Está há pouco mais de um ano em Portugal, tem já milhares de condutores registados e cresce todos os meses sem parar – em 2019 querem chegar a mais cidades além de Lisboa, Porto e Braga e ao Algarve. O responsável da Taxify em Portugal, David Silva, explica-nos o que o surpreendeu na jovem empresa onde “a experiência não é importante”.
Sabia que a jovem empresa estónia Taxify (fundada em 2013) abriu operações em África sem os seus responsáveis nunca lá terem ido? David Silva tem 30 anos e é o mais velho da sua equipa, numa empresa onde a motivação dos jovens adaptáveis a todas as situações é mais valorizada do que a experiência. Com pouco mais de um ano na empresa, explica-nos a cultura que o tem cativado e permite ter um crescimento todos os meses, mesmo no inverno. O melhor momento do primeiro ano de operações? A Web Summit.
Ficamos também a saber porque é que em Portugal imperam os gestores de frota para fornecer os serviços para a Taxify e não propriamente o motorista individual dono do seu próprio carro (algo que é mais frequente noutros países). E percebemos como a Taxify quer continuar a crescer graças ao valor mais baixo de comissão (15%) neste tipo de serviços de mobilidade.
A operação em Portugal tem milhares de condutores registados e centenas de milhares de clientes. Além de Lisboa, Porto e, desde novembro, Braga, querem rumar agora para o Algarve ainda este ano e acrescentar mais cidades pequenas às suas operações.
Desde o primeiro mês, de janeiro de 2018 até dezembro de 2019, registaram um crescimento de 865%. Noutros dados peculiares, em Lisboa, o Marquês do Pombal, o Cais do Sodré e o Aeroporto de Lisboa são os destinos mais comuns dos utilizadores. No Porto lideram a Avenida dos Aliados, Rotunda da Boavista e Estação de Comboios Campanhã.
Têm mais de mil motoristas registados, com uma pontuação média de 4,8 e, na viagem mais longa registada até hoje, o motorista percorreu um total de 630,89 km e demorou 9 horas e 48 minutos de Lisboa ao Porto e novamente de regresso à capital.
Os rendimentos dos motoristas (excluindo a comissão de 15% da própria Taxify) podem variar entre 800 – 2000 €/mês sendo que depende de vários fatores: tempo que trabalham; altura do ano, bónus de incentivo que estes possam ganhar, nº de plataformas para as quais trabalham.
Para concluir este conjunto de números sobre a plataforma, a nível global, a Taxify já atingiu os 15 milhões de utilizadores e 500.000 motoristas já usam a plataforma como emprego a tempo inteiro ou segundo emprego. No total, a empresa tem uma equipa acima das 800 pessoas.
A ENTREVISTA:
Há quem se queixe que neste tipo de serviço é difícil colocar o NIF nas faturas, só mesmo por e-mail…
Estamos a desenvolver o sistema para ter o serviço de fatura com NIF personalizado de forma automatizada, mas isso é um problema único em Portugal. Por o NIF na fatura é algo que só temos em Portugal e custa sempre explicar à equipa global o funcionamento da lei portuguesa. Como é algo especifico para Portugal, não tem tido prioridade este sistema automatizado, mas está em desenvolvimento. Neste momento é só enviar um email e recebe-se depois a fatura com o NIF. Até temos duas pessoas só para fazer isso.
Que números da operação já com um ano podem divulgar?
Temos algumas restrições para divulgar números. Começámos a Taxify em Portugal há pouco mais de um ano, dia 10 de janeiro de 2018. Temos crescido todos os meses, embora seja um mercado sazonal, por isso o tipo de crescimento varia. Mas o normal é chegar ao inverno e o mercado desce, mas nós estamos em contra ciclo, porque continuamos a crescer. Neste negócio, para se ter um bom serviço também temos de ter escala. No início, quando ainda temos poucos motoristas, é um ciclo um pouco vicioso. Já ultrapassámos esse ponto, o que é ótimo. Temos já, por exemplo, pouco tempo de espera, melhor ou igual a outras plataformas. Estávamos à espera de cair um bocado no crescimento em dezembro ou janeiro, mas não, temos mantido. Começámos a operação em Lisboa, entrámos no Porto em agosto. No Porto também já temos uma boa escala, com serviço consistente e baixos tempos de espera. Já temos muitos motoristas no Porto, embora em Lisboa tenhamos mais até porque é um mercado maior onde estamos há mais tempo. Chegámos a Braga em novembro.
