Vestager no país de Trump: “Fazemos com que as tecnológicas sirvam os consumidores”

Vestager
Fonte: DR

Margrethe Vestager, Comissária Europeia para a Concorrência admitiu em entrevista a Kara Swisher, no Texas, estar preocupada com a inteligência artificial.

É dinamarquesa, tem 50 anos e é, atualmente a mais famosa das comissárias europeias, graças às multas bilionárias aplicadas às grandes tecnológicas e por promover práticas “mais democráticas” destas empresas cada vez maiores e mais relevantes na sociedade. Margrethe Vestager passou este domingo pelo festival de música e criatividade em geral SXSW: South By Southwest 2019, no Texas, para ser entrevistada pela jornalista especialista em tecnologia, Kara Swisher, conhecida pelas suas entrevistas aos grandes gurus tecnológicos das últimas décadas.

A comissária europeia tem sido uma força de bloqueio a certas práticas de empresas tecnológicas americanas de forte implementação na sociedade europeia, do Google ao Facebook, passando por Apple e Amazon. Sob a sua liderança, a Europa lançou inquéritos relevantes às práticas monopolistas da Amazon e multou a Google em impressionantes dois mil milhões de dólares (um valor superior aos impostos pagos pela gigante tecnológica na Europa).

Na conversa que decorreu num dos palcos do evento, promovida pelo site de tecnologia Recode, Vestager admitiu não estar nada preocupada com o facto de ser pouco popular junto dos executivos das grandes tecnológicas. Daí que indique que aquele que, espera, seja o seu legado: “trabalhar como equipa, para garantir que as empresas sirvam os consumidores e não apenas os mercados”. A comissária garante que é importante que a sociedade seja sobre pessoas e não sobre tecnologia, daí que não quer que a democracia europeia seja liderada pelo Facebook ou qualquer outra plataforma.

Vestager congratulou-se ainda pela conversa sobre os monopólios das grandes tecnológicas e os seus potenciais malefícios para os consumidores estar a começar a ganhar força nos EUA. A senadora Elizabeth Warren (e também candidata às presidenciais dos EUA em 2020) tem sido voz ativa contra os monopólios e este fim de semana também passou pelo festival no Texas para explicar porque espera separar o Instragram do Facebook, a Amazon da Whole Foods ou o YouTube da Google e as vantagens a nível de inovação nessas possíveis separações.

“É bom que a conversa sobre este tema esteja a ganhar força, se tivermos competitividade justa, então temos empresas a servir o consumidor, em vez de ser o consumidor a servir as empresas”, explicou a comissária, que acrescentou: “queremos que seja a nossa democracia a definir a direção da nossa sociedade e não os negócios”.

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Pagar impostos locais & as mensagens de Zuckerberg

Vestager quer também garantir que as grandes empresas tecnológicas paguem impostos em cada país. “Se elas criam valor naquele país, devem pagar impostos lá e não fugir a essa responsabilidade só por conveniência”. Já sobre as multas elevadas, explica que elas acontecem por práticas ilegais e as empresas pagam impostos “para contribuir para a sociedade onde fazem os negócios, e ambas são importantes”.

Já sobre as novidades anunciadas por Mark Zuckerberg a semana passada, dando maior foco ao Facebook para juntar os serviços de mensagens e trazer maior privacidade, Vestager diz apenas: “o primeiro passo para a mudança são boas intenções. É bom que empresa ouça o que o público tem a dizer”.

Já sobre a tecnologia atual que mais preocupa a comissária é bem geral, referindo-se à “inteligência artificial” como aquilo que será mais desafiante e lhe traz maior preocupação.

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Vestager não usa assistentes digitais (e pouco Google)

A comissária deu ainda alguns dados peculiares sobre os seus hábitos pessoais. Usa Google? “Acontece, mas é cada vez mais raro. Acabo por usar para ver o que mudou”. Já sobre o serviço de assistentes digitais, que se tem popularizado nos EUA sob a forma das colunas inteligentes, Vestager garante categoricamente: “Definitivamente não, não uso. Porque deveria usar?” Ao que Swisher responde: “para ver quanta manteiga está numa onça”. E Vestager devolve: “E por isso pagaria com a sua vida?”

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