pode haver consequências graves para a Apple e outros gigantes que produzam produtos na Ásia. Especialistas garantem que “todos vão perder”.

Há algumas semanas, o investigador, professor e analista em empresas e no mercado global, Howard Yu, lembrava-nos numa entrevista que numa era de colaboração a nível tecnológico, criar um mundo bipolar poderá ser devastador e na guerra comercial EUA-China “ninguém ficar a ganhar”: “Colocar o Ocidente contra a China pode trazer uma separação catastrófica”.

Agora, depois das primeiras ameaças sobre a utilização de redes 5G da Huawei, que chegaram inclusive sob a forma de pressões diretas dos EUA sobre Portugal, a guerra comercial, que é também política e tecnológica, entre as duas nações mais poderosas do planeta parece chegar a um ponto de possível não retorno.

A Google – a que se seguiram outras empresas americanas como a Qualcomm e Intel -, dando sequência a ordens do presidente Donald Trump, anunciou a suspensão de negócios com a Huawei, inclusive na utilização do sistema Android. Isso significa que futuros smartphones da Huawei só terão acesso à versão do Android em código aberto e não vão receber as atualizações de segurança diretamente da Google. Também devem ficar de fora acesso à loja de apps da Google e serviços como Gmail ou Maps.

“a China vai estar atenta ao progresso desta situação e apoiar as empresas chinesas na defesa dos seus direitos legítimos através de métodos legais”

Nos meios chineses, há artigos de opinião que garantem que os EUA, nomeadamente Trump, tomam esta postura contra Pequim”para travar o crescimento chinês, já que os EUA nunca tiveram um competidor tão forte a nível económico como a China atual”, explica numa publicação chinesa Victor Oluoch, jornalista queniano do grupo Kenya’s Nation.

Numa conferência de imprensa na manhã desta segunda-feira, Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, garantia que “a China vai estar atenta ao progresso desta situação e apoiar as empresas chinesas na defesa dos seus direitos legítimos através de métodos legais”. Que métodos serão? Ainda não se sabe concretamente, mas se a China fizer algo semelhante ao que os EUA estão a fazer com empresas americanas, os resultados serão imprevisíveis, mas globais.

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Esta manhã, Richard Fairchild, um professor em finanças da Universidade de Bath, no Reino Unido, lembrava que as tensões entre EUA e China agora intensificadas, vão afetar a economia global, “que fica sobre risco com este conflito”, especialmente porque pode obrigar vários países a escolher lados.

Parecem não existir grandes dúvidas nos especialistas na área, de que a escalada de tensões entre as duas potências só vai prejudicar o comércio global e os dois países, mesmo que um seja mais prejudicado do que o outro. Essa tendência contraria as declarações de Donald Trump, que tem dado sempre a entender que será a China a dar passos atrás para favorecer as pretensões do presidente norte-americano.

Na CNN, Scott Kennedy, diretor do projeto Centro para a Economia Chinesa para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, garante “que esta decisão pode colocar toda a relação económica em causa e por em causa qualquer resolução para a guerra comercial iniciada por Trump”.

Os interesses de Apple (que tem toda a sua produção centrada na China, ao contrário, por exemplo, da Samsung, que tem maior diversidade de fábricas na Ásia) e de outras empresas que produzem muitos dos seus produtos na China pode ficar em causa. “Isto pode levar a aumento de preços em produtos a nível geral”, indica o especialista. De acordo com o site Vox.com, os agricultores norte-americanos do Midwest estão “muito preocupados com a guerra comercial”. “Há pânico de que as sua colheitas possam apodrecer por um segundo ano seguido e percam as suas quintas”, diz o site de notícias.

De acordo com o site Markets Insider, os mercados financeiros, europeus e asiáticos estão a ser atingidos com o avolumar desta guerra e as autoridades chinesas estão a alertar que a situação pode cortar em 1% do crescimento económico da China este ano”. A Reuters indica ainda que várias empresas de comércio presentes na China a temer pelo seu futuro, embora toda a Ásia possa sofrer também, explica Bundit Limschoon, secretário geral da organização Cooperação Asiática.

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