Uma descoberta recente vai melhorar e dar novas funcionalidades aos sistemas automatizados, revela em entrevista a israelita Aya Stoffer, vice-presidente de inteligência artificial da IBM.
É a líder da IBM para a inteligência artificial (IA), empresa onde está há 21 anos depois de uma passagem pela NASA. Chama-se Aya Stoffer, é israelita e com 55 anos admite que a humanidade “tem assistido em pouco tempo a avanços incríveis”. Apesar disso, esta mulher numa posição que “ainda é rara”, a da liderança numa área tecnológica, admite “que as expectativas das pessoas e dos filmes costumam ser demasiado ambiciosas – “inovar demora mais tempo”.
Depois de ter explorado a pesquisa online, em 2007 dedicou-se ao projeto Jeopardy que deu origem a um dos programas mais determinantes na IBM atual, o sistema de IA Watson – que começou a por sistemas a dar as respostas do jogo Jeopardy. Hoje o Watson é usado em todo o tipo de funcionalidades, dando respostas a partir de vastas bases de dados em linguagem natural, que ajudam a tomar decisões em áreas tão diversas como a saúde ou culinária.
Neste contexto, o que a entusiasma mais agora? “Os sistemas de IA são mesmo mais básicos que um gato a nível de perceção e compreensão, mas há uma nova tendência que está a mudar essa realidade”.
Aya Stoffer explica-nos que o que foi feito nos últimos 15 anos e permitiu criar sistemas como a Siri, Google Assistant, Watson ou Alexa, foi usar uma estratégia de inteligência artificial que usa redes neuronais – que tentam imitar em parte o processo do nosso cérebro, treinando sistemas a otimizar relações entre dados obtidos (são precisos muitos dados) para prever resultados: determinando, por exemplo, se o que está numa foto é mesmo um gato.
“Nos anos 1970 e 80 usava-se a chamada inteligência artificial simbólica ou lógica, era feita à base de regras lógicas para alimentar os sistemas e essa foi a altura do inverno do IA, onde não se avançou quase nada”.
O que os especialistas da IBM e de outras empresas estão agora a construir é o que se chama de rede lógica neuronal, “onde os nós na rede são como portais de lógica que podem produzir raciocínio dentro da rede neuronal alimentada com muitos dados”.
Confuso? A especialista explica em termos mais simples: “a IA atual precisa de milhares de fotos de gatos para reconhecer que é um gato ou de milhares de situações em que alguém meteu a mão no fogão quente e se queimou, mas uma criança não precisa disso tudo para saber o que é um gato ou como queima a mão. Se os pais lhe disserem que os animais peludos com orelhas pontiagudas e bigodes são os gatos ou lhe explicarem que se colocar a mão no fogão quente se vai queimar, ela fica a saber por lógica (o que não invalida que queira experimentar)”.
É esse processo humano que a IA atual não tem e, havendo a junção entre as redes neuronais atuais com o processo lógico de regras, “vamos ter IA com o raciocínio e perceção que tem faltado”.
Tudo isto será fulcral para os sistemas conversacionais, que atualmente “ainda não percebem a conversa”, são apenas treinados para mapear o que dizemos com correspondências em bases de dados enormes. Esta descoberta já está a alimentar o projeto Debater, da IBM, que permitiu criar um sistema que consegue discutir com humanos fora da zona de conforto da IA atual, que é em sistemas de jogos com regras definidas. “A subjetividade de um debate é assim o palco perfeito.
O Debater vai começar a dar ao Watson a análise ao sentimento com que as coisas são ditas, para determinar logo a intenção das frases e isso começa com resumos de informação para tirar o sumo do que é mais importante e demonstra raciocínio. Em teste está um sistema que resume milhares de comentários (e suas intenções) para a Bloomberg e para a cidade de Lugano, na Suíça. “Tanto as empresas como os governos querem perceber o que as pessoas querem e estes sistemas de resumo conseguem fazer isso como nunca se fez”, diz – o Facebook estará a testar uma solução semelhante para resumir notícias, soube-se esta semana. Esta tecnologia pode trazer ganhos em muitas áreas, do chatbot do banco à assistente digital, mas também criar novos serviços, nunca antes vistos.
Já sobre ser mulher na tecnologia, Aya Stoffer admite melhorias nos últimos anos, mas sugere que em vez de quotas para lugares se criem quotas para entrevistas de emprego, “porque os currículos nem sempre ajudam as mulheres a mostrarem porque são indicadas para um cargo na tecnologia”.
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