E o tipo de serviço mudou?
Abrimos duas categorias novas. Tínhamos só o Taxify normal, agora também temos o XL para sete pessoas, que dá jeito para grupos maiores. Temos ainda o Confort, para carros com mais qualidade que faz subir os preços.
Entraram na altura como único concorrente direto da Uber. Há muitos condutores que fazem as duas plataformas. Como se processa essa relação, é assumida?
Para nós de forma natural. Não exigimos exclusividade, claro que em termos de operações temos de dar treino aos motoristas para entenderem o que implica estarem a trabalhar com duas aplicações diferentes, por exemplo, não podem fazer viagens ao mesmo tempo nas duas. Imagine que chama um motorista e ele está a fazer viagem noutra plataforma. Vai começar a vê-lo distanciar-se de si e é a pior experiência para um cliente, que é estar com pressa e ver o motorista a ir-se embora. Aí, nas operações, tentamos educar bem os motoristas como devem usar bem duas ou até três ou quatro aplicações se fizerem outros serviços. Achamos que não faz sentido trabalharem em exclusividade e para o motorista também faz sentido, porque o que ele quer é ter o menos tempo possível ocioso, para rentabilizar bem o período que quer dedicar a esse trabalho. Quanto mais fonte de clientes tiver, melhor.
Estão a planear ir para outros sítios além de Lisboa e Porto?
O natural é irmos já este ano para o Algarve. E podemos ir para outras cidades pequenas do país, além do Algarve como região.
A nível de operação, qual foi o evento que vos deu um pico maior de utilização?
Foi, sem dúvida, a Web Summit. Foi a semana mais intensa. Depois também tivemos a passagem de ano que é um dia com muitos pedidos. Em termos de percentagem de crescimento a semana maior foi a Web Summit. Depois, por acaso, temos alguns picos por campanhas de descontos, mas há uma tendência para que a procura se mantenha depois desses picos. E vimos isso na Web Summit, a procura manteve-se bem elevada depois da Web Summit, porque as pessoas habituaram-se ao serviço. Chegámos de ter dias após o Web Summit com maior fluxo do que tivemos durante a própria Web Summit, as pessoas habituam-se e chamam outras pessoas.
A nível de negócio, já é sustentável em Portugal? Ou não há preocupação para que dê já dinheiro?
Os negócios de software são um pouco diferentes dos negócios tradicionais, porque numa fábrica ou em ativos físicos, pensam muito no lucro imediato, no nosso caso não. Há um investimento também na aquisição do cliente. Pensamos no crescimento rápido. Temos investidores, eles investem a pensar que vão ter retorno, mas a fotografia atual prefiro não comentar, porque não tenho dados suficientes e também olhamos para a rentabilidade como um todo e não país e país, por isso não tenho dados de Portugal a nível de sustentabilidade que possa dar.
Como é que foi a sua entrada na Taxify e o seu percurso até aqui chegar?
Trabalhei em startups desde que terminei o curso de engenharia e gestão industrial (na FEUP, da Universidade do Porto), há sete anos. Fiz o último ano do curso na Alemanha, em Erasmus, depois fiz a tese e comecei a trabalhar na Siemens na Alemanha durante seis meses. Quis ficar uns anos fora do país e um dos meus mentores dizia-me sempre para trabalhar em startups, porque fazia sentido por ser uma boa aprendizagem. Surgiu esta oportunidade de trabalhar na chamada Rocket Internet, que é a maior incubadora de startups do mundo e fui para Londres para trabalhar por lá onde trabalhei entre outras com uma startup de entrega de comida online. E adorei! Foi logo uma paixão enorme pela responsabilidade que se tem, pelo crescimento imediato e ao estar a controlar desde logo a empresa sentimos o impacto do que fazemos. Depois fui trabalhar para uma consultora, porque também tinha interesse para saber como era, mas fiquei sempre com o bichinho das startups. Então, a certa altura, contactaram-me da Taxify, quando quiseram lançar o serviço cá em Portugal. Eu até tinha como objetivo de longo prazo começar algo de raiz e isto veio de encontro ao que eu pretendia na altura.
