Investigadores da Escola Superior de Estudos Comerciais de Montreal, no Canadá, concluem que a privação por completo favorece a sensação de stress entre os funcionários.
O smartphone transformou na última década a vida de milhões de pessoas. O local de trabalho não é exceção. O pequeno aparelho, que tem ganho dimensão nos últimos tempos com modelos cada vez maiores, permite a colegas de trabalho estarem em constante comunicação e tem a óbvia vantagem de permitir ao seu utilizador de ter acesso a um sem número de informações de forma instantânea.
Pode ainda ser uma ajuda preciosa para o trabalho colaborativo, graças a várias aplicações e pela capacidade de executar várias tarefas em simultâneo.
Apesar disso, o smartphone é também uma fonte de preocupação e distração constante. Vários especialistas já abordarem os problemas da falta de atenção, que ganharam inclusive novos nomes, nomeadamente o phubbing (junção das palavras snubbing (não ligar) e phone (telefone), para descrever o ato de ignorar alguém usando como desculpa uma atividade no smartphone). A concentração na tecnologia recente e não no ambiente circundante tem trazido vários desafios às organizações.
Mas associado a isso surgiu também um síndrome da dependência digital. A chamada nomofobia é a fobia causada pelo desconforto ou angústia resultante da incapacidade de acesso à comunicação através de aparelhos móveis.
À medida que aumenta a preocupação das empresas com os efeitos negativos do smartphone, criou-se mesmo um movimento que proibe o seu uso nas reuniões de trabalho.
Um grupo de investigadores canadianos quis explorar esta proibição e, de acordo com as conclusões do estudo publicado no trabalho Computers in Human Behavior, a proibição absoluta não produz os melhores resultados. “Nem todas as pessoas reagem da mesma forma. Alguns indivíduos podem sofrer de stress pelo sentimento de incerteza, por sentirem que não têm nenhum controlo sobre a situação”, explica ao El País Pierre-Majorique Léger, um dos professores da instituição de Montreal que realizou o estudo.
O responsável dá ainda alguns dados para limitar o problema: “algo que pode ajudar os gestores é, por um lado, estabelecer desde o início o tempo que uma reunião irá durar e, por outro, fazer uma pausa na reunião só para os funcionários poderem consultar o smartphone. Stefan Tams, outro dos autores, explica ao El País que a ideia do estudo surgiu quando os investigadores lerem artigos sobre a tal nomofobia.
“A questão é abordada há alguns anos, mas não se tem registado e qualificado os impactos, já que não afeta os indivíduos da mesma maneira. Por isso, queríamos saber quais os fatores que podem ter um impacto negativo numa reunião de trabalho”, refere Stefan Tams.
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O estudo foi feito a 270 jovens executivos de várias empresas em Montreal. A recolha de informação foi feita através de questionários e da apresentação de cenários diferentes de restrição de aparelhos móveis em reuniões de trabalho. Para isso, os especialistas basearam-se num modelo que analisa o stress no trabalho criado pelo investigador Robert Karasek.
Numa das conclusões do estudo, percebe-se que os efeitos negativos são menos significativos quando há uma certeza, acompanhada por alguma capacidade de controlo da situação. Léger comenta: “O que estamos a tentar fazer é apresentar às empresas as diferentes formas de abordar o uso de telefones móveis num ambiente de trabalho. Ao saber como essas pessoas podem continuar a ser produtivas num ambiente específico e como podem-se distrair menos”.
Noutro estudo feito por Samuel Veissière e Moriah Stendel, da Universidade McGill (também de Montreal), concluí-se que a dependência do smartphone não é o resultado de comportamentos anti-sociais, pelo contrário: os indivíduos procuram estar monitorizar as várias situações e ser monitorizados.
Daí que este estudo indique que ser incapaz de fazer essa ação, geralmente, provoca stress. O investigador Stefan Tams, prefere, no entanto, “falar sobre uso abusivo e não sobre dependência”. Isto porque “um smartphone tem muitas vantagens e as empresas sabem disso”.
Estes estudos foram feitos com financiamento do governo canadiano, para analisar várias questões relacionadas ao smartphone no local de trabalho.
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