FairTube. Criadores unem-se para pedir transparência ao YouTube

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    REUTERS/Toby Melville

    Com críticas duras às políticas do portal, foi criado o primeiro sindicato de youtubers. Pelo caminho, conquistou o apoio do maior sindicato europeu.

    O fenómeno tem ficado conhecido como Adpocalipse: a queda abrupta das receitas publicitárias dos vídeos no YouTube. A situação tem sido mais intensa nos últimos anos, com os criadores de conteúdos a apontar críticas à Google, dona do YouTube, pela falta de transparência nos critérios que levam a que um vídeo seja desmonetizado – impossibilitando a apresentação de anúncios e criação de receita.

    A situação ganhou proporções de relevo quando youtubers com milhões de subscritores acusaram a tecnológica de não indicar de forma detalhada o que contribui para a desmonetização ou para a queda de visualizações. O alemão Jörg Sprave, criador do canal Joerg Sprave, dedicado a fisgas, é um dos críticos à atividade da plataforma de vídeo.

    O canal deste alemão de 54 anos pode parecer um conteúdo de nicho, mas tem mais de dois milhões de subscritores e, ao longo dos anos, já gerou 328 milhões de visualizações. Sprave decidiu passar das palavras à ação e criou um grupo no Facebook, para juntar todas os criadores com o mesmo pensamento.

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    Quando percebeu que o problema era comum a milhares de pessoas, criou o sindicato dos youtubers e lançou a iniciativa FairTube. A campanha tem várias propostas, desde o acesso aos critérios de decisão que podem afetar a desmonetização dos vídeos, até um pedido de um ponto de contacto humano ou a oportunidade para contestar decisões que possam ter consequências negativas, como a queda de receitas publicitárias. São já 23 mil pessoas a fazer parte do sindicato.

    A iniciativa ganhou projeção internacional com o apoio do maior sindicato alemão, o IG Metall. Apesar de ser um sindicato metalúrgico, é conhecido por atuar em várias outras áreas de atividade, desde que, em 2016, abriu as portas aos trabalhadores independentes, crescendo para 2,3 milhões de associados.

    Six Silberman é responsável pelo projeto Crowdsourcing do IG Metall e explica que “definitivamente” deveria olhar-se com atenção para as profissões criadas pelas plataformas digitais e à forma como a tecnologia está a decidir quem recebe mais ou menos.

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    “Os operadores das plataformas, diretores de empresas, sindicatos e os legisladores devem desenvolver uma política comum para perceber como criar uma gestão algorítmica socialmente responsável ou isto vai ter efeitos negativos na economia”.

    A Youtubers Union e o IG Metall deixaram o ultimato à Google: se não respondesse ao pedido de negociação até ao dia 23 de agosto, avançaria com um pedido à União Europeia, para intervir na discussão. A resposta chegou a 26 de julho, mas o sindicato considerou a declaração vaga: “Estamos profundamente interessados no sucesso dos criadores”, mas “os criadores de conteúdos para o YouTube não são empregados da plataforma, por meios legais”, lê-se na declaração.

    A Google convidou também o sindicato para uma reunião. “Ainda não está marcada uma data para o encontro, mas está a ser tratada. Vamos reunir com a gestão da Google e YouTube em Berlim. Os próximos passos vão depender da posição deles às nossas propostas”, aponta Six Silberman.

    Panorama em Portugal

    Miguel Sabino, criador da Thumb Media, empresa portuguesa certificada pelo YouTube e que gere conteúdos audiovisuais nas plataformas digitais, reconhece que o panorama português não foge à regra e que “é necessário que o YouTube melhore a transparência no processo de desmonetização de um vídeo”.

    Reforçando que “os criadores de conteúdos precisam de saber com clareza que critérios contribuem para a desmonetização”, o responsável da Thumb Media reconhece que a desmonetização é um tema muito comentado na comunidade portuguesa de youtubers, mas “até fevereiro de 2017, não tinha visto um único vídeo a ser desmonetizado”.

    Apesar de considerar que “este movimento de sindicalização dos youtubers não faz sentido porque não há uma relação empregador/empregado”, Miguel Sabino acredita que é benéfico haver união entre quem trabalha no meio. “Faz todo o sentido que os criadores de conteúdos se unam por objetivos comuns e que falem a uma só voz. Vejo mais esse caminho pela via da associação e não pela sindicalização”.

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