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E o que o surpreendeu na empresa?
Estou há um ano. E há um ano éramos 200 a 300 trabalhadores, hoje somos mil a nível mundial. Surpreendeu-me a rapidez com que se faz as coisas e se altera o que tem de ser alterado, mesmo muito rápido. A rapidez com que se abre em novos países, por exemplo. Mesmo a rapidez de ter sido contratado foi frenética. Tive numa segunda a primeira entrevista e na outra segunda estava a trabalhar. Começámos a operar oficialmente em dois meses. Em dois meses tínhamos 600 motoristas recrutados e estávamos abertos. Aqui, realmente, há uma rapidez enorme. Outra coisa, que nunca me tinha apercebido antes, mas é engraçado, a empresa toda é quase toda a gente jovem. Não tenho problema em trabalhar com pessoas mais velhas, mas aqui são quase todos jovens e quase tudo sem experiência. Uma vez apercebi-me numa talk interna da empresa, que foi mencionado que o importante nesta nova era nas empresas são pessoas que tenham drive (motivação), que queiram aprender e fazer. Porque a experiência cada vez se está a tornar mais não útil. As necessidades variam muito mais rápido hoje, por isso é muito mais importante ter uma pessoa que queira aprender e consiga aprender quer programação, como estar a falar com um motorista. Tem é de se adaptar muito rápido à mudança do próprio trabalho e isso é das maiores forças da Taxify, é que tem pessoas que não são especialistas num ponto especifico, mas adaptam-se facilmente e trabalham em qualquer coisa com curiosidade.
O David é dos menos novos da sua equipa, então?
Sim, claro. A empresa como um todo é muito jovem e eu considero-me um velho na Taxify e tenho 30 anos. Mas o foco principal é que toda a gente tenha esta força em querer aprender e querer adaptar-se. Já agora, outra coisa que me surpreendeu foi perceber que a cultura da empresa favorece que as pessoas sejam diretas ao assunto e data driven (motivados pelos dados analíticos), mas isso cada vez mais as startups e as empresas que vingam são assim, não têm outra hipótese. Temos de justificar qualquer nova ideia ou alteração com dados concretos. Se der uma ideia e não o justificar com dados, leva-se logo na cabeça. A pergunta seguinte é: Mas porquê? Que dados existem para o justificar? Isto já está na cultura da empresa.
Lembra-se de mais alguma coisa que distinga a jovem empresa?
Uma última coisa que me impressionou foi o capacidade – e acho que cada vez mais vai ser assim – de se trabalhar à distância. O nosso CEO, o Markus Villig, fala muito como é que abriram cidades em África. Na Nigéria, que era impensável, era um perigo um rapaz da Estónia com 24 anos e com 10 ou 15 pessoas na sua estrutura e de repente queriam abrir operação em África. Como? E abriram sem ir lá, só a contratar à distância, foram lá passados dois meses quando aquilo já estava a funcionar. Estabeleceu-se uma maneira de trabalhar na empresa à distância que é poderosa para agir rápido, embora também tenha os seus inconvenientes que vamos depois limando. Para tomar uma posição rápida não tenho de ir à Estónia.
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Onde estão a nível global?
Neste momento já estamos em 25 países, vários na Europa. Depois somos fortes também em África, na Austrália e na América Central. E continuamos a crescer muito, mesmo em funcionários.
Como é feita a relação entre motoristas e a vossa empresa?
