Há vida além do Fortnite. “Técnicas dos jogos podem ajudar a sociedade”

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    André Santos, lidera uma equipa de gamification na consultora Bee Engineering e já passou pela empresa de videojogos EA Sports e é um dos organizadores do evento Games for Good, que começa esta sexta-feira. “É onde o mundo dos videojogos é usado para ajudar na realidade”.

    Chegou agora à terceira edição e nunca teve tantos parceiros e interessados quanto agora. “Tem sido um percurso sempre a subir e ganhar força”, explica-nos André Santos. O evento de responsabilidade social que decorre de 5 a 7 abril, no Campus de Santos, em Lisboa, tenta capitalizar “o sucesso que os videojogos têm tido nos últimos anos em tantas gerações”. É aí que entra o sucesso estrondoso do Fortnite.

    André Santos não tem dúvidas: “A gamificação pode ter um papel interventivo na sociedade e nas empresas”. Nesse contexto, o Games for Good é o que chama de “gamejam” com cariz de responsabilidade social, ou seja, “é a aplicação das técnicas e mecânicas dos videojogos aplicadas ao mundo real, com estudantes a encontrar soluções que nos ajudem no dia a dia e que ajudem a sociedade em geral”.

    E que qualidades para a sociedade pode um jogo como o Fortnite ter? O especialista em videojogos explica que, na sua essência, este jogo “assenta na criatividade dos jogadores”. “Tal como o Minecraft [jogo que permite construção usando blocos dos quais o mundo é feito], a ideia do Fortnite é que o jogador que explora aquele mundo, seja criativo e resolva problemas para conseguir ganhar, isto apesar de haver adversários e ter combates”, explica André Santos.

    O facto dos jogadores se tornarem “autodidatas motivados, porque descobrem o melhor engenho e tática que os ajuda a ganhar” é uma das caraterísticas gerais dos videojogos que permite transpor isso para a realidade. “A gamification usa estas mecânicas dos videojogos e transpôe para o desempenho e motivação das pessoas do mundo real”, acrescenta o responsável.

    Depois de ter passado pela EA Sports, tanto em marketing, como no papel mais desejado, de testing – experimentador de jogos -, em Madrid, André voltou a Portugal. Primeiro passou por projetos nacionais como o da Bica Studios, onde foi product manager durante três anos. Mais recentemente aceitou o desafio da consultora francesa presente em Portugal, Bee Engineering, para liderar uma divisão de gamificação, onde colocam as mecânicas de videojogos para motivar funcionários em certos projetos e também fazem os seu próprios videojogos para parceiros.

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    Um evento nacional (e não só) de videojogos

    Voltando ao evento, o Games for Good é promovido pelo IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia e decorre em parceria com a Bee Engineering, a Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI) e A Ludoteca.

    Este ano há 80 jovens participantes e novas instituições de solidariedade social confirmadas: Comunidade Vida e Paz, Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil, Associação Corações com Coroa, Fundação Infantil Ronald McDonald e UPPA – União para a Protecção dos Animais. As equipas vão apoiar, através do desenvolvimento de jogos, as instituições e organizações sem fins lucrativos presentes, a encontrar as melhores soluções para as suas necessidades reais recorrendo à tecnologia.

    Como é habitual, há a participação de dois tipos de público distintos: os estudantes do ensino secundário e superior e os profissionais do setor ou entusiastas da área de desenvolvimento de jogos. “Organizamos tudo em eventos regionais e um grande evento nacional”.

    Entre dezembro de 2018 e março de 2019, nas escolas secundárias participantes, decorreu o torneio regional e, depois de eleitas as equipas vencedoras, chega agora o evento nacional de 5 a 7 de abril, com a participação das equipas eleitas e dos profissionais e entusiastas.

    A parte de competição de 48h tem como objetivo proporcionar aos participantes um ambiente altamente criativo e interativo e divide-se em duas categorias: Games for Good Pro, limitada a 50 participantes, dedicada a profissionais e a estudantes do ensino superior, a partir dos 18 anos; e Games for Good Junior, dedicada a estudantes do ensino secundário, do 10º ao 12º ano.

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    Como é que tudo nasceu?

    O Games for Good nasce no âmbito da licenciatura em Games & Apps Development do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia. A ideia do curso é de adquirir competências essenciais a uma carreira internacional de sucesso na indústria dos videojogos, daí que seja lecionado em inglês e seja um programa que prevê um semestre de mobilidade internacional obrigatório, durante o qual os estudantes podem frequentar, entre outras Universidades, a prestigiada Media Design School da Nova Zelândia, escola da rede Laureate International Universities.

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