A lógica mundial é muito Taxify-motorista individual. E a lógica que nasceu nas primeiras empresas nos EUA com este tipo de serviços era para que cada um pudesse o ser o seu carro para fazer o serviço. É a lógica da partilha. Depois, aplicado na prática com legislação e algumas condicionantes acaba por não se verificar. Mas nos outros países é mais esse lógica de motorista individual, em Portugal, é curioso, porque surgiu uma entidade nova, que são os gestores de frotas. São pessoas que criam uma empresa com vários carros, ou alugam esses carros, e contratam os motoristas para trabalhar para eles. Isto acontece por várias razões, muitas vezes o motorista pode não ter dinheiro para investir num carro, ou porque o negócio em escala é mais rentável e por isso têm mais vantagens do que o motorista individual. Cerca de 95% da nossa frota em Portugal é feita por gestores de frota. Agora com a nova lei esta entidade já está incluída, chama-se o operador TVDE, ou seja, existem três entidades, a plataforma TDVE, que somos nós, o operador TVDE, que é a empresa que vai fornecer o serviço e responsável pelos seguros, etc, etc, e depois o motorista TVDE que é uma pessoa que trabalha para esta empresa.
Que tipos de gestores de frota é que existem e que vantagens eles tiram do serviço?
Os gestores de frota podem ir dos cinco carros, até aos 200. E há vários modelos: pode ser um gestor de frota que o foco são as operações, daí alugar os carros e gere os motoristas; pode ser empresas que já têm um rent a car e têm um ativo e querem rentabilizar os carros de outra forma; há agora empresas que olham para isto como negócio de compra e venda de ativos, compram carros em escala, mais baratos, e vendem-nos depois em segunda mão uns meses depois, e portanto põe os carros a rentabilizar nestes serviços.
E como se processam os pagamentos? O motorista recebe sempre uma percentagem de uma viagem o não o valor completo neste sistema?
Há diferentes modelos. O primeiro é esse, em que os gestores de frota recebem da Taxify o valor por cada viagem e pagam aos motoristas o que é combinado entre eles. Imaginamos que o valor da viagem é 10 euros. Nós tiramos uma comissão de 15% e damos o resto ao gestor de frota. E ele tem uma percentagem que acorda com o motorista, 30 ou 40% das viagens. Isto é um modelo, o motorista recebe uma percentagem do valor que o gestor de frota recebe. Depois há outro modelo, que é o gestor de frota aluga o serviço como pacote já com seguros, ao motorista, que é quem recebe depois da Taxify e gere o tempo de uso do carro. E aí o motorista tem um modelo mais de merytocracia. Começamos a ver mais vezes este segundo modelo, porque o primeiro exige um maior controlo. Depois os pagamentos em concreto são feitos por faturas normais aos gestores de frotas, mas de uma forma ou de outra, motoristas e gestores de frota têm de ter a sua empresa. A lógica de faturação é que a empresa que tem o carro emite uma fatura ao cliente, nós Taxify tiramos 15% para nós do valor, é um serviço.
Que requisitos há para este tipo de serviço?
Os seguros para este tipo de transporte são específicos, são de transportes de passageiros, que são mais caros. O seguro do carro é mais caro do que normal e estas empresas de gestores de frotas ou operadores de TVDE têm depois de responsabilidade civil e acidentes pessoais e penso que é estas, além da licença de transportes de passageiros.
O que distingue a Taxify?
A nossa taxa pelo nosso serviço é a mais baixa comparada com as outras plataformas, os tais 15%. A taxa mais alta são 25%, que é o que pratica a Uber. Essa é a nossa grande vantagem. Podemos dizer ao motorista que temos comissão mais baixa, cerca de 10% menos do que a concorrência.
Este modelo, têm ideia de quanto pode dar um condutor numa semana? E existe um limite máximo por horas de condução por condutor?
Sim, está determinado por lei, que vai ser exigido, de 10 horas por dia por condutor. Sobre o valor de pagamento varia muito com as horas que trabalha, o valor de cada viagem e, claro, quando melhor conhecer o sistema e esperto o motorista for, mais hipótese tem de ganhar mais. Varia o modelo em que trabalha, se aluga o carro e gere ele o tempo ou trabalha para um gestor de frota. O rendimentos médio dos motoristas (excluindo a comissão de 15%) pode variar entre 800 e os 2000 €/mês, sendo que depende de vários fatores: tempo que trabalham; altura do ano, bónus de incentivo que estes possam ganhar, número de plataformas para as quais trabalham.